FILHOS BASTARDOS (1/2)

FILHOS BASTARDOS (1/2)

INICIALMENTE, PARA O PESSOAL  DA VARIG, QUEM VINHA DA REAL  ERA  CONSIDERADO FILHO BASTARDO  (CONCEBIDO FORA DO CASAMENTO) 

QUEBRAR ESSE TABU REPRESENTAVA MISSÃO INGLÓRIA PARA BERTA E LHE TIRAVA HORAS DE SONO  ( ELE JÁ ERA INSONE POR NATUREZA)

As máquinas se ajustavam com perfeição  –  mas as pessoas não eram máquinas.

Falando aos membros do Colégio Deliberante, em dezembro de 61, Berta confessou sua preocupação quanto a absorção do contingente humano que representava aquisição da Real Aérovias, pedindo a colaboração de todos ao intrincado assunto que lhe causava preocupação – até que ponto a Fundação seria atingida com o ingresso tão elevado, na missão de distribuir as mesmas benesses que norteavam sua existência e como seria aceita tamanha introdução, capaz de por em risco os méritos conquistados?

No episódio da compra da Real, a Varig tornou-se a única companhia aérea brasileira a dominar o mercado nacional,  onde a Real dominava, num “avanço desmesurado, ainda fora de tempo” capaz de causar alguma dificuldade no manejo dos negócios- enfim, estava-se invertendo o adágio popular -” O menor engole o maior.”

Berta não queria, querendo. A aquisição desordenada de uma empresa de grande porte –  a beira da morte –  representava figura capenga do menor engolindo o maior, obrigando Berta a fazer “das tripas o coração” Na enorme operação  que transformou a Varig regional em gigante, muita água rolou pela ponte, novela escrita  em capítulos históricos, digno de romance, que eu iria acompanhar de perto.

Fora admitido na Varig em julho de 54, já vivendo a experiência do suicídio de Vargas e quanto tudo isso representava para a Varig. Em 1958, tendo Berta com pulso de ferro defendendo os interesses da Varig, segui de perto  o desfecho de uma refrega entre dois gigantes da nossa aviação comercial – o líder da Varig, rebatendo ataques recebidos de Lineu Gomes, tendo frase lapidar de repercussão na mídia – ” Nem as dificuldades, nem malícia, porém, conseguiram acorcundar a Varig  (em alusão ao concurdinha símbolo da Real) que manteve o Ícaro (símbolo da Varig) de peito ao vento e de cabeça erguida, bem representando o espirito da companhia e  caráter dos seus homens”.

Em 31 de dezembro de 1961, Berta fez uma declaração histórica perante os membros do Colégio Deliberante da Fundação, esclarecendo em detalhes e oficialmente, o episódio da compra da Real: “Atendendo a um apelo do ex-presidente Jânio  Quadros, entrou a Varig em entendimentos com suas congêneres internacionais no sentido de um maior entrosamento das linhas exteriores, do que resultou primeiro na compra de 50 % das ações da Aerovias Brasília e mais tarde a aquisição do  Consórcio Real. através da Fundação. Assim, a cargo da Varig,ficaram cerca da metade do volume dos transportes domésticos e cerca de 60% do volume das linhas internacionais brasileiras. No discurso de 62, afirmava Berta- “terá de ser reestruturado esse  enorme organismo que tem linhas desde a América do Sul, para vários pontos dos Estados Unidos até a Ásia e no qual funcionam cerca de 100 aviões e trabalham mais de 10 mil funcionários”.

Segundo Berta, a Fundação intervirá no assunto através do controle de 50% das ações da Varig. “O empenho em que a Fundação terá que se esmerar  nos próximos anos, será o de criar serviços substanciais dentro da organização da Real, cujo funcionalismo deve vir a gozar dos mesmos benefícios que atingem o pessoal da nossa empresa”. Berta tornava público, pela primeira vez, a revelação de um fato que lhe trazia enorme aflição, capaz de envolver a Varig num  beco sem saída” Como se daria a absorção de um contingente tão volumoso, heterogênico, desgastado por constantes mazelas internas, reforçadas por discussões públicas entre seus líderes, incluindo dificuldades no âmbito trabalhista. Eram detalhes que se bateriam com o espírito disciplinado, obreiro,  do seu pessoal –   e até que ponto a Fundação seria atingida na difícil missão de distribuir para os” filhos bastardos” as mesmas  benesses, oriundas de vida sem atribulações, garantindo, até então, continuidade de uma existência  incapaz de empobrecer a raiz ?

ÚLTIMOS MOMENTOS

ÚLTIMOS MOMENTOS


A morte de Berta 

As homenagens póstumas tiveram inicio em pleno hangar da manutenção no Aeroporto Santos Dumont , superlotando suas dependências seguindo o corpo na parte da tarde para Porto Alegre, onde seria sepultado.

Berta manteve-se consciente, sabendo que seus últimos momentos tinham chegado. Tudo o que a equipe médica alertava, finalmente aconteceu – O coração do jovem guerreiro havia dado seus derradeiros sinais de enfraquecimento, numa luta inglória, marcada pela presença do derradeiro infarto que o tiraria, definitivamente, do nosso convívio. A decisão de passar o bastão para seu sucessor estava tomada. e seria anunciada na reunião do Colégio Deliberante da Fundação dos Funcionários, em Porto Alegre – que ele preparava naquele domingo, com grupo de auxiliares. Esta seria sua derradeira contribuição num ciclo de trabalho que parecia não ter fim – sua derradeira mensagem aos auxiliares que o cercavam foi incisiva – A VARIG NÃO PODE PARAR !

