HOLANDA – “CARROCEL” QUE MUDOU O FUTEBOL

HOLANDA – “CARROCEL” QUE MUDOU O FUTEBOL

SELEÇÕES IMORTAIS – ENCANTARAM MAS NÃO LEVARAM

 

Nos anos 70 a Seleção da Holanda era cantada em prosa e verso, encantando por onde se apresentava, esmagando os adversários sem dó nem piedade .Com todo esse cartaz ela chegou para disputar a Copa de 1974 em Munique, na Alemanha Ocidental –  como franca favorita. Vinha coberta de glórias, reeditando o famoso estilo que o técnico . Rinus Miichels, implantara no Ajax O esquema lembrava uma versão melhorada da tática Húngara de 54

Carrocel – futebol total apelidado de “manada” onde dez defendiam e depois os dez atacavam sem posição fixa,. ocupando todos os espaços.

Chamada de Carrocel, porque os jogadores não tinham posição fixa e circulavam pelo campo buscando sempre o gol, a própria razão de ser do jogo. Era uma equipe extremamente tática –  bola rolando de pé em pé em jogadas ensaiadas com admirável talento coletivo.. Futebol bonito, harmonioso e eficiente insinuava ser orquestra regida pelo maestro  Johan Cruyff –  craque na acepção da palavra. Era uma proposta de jogo em que todos atacavam e todos defendiam Pressionavam o adversário no campo de defesa na saída da bola e atacavam com enorme velocidade, esbanjando  tiros potentes e enorme pontaria nos arremates, .Um conjunto que revolucionaria conquistando adeptos e criava para o futebol um cenário que encantava.

Johan Cruyff- a estrela carimbada desta constelação maravilhosa.

Em sua primeira partida na Copa de 74 a surpresa não ficou na vitória (2×0 contra o Uruguai) mas na confirmação de uma variação tática durante o jogo. Era comum os volantes no ataque, os meias como atacantes aumentando a pressão sobre  os adversários no seu próprio campo, coisa que aconteceu durante toda a Copa, sem uma formula  capaz de fazer parar a verdadeira máquina de triturar, Pela cor das camisetas, marca registrada do time, em homenagem a monarquia holandesa, recebiam a alcunha de “Laranja Mecânica” que se coadunava com o filme da época, sucesso de bilheteria no mundo.

A lendária Seleção da Holanda -da Copa de 74. Jogava por música transformando o campo de jogo num iluminado salão de baile, encantado em cada exibição – até o time alemão desligar as luzes e o sonho transformar- se em pesadelo . Restou a lembrança – maior do que os próprios vencedores.

A modernidade das ações logo se traduziu em resultados, como 4×0 ante a Argentina, (dois golaços de Cruyff) e 2×0 frente ao Brasil, que  trazia a fama de tricampeão do mundo do certame anterior, abatendo também a Alemanha Oriental pelo mesmo escore. O encontro decisivo  aconteceu no Estádio Olímpico de Munique, reunindo  Holanda e Alemanha Ocidental, com contornos gigantescos. No final, o time alemão liderado por Franz Beckenbauer e Gerd Muller conquistou uma vitória histórica pelo escore de 3×2,com golo nos últimos minutos, num lance polêmico, até hoje contestado pelos apaixonados do “Time Total”

O treinador Renus Michels – Maestro do conjunto holandês – cabeça pensante da tática que maravilhou, perdendo apenas na partida final (3×2) para os donos da casa com a validade do último golo até hoje discutida.

Mais uma vez, a sina de uma das maiores equipes da história do futebol mundial  de não vencer, endeusado pela crítica e amado pelo grande publico, virou lenda – Os perdedores até hoje ficaram mais lembrados que os verdadeiros campeões.

SELEÇÕES IMORTAIS

SELEÇÕES IMORTAIS

HÚNGRIA –  ENCANTOU MAS NÃO LEVOU

A seleção da Hungria chegou como franca favorita para a Copa do Mundo na Suécia em 1954. Ela revolucionou o esporte bretão  nos anos 50, estabelecendo os fundamentos técnicos do conjunto total, dominando no âmbito internacional, com seu notável esquadrão de ouro. A seleção chegou a ficar 36 jogos invicta num período de 6 anos, goleando a Inglaterra (6×3) no histórico  estádio de Wemblet, nas vésperas do caminho do evento mundial  E tinha tudo para levar avante o seu intento.