Médicos alertaram que o presidente da Varig não sobreviveria ao excesso de trabalho  – O 4º infarto venceu!

A manchete (ZH) acertava na mosca. Berta faleceu em seu gabinete de trabalho na presidência da Varig, avenida Silvio Noronha,365. A morte foi quase imediata apesar da pronta assistência do serviço médico da Varig e do seu próprio cardiologista, deixando todos nós, da Varig, em estado de comoção. Como era de hábito, Berta chegou a sede da empresa às 8 horas da manhã, passando a despachar normalmente. Embora se queixasse a alguns auxiliares mais íntimos que “se sentia um pouco cansado, estafado mesmo”,  continuou trabalhando até o meio-dia, quando almoçou no próprio gabinete, pois estava organizando o balanço das atividades da empresa, com vistas para o próximo ano. Preparava-se, também, para uma reunião à noite mesmo, quando discutiria assuntos ligados ao fim do presente exercício e as festas dos funcionários da Varig neste Natal.

Às 17 horas Ruben Berta sentiu-se mal. confessou-se tonto e chegou a preocupar suas secretárias, Nílvia e Valência. Foi providenciada a presença  do doutor Fernando Dias Campos do Serviço Médico da empresa, enquanto o   cardiologista particular de Berta, dr. Genival Londres, da Clínica São Vicente, era chamado às pressas. Há alguns anos o presidente sofrera um inicio de enfarte, ficando hospitalizado. O cardiologista providenciou um eletrocardiograma, ao tempo em que Ruben Berta dava instruções aos seus auxiliares para que mantivessem os trabalhos em  rÌtmo de rotina, salientando que a Varig não podia parar.

O Vice-presidente, Erik de Carvalho  (que assumiria provisoriamente o lugar deixado por  Berta), anotava todas as instruções e ouvia, atentamente, os últimos pedidos que este lhe fazia no sentido de sempre projetar o nome da Varig e acelerar todos os planos com vistas ao futuro, particularmente e incorporação de três novos jatos Boeing esperados para os próximos dias. Estes aviões iriam completar a frota da Varig, ligando o Rio a Europa em voos diretos.

Berta levou Erik até a fabrica da Boeing onde a empresa havia adquirido três Boeing – 707-300, passando ao futuro presidente as tratativas da aquisição- (doisforam entregues em 28 de dezembro de 1966 e um terceiro em março de 1967.

Às 18 horas presidente da Varig ante a consternação geral de todos os seus auxiliares que o assistiam, faleceu. Ele morreu sem ver a esposa e filhas, tão rápido sobreveio a morte após o enfarte. Chamada às pressas em seu apartamento no Leblon, Dona Wilma chegou após três minutos do marido expirar. Segundo os colegas presentes nos seus últimos momentos, inclusive os médicos, ele estava consciente que não sobreviria ao ataque que o acometera. Manteve-se lúcido até o último instante, só lamentando não ter completado seu maior sonho, que era o de fazer a Varig dar a volta ao mundo, fato previsto com a ligação Los Angeles – Tóquio, para agosto de 1967. A partir daí pensava em retirar-se das suas atividades e  ” cuidar do gado e das galinhas” seu maior entretenimento nas raras horas de folga, pois não parava um momento, viajando constantemente para todas as partes do mundo.

A MORTE DE BERTA

A MORTE DE BERTA

 

“O dia amanheceu tristonho e uma chuvinha miúda caia de quando em vez. A natureza parecia chorar a morte do grande líder. Parecia sentir conosco a dor irreparável de sua perda. Ruben Berta havia morrido. Em pleno gabinete de trabalho. Dera suas  últimas forças para a grandeza da Varig, razão quase que plena de sua maiúscula existência. Tombara o grande “capitão” entre os papéis de sua escrivaninha.

Sua morte abalou o mundo. Foi prematura e antecipada para todos nós, que nunca cansamos de admirá-lo e respeitá-lo, na certeza de que  jamais deixaremos de lembrá-lo na morte. Velado nas dependências do hangar da manutenção, no aeroporto de Santos Dumont, no Rio de Janeiro, até as primeiras horas da tarde, teve seu corpo transladado para Porto Alegre, onde foi sepultado.

A recepção ao querido “velho” foi algo tocante e memorável O próprio Sol, que antes se havia escondido em nuvens negras, aparecia, então, límpido no céu,  iluminando com seus raios coloridos o comovente espetáculo. Era, sem dúvida, a grande e última homenagem que todos prestavam perante  corpo, agora inerte,   do baluarte da nossa aviação comercial. Próximo da aeronave centenas de funcionários da empresa, com seus uniformes de trabalho, representavam os diversos setores, nesse derradeiro instante de dor e sofrimento. Uma guarda de honra da FAB fez a saudação póstuma, quando o corpo de Ruben Berta foi retirado de bordo da aeronave.”

O número de acompanhantes era tão grande, que o carro mortuário já se encontrava no Cemitério da Azenha, e ainda partiam veículos dos Estaleiros da Empresa, em São João, no outro extremo da cidade, formando uma extensa e interminável fila, paralisando o transito na cidade. Durante o trajeto e mesmo quando das cerimônias do sepultamento, aviões da Varig e da Força Aérea Brasileira realizavam evoluções sobre o Cemitério Luterano, que tornou-se pequeno para receber tanta gente. Gente que representava ricos e humildes, sem distinção de credos e crenças, simples operários e poderosos políticos, unidos  numa mesma oração.