Considerada franca favorita a seleção da Hungria era conhecida como “Time de Ouro”- um  conjunto de craques que encantava o mundo, sem jamais ganhar uma Copa do Mundo

Além da inovação da esquema tático, mantinha também um invejável aprimoramento físico. Trocas de posição durante os jogos e mobilidade impressionante, eram características que se somavam a uma técnica apurada, com toque de bola que envolvia seus adversários de uma forma humilhante colocando os contendores na roda.- era um espetáculo quase circense que se juntava a uma objetividade avassaladora, com escores dilatados, difíceis de conter.

Gusztav Sebes, treinador da Hungria, inovou ao inverter o esquema inglês denominado M-W  para adotar o que ficou conhecido por W-W ,que daria frutos ao 4-2-4, graças a qualidade física dos jogadores e ao talento de craques como Ferenc Puskás, criando bastante movimentação, com passes certeiros e conclusão final de elevado nível. Na primeira fase venceu a Coreia  por 9×0 e estraçalhou a Alemanha  aplicando coleada constrangedora de  8×3. Nas quartas-de-final  bateriam o Brasil por 4×2 (batalha de Berna) vencendo em seguida o Uruguai, então campeão do mundo, pelo mesmo placar.

O capitão da equipe Ferenc Puskás comandou a fabulosa seleção Húngara com golos, passes e jogadas de pura habilidade com o pé esquerdo. Nem a derrota no jogo  final contra a Alemanha, lhe tirou o título de melhor jogador da Copa do Mundo de 1954

A ironia veio no jogo final, daquele mundial de 1954, que reeditou a partida entre Hungria x  Alemanha dos jogos  classificatórias. A Hungria foi derrotada por 3×2, com golo polêmico nos últimos minutos. Esta geração chegou ao final de 56, com a revolução  Húngara. Do grupo de oito vencedores da competição  somente o Brasil detêm a marca de ter disputado todas as edições, sagrando-se Penta Campeão. (2002) com craques como Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo.

ÍCARO BRASIL E AS “COPAS DO MUNDO”

ÍCARO BRASIL E AS “COPAS DO MUNDO”

Convite irresistível –  Copa do  Mundo pela Varig e o “clamour” de Paris

Contar a história das Copas do Mundo, divulgada através da revista de bordo Icaro Brasil –  um ano antecedendo o evento, previsto para 1998, foi jogada de marketing  da Varig com efeito imediato – fazendo a empresa reprogramar  a escala dos seus jatos de maior porte para atender a demanda.

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UM ESTÁDIO INTELIGENTE  
Entre os 10 estádios preparados para receber os jogos da Copa, o Stade de France, em Paris, onde o Brasil faz sua estreia, serve de orgulho para os franceses. pela sua modernidade. A cobertura parece um disco voador pousado, pendurado em tirantes, por sua vez, presos a 14 cilindros verticais de aço inox, tal qual foguetes em rampa de lançamento. Sua superfície inferior é um espelho prateado bem polido, tão liso  que reflete a parte de baixo do estádio. Esse reluzente teto flutua 42 metros acima do nível do gramado. Construído como  elegante arena elíptica palco das grandes emoções futebolísticas do ano que vem, tem todo estilo francês – arquitetura sólida e responsável. Com capacidade para 80 mil espectadores .o estádio vai receber nove jogos. A partida  inaugural da Copa 98 será entre o  Brasil (último campeão) e um adversário a ser definido por sorteio.
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OS TRÊS CARTAZES QUE ENCANTARAM O MUNDO
Parece que ninguém até hoje tinha prestado tanta atenção aos posters de todas as Copas de 1930 até 1998, do que os três destacados publicitários que Icaro Brasil visitou para discutir  bom gosto em 68 anos de ilustrações futebolísticas Ana Carmem Longobardi, do grupo Talent e Talent Biz e Marcelo Serpa, sócio diretor de criação da Almap, mais Washington  Olivetto, presidente da W/Brasil, examinaram o conjunto do trabalho e opinaram.
 
Ana Carmem se encanta com o poster de 1954 -“lindo, classe suiça” Mas julga o de1930 o mais bonito -“ousado para a época” autentica art decó. Já Marcelo elege o de 1954 como o mais bonito de todos: imagem limpa, elegante, poucos traços, tudo muito lúdico e leve, mas destaca também o de 1930 – digno, livre, art déco. Já Olivetto considera o poster de 1954  bem suiço, limpo, asséptico, com a visão de trás do golo como só poderia mesmo ocorrer no país inventor do  “ferrolho” no futebol, jamais num país ofensivo.  Ele elogia o cartaz de 1938, sem explicar por quê., Já Ana Carmem e Marcelo caem de pau na ideologia fascista incorporada àquele poster – é a bota em cima  da bola, um cara dominando, esmagando todo o mundo.
 