A morte de Berta traumatizou e compungiu a todos. Não somente os funcionários da Varig e seus amigos mais próximos, foram atingidos pelo doloroso acontecimento. Na realidade o Brasil todo sentiu a perda deste notável administrador que soube dar ao  nosso País uma posição de vanguarda. no cenário internacional no âmbito aeronáutico.. Os principais  órgãos de imprensa internacional, abriram manchetes, em espaço nobre de primeira página, solidários com a dor dos brasileiros, destacando o valor de Berta no contexto da aviação comercial e sua atuação de liderança, mesmo ainda jovem (59 anos) destacando-se por personalidade inteligente, forte e dinâmica, com relevante sentido de grupo.

A bordo do histórico Boeing PP-VJA, o corpo de Berta foi recebido no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, pela Guarda de Honra da FAB e funcionários da manutenção de pista da Varig vestidos com seus jalecos de serviço

De outra parte, desde da divulgação do falecimento do diretor – presidente da  Varig,  impressionante número de telegramas e mensagens de condolências começaram a chegar das maiores cidades da América Latina, América do Norte e Europa  onde a Varig tinha linhas  A direção da Cruzeiro do Sul, por sua vez, teve um gesto que emocionou a todos os variguianos, pondo à disposição dos seus funcionários dois aviões “Caravelle””  para acompanharem Berta até a sua última morada. Igualmente foi fantástica a quantidade de “Corbeiles” recebidas. As flores foram depositadas sobre  o túmulo de Ruben Berta, formando uma pirâmide tão enorme e colorida   que sobrepujava, em tamanho e beleza as mais altas árvores que circundavam o Cemitério. A mídia eletrônica também se fez presente  com imensa cobertura de rádio e televisão.

O corpo de Berta foi conduzido em sua ultima morada por comandantes ligados a APVAR (Associação de Pilotos da Varig) em nome dos seus colegas. O trajeto do Parque de Manutenção da Varig ao Cemitério da Azenha ,ocupou todos os espaços tal o numero de carros que formavam extensas filas dificultando a rotina do trânsito em Porto Alegre

A beira do túmulo  foram prestadas as mais tangentes  e significativas homenagens a Ruben Berta – inúmeros oradores se fizeram ouvir tecendo considerações sobre a personalidade do presidente da Varig e sua obra magnifica. O discurso final coube ao dr. Adroaldo Mesquita da Costa, num emocionado improviso , falando em nome da Varig e seus colaboradores. Lembrou da atuação de Berta para o engrandecimento da companhia –  abordando o assunto conforme o momento exigia expressando-se  em inglês, francês, alemão, italiano – espanhol e português.

Lembrou de momentos decisivos, dos encontros com chefes de Estado, nos congressos da IATA e debates vitoriosos. encantando plateias e os mais altos dirigentes do país, defendendo suas posições sobre  o futuro da nossa aviação comercial, apontando divergências e dando soluções. Mesquita da Costa concluiu com uma frase lapidar –  “Berta foi um homem genial, que se fez por sí mesmo, enobrecendo a raça humana”.

Este texto foi escrito sobre incontida emoção em dezembro de 1966, tendo recebido premiação da ARI ( Associação Rio-grandense de Imprensa), na modalidade House Organ, -“por seu estilo refinado, num momento doloroso aliado a iniciativa de não perder a oportunidade, criando um Suplemento na revista interna Rosa dos Ventos” –  que ficou na história. ( Mario de Albuquerque)

PAPAI NOEL – BERTA E A TELEVISÃO ( Uma historinha agridoce)

PAPAI NOEL – BERTA E A TELEVISÃO ( Uma historinha agridoce)

A CHEGADA DA  PRIMEIRA TELEVISÃO LÁ EM CASA TRANSFORMOU NOSSO NATAL  

Berta, como sempre, na época de Natal,  gostava de surpreender  o pessoal com alguma coisa diferente. Desta vez o presente seria capaz de superar qualquer expectativa pelo inusitado, causando alvoroço.  A TV Piratini, canal 5, havia sido inaugurada em Porto Alegre (20 /07/59) , afilhada à Rede Tupi, com antenas da televisão aberta  situadas no morro da Polícia. Ele comprara nos Estados Unidos, por preço de ocasião, um lote dos modernos aparelhos, como sobra de guerra, usados pela marinha americana, com tecnologia avançada. Alguns eram sorteados, outros  oferecidos no armazém (em seguida transformado em Supermercado) por preço de custo, em módicas prestações, inaugurando um sistema de comercialização inovador.

Eu, a Geny e nossos filhos –  Nato, Doca e Beto  –  euforia do Natal, nos anos 60 – alegria de uma família feliz  que sempre acreditou no amor.

A chegada da primeira televisão lá em casa, transformou nosso Natal num dia de festa continua, compartilhado pela vizinhança, curiosa para conhecer a novidade. A distribuição dos presentes era um momento patético. O Papai Noel aparecia de surpresa, causado pânico nos três filhos, Beto, Nato e Doca – especialmente nele – que era o mais jovem (mas também o mais esperto)  “O bom Velhinho” aparecia do nada, batendo firme no chão com seu bastão de comandar as  Renas (que eles nunca viam) criando um clima assustador, que depois se transformava num momento de paz e amor, quando retirava do enorme saco  vermelho que levava, os presentes encomendados, num festival de alegria.