Por sua vez, Olivetto considera que o poster de 1950 do Brasil, “lembra a cultura do álbum de figurinhas”. e o que  da  Itália, de 90, “não reflete o bom gosto do país em design” E, surpreendente, julga o poster França 98, o melhor de todos, contrariando frontalmente  a opinião de Marcelo, que critica : “falta um ponto focal, a Copa. Essa é também a visão de  Ana Carmem, que gosta da obra de arte, mas ressalva: “esta muito afastada da finalidade de promover o torneio” Para justificar o voto Washington considera a Copa do Mundo  “um produto que se vende tão descaradamente, graças à imensa cobertura da imprensa mundial que o artista pode liberar uma visão mais artística do que do que didática”

Os cartazes e os times que deram ao Brasil os quatro títulos mundiais

 –  Suécia, em 1958, o Brasil revela para o mundo àquele garoto de 17 anos que se tornaria o rei do futebol – Edson  Arantes do Nascimento – PELÉ-  numa jornada memorável  sagrando-se pela primeira vez campeão mundial abrindo caminho para grandes conquistas  (foto time 58)

–  Dito e feito – Chile 1962 — o time canarinho conquista o bicampeonato mundial com a presença consagradora de Garrincha.

  – Em 1970 – um time recheado de craques garantiu no México o tricampeonato – de repente é àquela corrente pra frente. Brasil salve a seleção !

  – Nos EUA, em 1994 –sob o comando de Dunga e da tabelinha Romário – Bebeto a gloria do tetra com mais uma estrela reluzindo no peito.

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Entrevista com  Platini  –  “Aquele jogo contra o Brasil não merecia o final que teve.”
Michel Platini´ é  uma figura muito popular na França,. Como Pelé passou de jogador a  autoridade, mantendo a forma  e também o carinho das pessoas que vibraram  com ele  nos gramados. É um dos atletas gauleses mais importantes de todos os tempos, juntamente com Just Fontaine, artilheiro da Copa de 58 com 13 gols, recorde  ainda não igualado na competição. No bate- papo que manteve com Roberto Muylaert da revista Icaro Brasil, ele fez uma declaração inusitada quando inquerido sobre suas lembranças da famosa partida França e Brasil, em Guadalajara, no México, em 1986, especialmente quanto a decisão por pènalts, foi incisivo.: .”Aquele jogo não merecia o final que teve.. Aquela partida das quartas – de- final poderia ter sido a decisão da Copa do Mundo de 1986 – foi imperdível Eu errei minha cobrança, mas para a nossa sorte Júlio César e Sócrates foram tão infelizes quanto eu (assim como Zico durante o jogo) e, afinal Luis Fernandes nos salvou mandando a bola para dentro das redes brasileiras. Foi um alívio, mas nos demos mal na semifinal contra a Alemanha logo em seguida.” Para Platini, respondendo a pergunta sobre qual o melhor jogador de futebol que viu jogar não vacilou- ” Maradona sabia fazer tudo – ele era da raça dos grandes. O meio-de-campo brasileiro da época, com Zico, Falcão, Junior e Sócrates, era destaque individual e coletivo. que encantava. Boniek e Rossi, da Juventus de Turim, também. A Juventus era o melhor time do mundo na década de 80 (Roberto Muylaert).

Cadernos das Copas – 1997

Icaro Brasil (Roberto Muylaert)
Compilação -resumindo textos
sem perder a essência e 
acrescentando algo pertinente

VARIG – CAINDO DE PÉ (OU DERRUBADA?)

VARIG – CAINDO DE PÉ (OU DERRUBADA?)