O Papai Noel que nos visitava era sempre o mesmo – vizinho chamado Shimitz (não garanto a grafia, mas o som era esse) que aparecia transformando-se na figura. Com o passar do tempo, por mais que mudasse seu comportamento (falando grosso, com  voz rouca) para impressionar e disfarçar sua verdadeira identidade, acabou sendo desmascarado pelo próprio Doca, sempre o mais apavorado. Espertamente, mantiveram  o segredo da farsa considerando as vantagens inerentes, passando de ludibriados à ludibriadores. A televisão, marca GE, blindada, existe até hoje (funcionando) guardada no meu museu  (mania) particular. Agora, a missão é alegrar a bisneta Laurinha, filha do Lucas e Gabi, refazendo com novas personagens antigos momentos –  mantendo viva a tradição da arvore de Natal (que o comercio não deixa acabar) descobrindo um novo “Bom Velhinho” – coisa rara na praça.


25 ANOS DA VARIG   —  (publicação anterior com índice espetacular)
AOS AMIGOS PARA SEMPRE
CEM MIL ABRAÇOS EM 2024
LEMBRANÇA DE UM  NOME 
INFINITO TRAZENDO CHAMA 
QUE NÃO SE APAGA
VARIG ACIMA DE TUDO VOCÊ
OS 25 ANOS DA VARIG

OS 25 ANOS DA VARIG

BODAS DE PRATA FOI  ANO DE OURO PARA A VARIG

Berta era presidente de fachada para o público externo, até que o milagre aconteceu.

1952 – Ano rico para a Varig, mas… coisas estranhas ocorreram.

Uma boa foto vale mais do que mil palavras, adagio popular que se encaixava como uma luva, revelando um episódio até então, desconhecido na história da Varig.
Berta, que se auto elegera presidente, ao criar a Fundação dos Funcionários, era contestado pela cúpula pioneira da empresa, que esperava pelo retorno de Meyer – coisa que nunca aconteceu. Quando comemorou seus 25 anos de fundação a Varig viveu momentos de euforia e revelação de segredos de economia interna até então marcados pelo sigilo, vieram à tona. – Uma foto incrível guardada a sete-chaves nos arquivos de Meyer – ao qual tive acesso por concessão da família – revelava por si só uma verdade jamais concebida com relação a situação desconfortável vivida por Berta, quando presidente da Varig
Em posição de honra figuravam comodamente instalados, personagens da época pioneira da empresa, entre eles Otto Meyer, ainda carregando  a pecha dos resquícios da guerra que o afastariam para sempre da direção da Varig. O fato notório revelava a permanência de Berta na última coluna, (também pioneiro histórico) junto com os colaboradores comuns, num sinal de desprezo ao fato de ser o presidente legitimo da Varig, sendo ignorado, numa situação de constrangimento absurda, não considerada.
Berta respondeu com trabalho incansável e uma estratégia avançada equivalente as mais modernas cabeças pensantes da época.. O grande momento andava em passos largos para uma realidade que a Varig sonhava – ampliar seus voos para rota internacional de longos trajetos. Foi um presente dado por Getúlio Vargas, considerado a última gauchada do presidente, que Berta teve muito a ver com isso.

A Varig era então, praticamente, uma companhia regional com um único destino no exterior chegando ao Uruguai e Argentina, vivendo com um futuro incerto. Voar para Nova York era um presente caído dos céus que ultrapassava qualquer vantagem. .Getúlio definiu com autoridade (talvez mesmo não acreditando que milagre acontecesse) o pouco tempo disponível (dois anos) obrigando Berta a fazer o impossível acontecer. O relacionamento de Vargas com Berta cresceu quando isolado na granja de Itu, recebeu inúmeras visitas do homem da Varig, discutindo com ele o futuro da aviação comercial, na certeza de que Getúlio  voltaria a comandar o Pais.
 
Quando a notícia da concessão se tornou pública houve descredito total, especialmente das congêneres, que não viam na Varig capacidade de assumir a bandeira do Brasil no Exterior, em rotas que exigiam um complexo operacional que julgavam a Varig não possuir. A companhia viveu um momento estranho com presidente tipo para “inglês ver” Berta, no entanto, ocupava o cargo criado por ele ao inventar a Fundação dos Funcionários, numa estratégia consentida, talvez única, capaz de salvar a empresa gaúcha do extermínio, que se avizinhava â qualquer momento.. Tornava-se um presidente que era, não sendo, de carácter interno, tomando decisões secretamente orientadas pelo aval de Meyer
 
Mas, já no mesmo ano, a foto mudou de cara – Respaldado por Getúlio Vargas, Berta conseguiu tornar um sonho acalentado, numa realidade palpável. Porém, muita coisa inimaginável, até então, deveria ser feita – e tudo tinha tempo certo para começar e terminar. O governo precisava ter um representante imediato para colocar   novamente a bandeira do Brasil no topo do mastro em grandes trajetos internacionais –  até então, cobrindo apenas os países vizinhos  da Argentina e Uruguai.
Berta dispunha de apenas 2 anos para transformar a empresa regional num gigante internacional e com isso dar uma demonstração de força que faltava para ser aceito como líder absoluto, sem contestação. Foi o pulo do gato. Assumiu realmente sua posição de presidente, fazendo o milagre acontecer e se multiplicar, alcançando o patamar de liderança –  varrendo aquela ideia que era apenas o guri prestigiado por Meyer.
Berta no Super Constellation  Duas estrelas
O  resultado já é de conhecimento geral – Berta cumpriu todos os requisitos. Em 54 o Caravelle incorporou a linha cobiçada de Nova York, dando à Varig o pioneirismo do jato, fazendo cumprir ao mesmo tempo a palavra empenhada com o presidente brasileiro – que, infelizmente, no mesmo ano, nos deixou na saudade, numa ausência sentida incapaz de testemunhar o sucesso do amigo.. Depois, com o Super Costellation, Berta foi apresentado ao mundo, consagrando sua imagem como uma figura exponencial da humanidade,