 FORÇA POPULAR DA VARIG GARANTIU O TÍTULO

Em pleno 2006, no cadafalso, Varig é aclamada bicampeã como Companhia Aérea do Ano

 

Dias antes da degola, em 2006, a Varig era aclamada, pela segunda vez consecutiva a  Companhia Aérea do Ano – uma alegria que durou pouco, incapaz de sensibilizar governantes  – como acontecia na Europa e América do Norte,  em situação semelhante, com suas empresas aéreas de bandeira atingidas pela crise que abalava a economia  do  planeta. O Brasil pagou caro por essa omissão e nunca mais conseguiu se recuperar no domínio dos ares. A matéria sacramentava – ” VARIG  deu mais uma demonstração  de que tem uma imagem mais forte do que suas enormes dificuldades financeiras. Contra todas as previsões dos  especialistas .em aviação,  que apontavam  uma vitória da TAM, a VARIG foi eleita a Companhia Aérea do Ano 2006, –  de acordo com 16.120 votos dos leitores de Avião Revue .revista especializada em aviação, de grande credibilidade, com milhares de leitores. É a segunda vez consecutiva que a VARIG ganha esse prêmio. A “estrela brasileira” somou 10.229 pontos dos onze itens do concurso, contra 8.684 pontos da TAM

Além de conquistar o bicampeonato, como Companhia Aérea do Ano, 2006 a VARIG foi considerada a mais querida por 50% dos participantes, enquanto a TAM somou 27.9% das preferências. A vitória da VARIG mostrava que o público votante – aficionado da aviação e normalmente bem informado – não dá muita importância sobre a saúde financeira- das empresas, e sim para sua condição de operação aérea. Tanto que dos 11 atributos do concurso a VARIG venceu seis ( Facilidades para reservas./ Eficiência no check-in/.. Eficiente manutenção/. Bom programa de milhagem/ Excelente  serviço de bordo .e pintura atraente) A eleição garantiu que a força internacional da VARIG ainda contava muitos pontos. E ela levava  mais passageiros ao destino do exterior. E faz sentido, embora tenha uma frota menor de 51 aviões contra 82 da TAM. Em termos de aeronave de longo percurso, a VARIG possuía  cinco Boeing 767, oito Boeing 777 e onze aviões  MD-11. Embora estivesse em crescimento no mercado internacional a TAM operava com sete Airbus A-330. O surpreendente resultado em favor da VARIG contou pontos para a companhia, num momento em que ela superava difíceis obstáculos para manter  seu alto padrão de confiabilidade. E mostrou que a marca tinha um força impressionante, Por isso convidamos até um psicólogo especializado em aviação, Dr. Juarez Lopes Neto, para fazer uma análise do resultado e o que sentiam as pessoas na hora de votar  Seu diagnóstico foi curto e grosso – ” A TAM é mais comercial, enquanto a VARIG é mais hospedeira.

NOTA 10

NOTA 10

Livro “Berta – Os anos dourados da Varig” Ganha nota 10 – com avaliação máxima
 

Resenha publicada na rede social Skoob (7 mil seguidores) para leitores como estande virtual, premia  o livro Berta Os Anos Dourados da Varig, com nota máxima no seu conceito de boa leitura, merecedor de apreciação pelo seu conteúdo inusitado.

O autor e sua obra – Nota 10 pelo ineditismo – Segredos de bastidores nunca antes revelados.

  Segundo a avaliação, o livro revela  fatos históricos  inéditos, além de ser uma biografia de Ruben  Martin Berta da um “insight” da Varig desde a sua criação, apogeu e declínio Nota 10 pelo ineditismo do material  Mesmo sendo conhecedor da historia das principais Cias aéreas brasileiras, me surpreendi com detalhes interessantes narrados no livro. Existem muitos livros sobre a Varig mas esse é único por explorar a intimidade de Ruben Berta e Otto Meyer.

E foi escrito por uma pessoa que os conheceu pessoalmente convivendo com eles,  tendo  ainda acesso aos arquivos  particulares da família Meyer. Além desnuda a empresa  à  nível de grandes decisões coorporativas. É possível ao leitor  entender como a Varig virou essa grande organização e porque faliu. Detalhes desde anúncios, estratégias  comerciais  e também formas pouco republicanas de se imiscuir  com políticos, dar e receber favores, vencer concorrentes e se tornar uma empresa  líder por décadas formam um ciclo digno de uma epopeia.

Meyer,Berta,Schuetz e Erik – baluartes de uma história que fez da Varig gigante da aviação comercial brasileira.