 

BOLETIM DO MUSEU

BOLETIM DO MUSEU

Transferido para a Propaganda, como Gerente Regional, tive que dar fim aos trabalhos  editoriais na manutenção, abrindo espaço para a criação do Boletim Informativo do Museu Histórico da Varig, além da revista interna Rosa dos Ventos, impressa em Porto Alegre sob nossa direção, com texto bilíngue, circulando no mundo Varig

PLANADOR – O COMEÇO DE TUDO

NA CAPA A PRESENÇA DO PLANADOR – NO MIOLO A AUSÊNCIA DE BERTA E A INIBIÇÃO DOS DIRETORES.

Berta era a única voz falando pela Varig – na sua ausência nem um diretor  assumia esse papel, até que um dia, o improvável aconteceu.  Os diretores silenciaram    mas alguém, mais atrevido, desconhecendo as regras, falou por eles, quebrando um tabu que Berta engoliu sem reclamar

Boletim do Museu Histórico da Varig, surgiu da necessidade de interagir com seu público pioneiro, catando  preciosas informações  que estavam se perdendo no tempo. A capa, como mérito, ganhou a predominância do Planador – o miolo valorizou-se com a entrevista de Paulo Regius, publicitário que viveu na Varig  a arrancada do ostracismo regional na tarefa de mostrar a empresa para o mundo, com revelações inéditas, num “avant premier” do que seria a publicação, que logo alcançou suas metas, tornando-se “coqueluche” da Grande  Família Varig.

Em sua edição de abertura realizada em maio de 1979 ( ainda na gestão de Erik de Carvalho, que fizera a inauguração do Museu em 71) a primeira capa do BM contava a história dos Planadores, que tiveram função primordial na organização da Varig. A vedete era o Gaivota, construído  na antiga Varig  Aéreo Esporte, onde serviu como instrumento para o treinamento de inúmeros pilotos, que integraram a tripulação dos modernos jatos da empresa. O voo inicial foi realizado em 1937, em comemoração da  Semana da Asa, sendo  rebocado por avião  (Waco C-37), pilotado pelo comandante militar, Maldonado, atingindo a altura máxima de 240 metros, grande feito para a época.

O publicitário Carlos Régius e eu, entramos juntos na Varig (sem nos conhecermos) em  6 de junho de 1954. A diferença ficou no peso da contribuição em momentos diferentes  –  Ele permaneceu por 4 anos, eu por 40 – ambos, cada um a sua maneira, ajudando  a consagrar a marca Varig no mundo .Régius era originário da agência Clarim, tendo sido contratado para preencher a vaga de Superintendente de Propaganda.

Na Edição número 1, juntava-se inusitada entrevista concedida pelo  publicitário Carlos Régius, onde relatava os quatro anos  vividos na Varig (1954 até 1958) que foram  para ele de enorme importância profissional dentro de uma visão nacional –  “dando-me  nova dimensão e amplitude funcional”  Ate então, com raízes na Província passou a ter uma perspectiva nacional – viajando de avião, como se fosse de ônibus. Conheceu todo o pais, de sul a norte. Depois, foi a vez de viajar para ao exterior, de ver e sentir a mentalidade, usos e costumes de outros povos, e estilos de vida.

Acumulando o setor de relações públicas, sucediam-se no dia a dia contatos com importantes personagens do exterior, caravana de agentes de viagens, visitantes e homens do governo recebidos para uma visita as instalações da companhia ou para um churrasco típico no Retiro de Ponta Grossa. Premido pela necessidade, teve que aperfeiçoar seu inglês e alemão, que passou a dominar fluentemente, garante Regius. Aprendi até a falar em público – lembro em que numa determinada ocasião, o governador do  Estado, Leonel Brizola, trouxe do Rio uma caravana de deputados que visitou as instalações e depois lhes foi oferecido um almoço informal. na cantina dos funcionários. Berta estava ausente, tendo viajando para Nova York, envolvido com o desempenho do Super Constellation.

 Na hora H levanta-se o governador, fez uma saudação aos visitantes tecendo ainda os maiores elogios a empresa. Em seguida, falou inflamado o famoso  deputado Tenório Cavalcanti ( equipado com capa, barbicha, lurdinha e outras coisas) dizendo-se impressionado com o complexo técnico da manutenção, considerada por todos como exemplo para o mundo da aviação, dizendo-se encantado com tudo aquilo que acabara de ver. Faltava a palavra da companhia. Dois diretores presentes, tímidos e inibidos, sentenciaram o imperativo – Fala Régius !.O que falou nem ele tem lembrança – só sabe que no final recitou uma frase em 3 idiomas (alemão, inglês e português) demonstrando erudição, que dizia mais ou menos assim : “ A presença dos senhores é como o vinho que bebemos- o ´Néctar dos Deuses” Foi aplaudido e abraçado pelos ilustres visitantes, com os diretores da Varig erguendo vivas com suas taças de cristal. Pela primeira vez, a ausência de Berta não foi sentida, e a  chamada  Fala Régius!  tornou-se  a taboa de salvação para os inibidos diretores da Varig, na  ausência forçada do  presidente.