Um pequeno ponto negativo do livro, a tentativa de colocar Berta e a empresa num pedestal. Até aí é compreensível, visto que  o autor  foi contratado por Berta e dedicou sua vida à empresa. Contudo, qualquer leitor com mínimo discernimento  é capaz de fazer um juízo crítico quanto a isso. Berta era um empresário consagrado, mas não  foi nenhum herói bonzinho ou inocente. No caso Panair, por exemplo, o livro tenta isentá-lo. Mas buscando outras fontes, fica evidente que ele foi peça fundamental no fechamento daquela empresa. Alguns anos atrás ele enviou um telegrama ao presidente Jânio Quadros, protestando pela aquisição da Panair pelo grupo  Rocha Miranda Simonse

O embate Berta x Lineu, a nacionalização da Panair, a luta contra a  instalação da Aerobras (que caos seria se tivesse ido pra frente) e os voos internacionais no desejo de dar a volta ao mundo. ganham predominância. O autor, Mario de Albuquerque, se formou em jornalismo pela PUCRS,  com bolsa de estudos dada pela Varig ( além de trabalhar lá, até sua aposentadoria) então entendo seu amor pela empresa e seu líder maior, mas ficar falando  inúmeras vezes dos predicados de Berta reflete como puxa – saquismo.

Enfatizando a vida de Berta, o jornalista revela episódios inusitados sobre a existência da Varig. Seguramente o mais completo até hoje, envolvendo a intimidade dos seus criadores

Só faço  um aparte a outra resenha que li aqui -, discordando da avaliação dada em função de alguma críticas. A nota que damos a um livro, no meu entendimento, serve para avaliar a leitura; Pela nota indicamos se vale a pena ler o livro ou não, para que outras pessoas possam se decidir  sobre compra-lo ou não  A moral das personagens ou se é justo  ( ou de lei) receber subsídios, isso fica num juízo subjetivo –  mas nada tem a ver com a nota que damos para o livro. A vasta quantidade de fotos é impressionante e muito valiosa. No final da obra tem um QR Code que nos direciona a um link – é um vídeo que o próprio autor apresenta comerciais icônicos da Varig. Portanto dou nota máxima para o livro – “Berta – Os Anos Dourados da Varig” e recomendo a leitura para qualquer pessoa  que se interesse pela história da aviação comercial no Brasil

MANGA E A VARIG

MANGA E A VARIG

QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINSIDÊNCIA – AMBOS  ADORAVAM VOAR – UM NO CÉU OUTRO NA TERRA

Manga e a Varig.  Figuras inesquecíveis voando juntas  sem jamais encontrarem substitutos – Quem viu Manga  na excelência de guardião não esquece jamais. Insuperável. Tornou-se personagem lendária na história do Inter, assim como a Varig, sinônimo de qualidade e eficiência que voava alto orgulhando os brasileiros, não encontrou jamais uma companhia aérea condizente  com a sua grandeza. Duas marcas fantásticas que aparecem juntas, gravadas na nossa memória  afetiva. A Varig se engrandecia quando hospedava aquela figura carismática. Manga entrava em parafuso, voando de canto à canto, defendendo a baliza colorada. Com sua mão direita espalmada, trazia à torcida alegres emoções. Fora dos gramados, voar mesmo  para ele, na acepção da palavra, era momento de crise, abstinência, reza- Como toda regra tinha uma exceção – No aeroporto só aceitava embarcar pela Varig, na  certeza de um voo tranquilo numa ida e volta  garantida, sem susto. No jogo, Manga era a certeza de um voo alado. Fora disso, na realidade da vida, ele só conseguia subir os degraus seguros da escadaria do avião na certeza de um voo perfeito, abraçar as nuvens, garantindo o retorno, são e salvo .pisando terra firme  com a torcida que o esperava de braços abertos para levá-lo nos ombros e atirá-lo na grama macia que ele acariciava nos seus sonhos.

Manga tinha com a Varig relacionamento umbilical, que seus companheiros não entendiam e ele retrucava- “Boca fechada não entra mosca”

Pensava nas coisas boas da vida. Fazia comparações e considerações. Elias, com seu cotovelo de aço, o poderoso comandante, que tinha na sua cabeça coroada  liderando um caminho de vitórias, No jogo, Manga era a certeza do impossível, voando de canto a canto, fazendo vibrar o  Beira- Rio.  Viajar pela Varig era certeza de voo tranquilo ,de ida e volta, garantidas.- Na delegação todos perguntavam:  “Como é que pode? – Fenômeno  Agarrar com a mão direita – de três dedos retos difíceis de dobrarem, com  o  minguinho mais torto e o quebrado desviando para escanteio. era cenário  que marcava presença. enlouquecendo o Beira-Rio

Viajar em outro avião que não da  Varig, transformava-se em exercício de pavor, semelhante ao petardo do Nelinho, mas que ele amaciava sem adorno de luvas, livrando o perigo rondando a pequena área. Quando o capitão Figueiroa fez o golo iluminado, assisti com os olhos esbugalhados o milagre da transformação, ajudando com um sopro o raio de sol que cegava. Raul. A arquibancada de cimento armado, antes  fria e insensível, transformou-se num poleiro vibrante,  machucado por sapateado sem fim. Cada minuto era um mundo. Sentar pra que? Lá dentro Manquita garantia um título de campeão brasileiro que caia do céu. Assim como a Varig, Manga  ( sem comparações) tornou-se figura  lendária, na fulgente  galeria de grandes craques do nosso futebol.

 Carlos Duran dirigentes do Internacional, era grande amigo meu dos tempos do Colégio São João –  a pedido dele eu intercedia junto ao nosso diretor (colorado doente) para fazer “upgrade” com o Manga, que ele merecia tratamento especial para mantê-lo em boa forma, nas grandes decisões, coisa que se estendeu, porque estava funcionando. Ele passava a conversa das mãos e o pessoal da diretoria  do Inter engolia, pois era cortesia da Varig  e ninguém queria prejudicar o craque. Manga tornou-se passageiro VIP da Varig,(considerado deficiente físico) sem o clube pagar diferença alguma por tal vantagem, recebendo tratamento  especial na classe executiva,  coisa que a diretoria raramente conseguia

Manga abandonou o futebol.  A Varig foi abandonada, mas ambos ficaram para sempre guardados no cofre das recordações (que felizmente as chaves do pensamento ainda continuam comigo) incluindo o “rolo compressor” colorado do pós-guerra, com seu ataque fulminante que ninguém mais tem lembrança –  Tesourinha, Vilalba, Adãozinho. Rui e Carlitos ou do “rolinho” dos anos 50 –  Luizinho, Bodinho, Larry, Ènio Andrade e Chinesinho.

A VIAGEM PRECURSORA COM O PRESIDENTE

A VIAGEM PRECURSORA COM O PRESIDENTE


Juscelino encantou-se com a personalidade de Berta, mas o passe não estava à venda

Em 1956, antes da posse de Juscelino Kubitschek antecipando-se a qualquer concorrente, num lance de mestre, Berta convenceu o “staff” do presidente a realizar ao exterior, uma viagem precursora garantindo repercussão mundial,. A Varig  oferecia um dos seus  Super Constellation, “novinho em folha” (e outro em prontidão)  para cumprir um roteiro que se estenderia  num total de 8 países percorridos em 13 dias. O programa incluía  tratamento VIP, com renomado serviço de bordo e poltronas leito. Tudo cortesia Varig – um convite irrecusável.

Berta foi o grande anfitrião da viagem histórica que levou JK ao exterior

Na verdade, este custo, (em dinheiro vivo) como investimento de marketing representava, a grosso modo, um valor considerável, que a Varig  não tinha, Berta no entanto estava disposto a bancar. Considerava  oportunidade única  em privar do convívio do presidente, podendo expressar de viva voz, desejos e angustias que a aviação comercial brasileira estava passando, na esperança de dias melhores. Projetar seu moderno equipamento para o mundo era fantástico, coisa que sua verba de propaganda jamais poderia alcançar.-

A exposição da marca Varig servia como pano de amostra e um desafio para o próprio fabricante – Lockheed Constellation , que acompanhava com vivo interesse a atitude da Varig, Ao mesmo tempo considerando que sua prestigiosa marca estaria passando por um sério teste de popularidade, sendo seu desempenho  analisado com lente de aumento, capaz de interferir  de uma maneiro boa ou não, em futuras negociações. Também, como o programa envolvia uma caravana presidencial, inúmeros fornecedores da Varig  atenderam a solicitação de Berta, Assim, vários itens  foram diluídos, cabendo a Varig o uso da máquina  e sua equipe de bordo, a responsabilidade de  descobri caminhos nunca antes percorridos.

Em Washington as boas vindas do secretário Foster Dulles

A viagem serviu como demonstração de eficiência .Em apena 13 dias o avião da Varig cumpriu sua missão levando o presidente eleito do Brasil sendo aclamado e recebido com honras de estadista, na República  Dominicana (Ciudad Trujilio); Estados Unidos ( Key West/ Washington/New York); Holanda (Amsterdam);  Inglaterra (Londres); Bélgica (Bruxelas/Luxemburgo); França (Paris); Alemanha (DusseldorfI); Itália (Roma). Aproveitando a oportunidade, no mesmo avião que levava a  comitiva, Berta transportou uma missão de técnicos  da empresa para observação e estudos especializados em países europeus. Na Inglaterra,, os técnicos da Varig visitaram a fábrica  De Havilland, construtora dos famosos aviões  Comet. A viagem transcorreu com toda a regularidade possibilitando o perfeito cumprimento dos compromissos do presidente Juscelino. Berta ficou chegado ao presidente sendo seu anfitrião, propiciando um tratamento de bordo impecável, bem como eficiência técnica demonstrada pelos tripulantes.