UNIFORMES

UNIFORMES

O PILOTO MOSTRAVA-SE UM HOMEM CERCADO PELO INEDITISMO

Um dos setores que mais chamava atenção dos visitantes no Museu Histórico da Varig, era aquele que mostrava os uniformes usados pelos tripulantes dos aviões da empresa. Era uma reconstituição feita a partir do hidroavião Atlântico nos anos 30, época que a Varig dava seus primeiros passos. O piloto mostrava-se um homem cercado pelo ineditismo. No Atlântico, era comum o uso de calça culote e macacão de brim, com capacete de tecido de couro. Mas, foi com os aviões terrestres, como o Junkers F-13, por exemplo, que ficou mais caracterizada a calça culote em tecido de brim, camisa branca, gravata escura e jaqueta de couro marrom, com ziper. Completava a vestimenta, botas de couro longo, capacete também de couro e óculos protetores.

O pouso, conforme lembrava o cmte. Lili de Souza Pinto, estava na época sujeito a alterações climáticas. O rosto era queimado pelo sol e o vento, somente nas partes não cobertas pelo capacete e os óculos –  imagine o nosso aspecto quando não estávamos usando esses apetrechos. O  Junkers A-50, por exemplo, tinha o motor descoberto com o comando de válvula exposto, sendo lubrificado com graxa antes de cada decolagem. No fim do voo a graxa estava toda depositada no rosto, nos óculos e na parte superior do corpo do piloto. – diziam, no entanto, que era muito bom para a pele”

Em 1939, como já fizera com os atendentes nas Lojas, Meyer resolveu padronizar os uniformes da companhia, incluindo pilotos e o pessoal da manutenção —  só que a Caixa da Varig não suportava qualquer despesa que não fosse essencial- Ele pediu e foi atendido – os funcionários passaram a pagar  os próprios uniformes com desconto mensal em “folha” Já nos anos 40, com o termino da guerra, a criação da Fundação dos Funcionários e a aquisição dos DC-3 a Varig passou a viver uma era de alguma fartura. expulsando de vez o tempo das “vacas magras” assumindo as compras e ganhando uma mídia externa com o nome da Varig circulando nas costas dos mecânicos e no garbo dos tripulantes.

MEYER X BERTA

MEYER X BERTA

DÚVIDA HISTÓRICA AGORA REVELADA
 
NO PÓS-GUERRA POR QUE MEYER NÃO REASSUMIU O COMANDO DA VARIG ?
Berta e Meyer – Olhar desconfiado, com mais dúvidas do que certezas.
 

Muitos detalhes tiveram peso fundamental para a continuidade de Berta no poder – ou foi uma atitude orquestrada de quem gostou e não quis mais largar? O desejo de Meyer em voltar ao comando da Varig foi uma incógnita nunca revelada explicitamente. Sua carta de renúncia deixou uma série de dúvidas. Mesmo afastado do cargo, ele continuou a ter contato secreto com Berta, mantendo uma duplicidade, iludindo o pessoal do DOPS ? – .Existiu, em algum momento, conflito entre ambos pela tomada do poder ?.

Ao investigar o assunto, examinando os documentos  guardados por  Meyer,  surgiram mais dúvidas do que certezas. Meyer se vangloriava da sua atuação, inclusive enfatizando o fato da nunca a Varig ter sofrido com seus aviões nenhum acidente fatal envolvendo passageiros. Deixava  antever que passada a borrasca e provada a sua inocência, retornaria, para dar continuidade ao sonho de fazer da Varig uma realidade, capaz de orgulhar o Rio Grande. Em 41, Meyer teve duas propostas quando foi obrigado a deixar a Varig, pela sua origem germânica – uma, a de receber importante soma em dinheiro, capaz de garantir o seu futuro e de sua família –  outra, a de manter uma aposentadoria com ganho regular, coisa que ele preferiu, mantendo, assim, um tênue vínculo com a empresa, na esperança de uma mudança radical, coisa que não aconteceu naquele momento conturbado. Por sua vez, o fundador da Varig não teria, por uma série de circunstâncias políticas,  condições de defender os interesses da companhia, naquele nebuloso quadro da vida nacional.

“Quem vai ao ar perde o lugar,” era um ditado popular que Berta conhecia bem. Meyer não gozava de uma saúde perfeita, resquícios do tempo da guerra  de 1918 em que participou como militar alemão. Aqui no Brasil chegou a ter malária. Ao contrário, Berta era mais jovem, carimbado pelo próprio fundador como meu “garoto de ouro.” Depois, com o decorrer dos anos, e o acúmulo de responsabilidades que a nova função exigia, Berta passou a ter atuação livre de amarras. Deu um show de competência dificultando alguma ação para removê-lo do cargo. Organizou a Varig de tal maneira que ficou  fora de bom – senso  qualquer movimento contrário capaz de usurpar seu poder. Meyer, continuou mantendo forte relacionamento com Berta, – segredo mantido a sete-chaves –  que descobri vasculhando os arquivos liberados pela família de Meyer, quando da pesquisa para meu livro. Berta escutava seus conselhos, que passaram a não ter a força dos tempos anteriores e decidia tudo à sua maneira. Tornou-se um líder mundial da aviação, sendo aclamado presidente da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional) liderando eventos  que confirmaram sua liderança. Antes de qualquer coisa, Berta compreendeu as dificuldades do emaranhado do setor que englobava a aviação.