Em cada país visitado, o presidente era recepcionado no aeroporto com honras militares (Londres e Roma)

Durante esse tempo todo, Berta e Juscelino tiveram oportunidade de abordar vários assuntos de interesse nacional, envolvendo  a inflação, a situação econômica e social do pais, incluindo as dificuldades por que passava  a  aviação  comercial  brasileira. Berta comentou temas amplos Falou sobre riqueza e pobreza, o valor da terra, do  progresso industrial, do combate a  inflação e a busca do mercado estável. Criticou o excesso de impostos pagos, defendeu a abertura de estradas, a criação de veículos de transporte, amplas usinas de energia elétrica, indústrias básicas de aço e  outras –  que o país precisava colocar em sua  base uma agricultura desenvolvida, buscando pagar salários mais altos possíveis, criando mercado e diversificando a produção – O resultado seria introduzir o Brasil num verdadeiro ciclo de riqueza- Na oportunidade, Berta prometeu que daria no governo de JK a primazia da era do jato, consagrando seu plano de modernidade.

O presidente encantou-se com a personalidade de Berta e sua visão de mundo.. Tentou comprar seu passe –  mas ele não estava à venda.

O TRIANGULO MÁGICO E A VARIG

O TRIANGULO MÁGICO E A VARIG

Berta cria o Triangulo Magico e a Varig mostra a cara  para o mundo.