Parceria entre Getúlio Vargas e Berta rendeu para a Varig portas para Nova York, abrindo caminho na conquista do mundo.

Antecipou problemas, apontando soluções. Ganhou a simpatia de autoridades, dos seus companheiros de jornada e do público usuário, encantando todos com o resultado do bom serviço. Dominando os editoriais dos grandes veículos de comunicação, terreno em que travou lutas homéricas com oponentes –  em regra geral Por sua vez, o fundador da Varig não teria, por uma série de circunstâncias, a condição de cumprir papel  decisivo  que o momento exigia. – inibindo improváveis pretensões de Meyer. Fato definitivo deu-se justamente no final da guerra, em 45, quando Berta idealizou a Fundação dos Funcionários da Varig, tornando-se Presidente da Fundação dos Funcionários, do Conselho de Administração e ao mesmo tempo Presidente da Varig, tudo como os Estatutos proclamavam.

Aperto de mão entre Meyer e Berta – retorno ao ninho antigo

Por indicação de Berta, Otto Meyer foi reintegrado aos quadros de funcionários da Varig,  ocupando seu Conselho Fiscal,  numa demonstração do reconhecimento histórico que sempre os uniu. Tanto Meyer como Berta, tornaram-se grandes lideres, cada um em épocas distintas, montando um “quebra – cabeça” buscando o mesmo ideal – tornar a Varig gigante dos ares. Meyer e Berta, sempre foram considerados “ficha-limpa” da aviação comercial brasileira, ao contrário de concorrentes que se locupletavam, usando indevidamente volumosas verbas desviadas das subvenções governamentais, em beneficio próprio. Na verdade, nunca houve disputa em campo aberto entre eles pela tomada do poder  –  cada um  reconhecendo as circunstâncias do  momento  vivido. Certamente, Ruben Berta foi um homem sem maiores ambições pessoais, longe de riquezas, assim como Meyer. Ambos tiveram uma vida simples, sem qualquer rompante, dedicando-se  com afinco à meta que perseguiram até o fim, fazendo da Varig um exemplo de sucesso. Ambos faleceram no mesmo ano -1966- deixando um legado imorredouro para a humanidade.

FOTÓGRAFO DAS ARÁBIAS – Parte 2

FOTÓGRAFO DAS ARÁBIAS – Parte 2

COMO A VARIG SERVIU DE PARAMETRO NUM FATO HISTÓRICO, COM SALOMÃO PLATCHECK DE PROTAGONISTA

No lançamento do livro 150 ANOS DE VIDA E HISTÓRIA, obra de grande vulto pela qualidade gráfica e fantástica narrativa, a Sogipa homenageou àqueles que ajudaram a construir sua história. Entre eles o nome de Salomão Platcheck ganhou lugar, pelo eficiente trabalho realizado, bem como por ser protagonista de um episódio relevante de cunho racial, colocando a Sogipa no patamar das grandes instituições

A Varig tinha raízes germânicas em sua criação, assim como a Sogipa (Sociedade Ginástica de Porto Alegre) antes da guerra Turnebund , havendo amplo  relacionamento entre ambas. No entanto, colocar o nome de  Salomão Platcheck como fotógrafo no setor de comunicação da Sogipa, que eu acabava de assumir, foi bomba que explodiu na cúpula do clube, especialmente no Conselho Administrativo –  associados que comandavam os destinos da entidade  e zelavam por conceitos históricos, arraigados as suas origens. Era um conflito de raças que julgávamos ultrapassado, que vinha contra interesses de penetração. estratégica da Varig, na busca de uma aproximação e domínio num jogo de interesses, do qual o indicado aparecia como figura predominante em nossos planos.

Entre seus líderes carismáticos, o Clube tinha uma figura de forte personalidade, tipo ditador velado (como Berta na Varig )  A palavra de Gerhard Theisen valia como uma sentença, com o peso de acalmar qualquer celeuma – A Sogipa e a Varig têm o mesmo tipo de raiz, ele afirmava convicto :  “O que serve para a Varig pode servir também para a Sogipa” –  Dito e feito. Pista livre para a decolagem. O entrosamento com Salomão era fundamental – havia entendimento simplesmente pelo olhar  ( sim ou não) Ele fazia parte dessa engrenagem. Seu trabalho seria ponto – chave   de penetração junto ao grupo  formado por conceituados  empresários, profissionais liberais e gente da alta-sociedade, além do seleto público que compunha o grupo de associados  que a concorrência almejava conquistar pela sua representatividade. Num acordo com Vendas,  arregaçamos as  mangas, juntando o útil ao agradável, utilizando a estratégia da aproximação. Eu já era sócio da Sogipa, buscando  o lazer familiar, como se fosse o quintal da própria casa, granjeando amigos incríveis

Os ex-presidentes, sem exceção, participavam do Rotary Clube São João, com reuniões mensais em almoço de confraternização, do qual. passei a tomar parte, levado pelo prestígio da Varig. Em seguida, assumindo o setor de Comunicação da Sogipa. inclui o Rotary, com boletins especiais. Comecei a montar um grupo enxuto de auxiliares. – Para surpresa geral o primeiro a ser convocado chamava-se Salomão Platcheck , fotógrafo que seria parte estratégica em qualquer iniciativa mais audaciosa que viesse  a tomar. A restrição acontecia especialmente entre os mais tradicionais, não vendo com bons olhos um  estranho com identidade suspeita pela origem  racial, vasculhando  as atividades do clube, ganhando uma intimidade não recomendada.

Com atuação que fortaleceu o acervo da Sogipa, nos anos 80, Salomão teve passagem marcante (em consonância com a Varig) dando presença em todos os lugares , entrevistando pessoas e eventos, como, o bale da Oktuberfest que lotou o totalmente Salão de Festas e Eventos da Sogipa, em 1983, assim como em 84, registrando o Baile Municipal de Carnaval, conquistando a simpatia de todos pela sua eficiência e dedicação, rompendo barreiras da suas raízes contestada.

Logo, Salomão,  com seu gênio expansivo, mas respeitoso, com competência e folego capaz de enfrentar qualquer desafio mantendo um comportamento agregado, com nossa supervisão  e acompanhamento, tornou-se uma figura popular e amistosa, colhendo farto material, depois usado no acervo  quando a Sogipa completou seus 150 anos de vida. Por sua vez, o objetivo da Varig foi  alcançado, gerando campo livre para a decolagem da equipe de Vendas –

SALOMÃO PLATCHECK  CONQUISTOU A GLORIA DE UM EPISÓDIO HISTÓRICO, SERVINDO DE MODELO PARA A CONFRATERNIZAÇÃO ENTRE OS POVOS.

FOTÓGRAFO  “DAS ARÁBIAS”

FOTÓGRAFO  “DAS ARÁBIAS”

 

 A HISTÓRIA DA VARIG E SEU “FILHO ADOTIVO”

Dando presença na Reunião do Colégio Deliberante, em Porto Alegre, por nossa convocação, o fotografo pela primeira vez foi fotografado, invertendo-se os papéis. Na foto ele aparece, na esquerda ( de óculos), confraternizando com o pessoal da Superintendência de Propaganda do Rio de Janeiro – ao lado de Orlando Machado, fotografo da presidência, Mario, e na outra ponta, Fernando Hupsel, do serviço de imprensa. Salomão Platcheck era um fotografo ” freelancer” que usávamos para cobrir eventos e outros tipos de emergência, que surgiam no improviso. Quando a empreitada era urgente alguém da turma gritava : – “Chama o Salomão! ele vinha com a velocidade do jato, dispensando qualquer outro compromisso Tornou-se, assim, uma figura conhecida e estimada pela sua integração ao nosso grupo A popularidade dele era tão grande, que começou a ser requisitado, também, para os eventos sociais da Fundação Gefuvar, incluindo casamentos, batizados dos funcionários, ingressando de vez como membro atuante da grande Família Varig, aqui no Sul

 Na mesma época de Jean Mazzon e Orlando Machado, outro fotógrafo fez sucesso como “freelancer”, trabalhando em Porto Alegre, para a Varig – Salomão Platcheck tornando-se colaborador incansável do setor de Propaganda. Ele estava sempre disponível para atender qualquer chamada, dando prioridade  para o meu grito, sempre de última hora, não importando  a distância, o dia e a hora. Certa vez, conta a lenda, foi-lhe dada a incumbência de fotografar o Parque de Manutenção. Desejando produzir um trabalho de alto nível, com ângulos inéditos, ele sugeriu uma cobertura aérea. Prontamente, impressionados com seu  profissionalismo, conseguimos liberar um dos aviões monomotor da EVAER, que  sobrevoou um bom tempo sobre a área escolhida.

 O dia estava lindo, ensolarado. O céu azul de brigadeiro montava o cenário ideal para o êxito do trabalho.- Salomão e sua máquina (Roleiflex) pronta para disparar  a  bordo. No pouso ele  vibrava, na certeza de ter cumprido com êxito sua missão, compensando toda a logística envolvida.  Na verdade, o resultado nunca apareceu. O comentário maldoso era de que ele havia esquecido de colocar o filme na máquina – incapaz de fazer milagres sozinha. Mas o mais provável era de que na hora da revelação o filme tenha sido velado, coisa nunca esclarecida, obrigando o fotógrafo “fajuto” a subir em escadas, escalar paredes, para do alto conseguir, finalmente, o melhor  ângulo para sua obra de arte.

 Brincadeiras a parte, Salomão foi um colaborador prestimoso ajudando a Varig  manter um arquivo histórico, deixando gravado para a posteridade momentos  importantes, por mais de uma década. Ele ficou conhecido pela descontração –  na ânsia de levar avante sua missão, quebrava o protocolo, caso necessário. Fazia as personagens envolvidas repetirem os gestos, quando na solenidade do corte de fita simbólica, sem a menor cerimônia, parando o evento, dando ordens, que eram seguidas sem pestanejar – todos queriam sair bem na foto, considerando o Salomão um mestre  na missão de fotogravar todos sorrindo, num ambiente de felicidade total.

 Salomão Platcheck, prestou seus serviços na Varig desde os tempos de Berta, de quem recebia benesses e carinhosa e respeitosamente chamava de “velho” integrado, como todos nós, na “grande família Varig,” considerando-se filho adotivo.