O Voo Triangular ganhou personalidade com a expressão Triangulo Mágico, introduzida por Berta. Representava o significado matemático, onde o desafio é o objetivo a ser cumprido através de um plano de ação. Quanto mais difícil o desafio, maior o esforço para alcança-lo.
Com a criação do Triangulo Mágico bolado por Berta,  nos  anos 60,  o passageiro através do inusitado plano do Voo Triangular, tinha a grande oportunidade de, ao viajar à Europa, ir ou voltar via Estados Unidos pela Varig,  com apenas um módico  acréscimo na tarifa de ida e volta.  Ao  invés de visitar apenas um único continente visitava dois  O passageiro planejava inteiramente na Varig, fazendo o roteiro e as paradas que desejava, escolhendo uma das companhias  com as quais a Varig mantinha trafego mútuo.  A marca Varig passou a se mostrar nos anúncios  conjuntos, veiculados em cada pais – membro, com visibilidade fantástica, (custo zero) numa  jogada típica do gênio criativo de Berta.
Ao invés de visitar um único continente, você visita dois e paga módico acréscimo na tarifa de ida e volta
Nos anos 60, Berta tinha passe livre junto aos presidentes das grandes empresas aéreas filiadas a IATA. Ele tornou-se parte integrante da cúpula da organização. Buscava afanosamente o crescimento. Com o Super Constellation (1955) e em seguida com a chegada do Caravelle, em 1959, a Varig tornou-se pioneira na era do jato na  América Latina, façanha que poucos, até então, tinham alcançado –  tudo chancelado  com a presença do Boeing-707 no ano seguinte, que lhe dava oportunidade para pensar alto. Sua presença nas reuniões da IATA, muitas vezes chamado para compor a mesa diretora, representa credencias de liderança, sempre disposto a distribuir seu saber com colegas de todo mundo da aviação. Sua credibilidade  era cartão de visitas que ultrapassava fronteiras.
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Na ânsia de fazer a Varig tornar-se adulta, ele tinha pressa. Numa das reuniões, da IATA lançou  ideia revolucionária que vinha martelando em sua cabeça.  Reunir as grandes companhias num pool de intenções formando um grupo voltado ao interesse comum na área de ocupação de assentos e transporte de carga, cobrindo um vazio que empacava o ganho. Lançada em plenário, logo teve a adesão de marcas significativas, nascendo um comitê liderado pela Varig, para encontrar um “modus vivendi” , analisando viabilidade e possíveis perdas e ganhos. Os contatos sucederam-se com resultados promissores. A receptividade foi  instantânea por parte das congêneres da América do Norte, Europa e do Oriente Médio, todas também interessadas em penetrar no mercado promissor da América do Sul. Foram fechados acordos bilaterais reforçando a introdução do  “Triangulo Mágico” com voos combinados entre as operadoras estrangeiras e a Varig. A Europa e os Estados Unidos logo aderiram ao programa, sendo acertadas participações de  empresas renomadas, em número de uma dezena. – parceria fundamental para o incremento dos negócios da Varig, com ganhos para o comercio internacional do nosso Pais.
Com o Caravelle e Boeing – 707, nos anos 60, anúncio da Varig mostrava a modernidade da frota alcançando as Três Américas e antecipando estudos do símbolo do que seria Triangulo Mágico, num projeto mundial, colocando a companhia brasileira no rol das grandes congêneres inter
Entre as negociações consideradas mais estratégicas estava o Oriente Médio. Era prioridade  para a VARIG, o que lhe valeu concretizar valioso acordo com a JAPAN  AIR LINES. Juntamente com Maurício Soares  –  representante da Varig nos Estados Unidos e gerente  da filial de Nova York, Berta tratou  numa reunião em Tóquio, do incentivo  de tráfego mútuo entre as duas empresas combinando, igualmente, a propaganda reciproca entre os dois países. O tráfego entre os Estas Unidos e o Japão, também servido por quatro grandes companhias americanas evidenciava a nipônica JAL  como a mais jovem entre todas elas. Um fator importante é que detinha 30% do tráfego aéreo com sete voos semanais entre São Francisco, Honolulu e Tóquio, dando cobertura total aos voos domésticos no Japão.
Mantendo a tradição histórica de parceria com a Varig, a Lufthansa (foto) foi a primeira companhia filiada a IATA que aderiu ao plano do Triângulo Mágico (passagens, carga e correspondência
Já de inicio, várias empresas ligadas a IATA deram adesão ao programa, interessadas no mercado promissor da América do Sul. Assim como a AIR FRANCE (vendendo Rio- Nova York, vice -versa).TWA (com conexão entre Europa e Estados Unidos) KLM (de Nova York até Londres e outras capitais da Europa) ALITÁLIA (com serviços cobrindo Europa, Ásia, África e Estados Unidos, saindo de Roma) IBÉRIA ( chegando a Madrid e as capitais da Europa) entre outras, que tornaram o Triangulo Mágico. uma inovação que consagrou a VARIG
O objetivo do acordo visava, ainda, incentivar o ingresso de imigrantes para o Brasil, que já contavam com mais de 300 mil patrícios radicados em São Paulo. País diminuto contabilizando no fim dos anos 50, cerca de 80 milhões de habitantes, os japoneses sentiam imperiosa necessidade de procurar outras terras e o nosso pais era visto como um verdadeiro paraíso. A campanha promocional elaborada pela VARIG — JAL, marcou época. Foi massiva e criativa abrangendo vários tipos de mídia, consagrando-se pelo comercial da TV, ” – Urashima Taro. A Varig manteve escritório em Tóquio, com excelente desempenho. Tempos depois, com a  conquista de novos espaços a ambição da Varig  chegou a cobiçar a volta ao mundo. Os acordos de trafego mútuo continuaram sob modernas configurações e o Triangulo Mágico passou a ser uma página virada no livro das recordações bem sucedidas, numa somatória de episódios capaz de transformar a modesta Varig em gigante do transporte aéreo, sem nunca perder a essência da personalidade  -Viação Aérea  Rio-Grandense
Entre o Brasil e o Japão a viagem mais cômoda e rápida é via Nova York ( tráfego mútuo)
ERNI SILVEIRA PEIXOTO

ERNI SILVEIRA PEIXOTO

Gênio das telecomunicações da Varig

Apesar de autodidata, Erni Silveira Peixoto era considerado um gênio  pela sua destacada atuação na aviação comercial. tendo recebido  o diploma de técnico em telecomunicações nos Estados Unidos. No Brasil, dedicou sua vida à Varig assumindo postos relevantes. Foi  agraciado com  a medalha Santos Dumont, pelo  reconhecimento de suas atividades e valor em  relação à Aeronáutica do nosso país, fato que lhe causou incontida emoção.. A Câmara Municipal de Porto Alegre, sua cidade natal, o referenciou outorgando-lhe o título de Cidadão  Porto Alegrense, bem  como  a cidade de Gramado -RS, onde tinha seu retiro de férias com a família, sendo um dos propulsores do progresso turístico da região, através da Varig, tornando a cidade serrana no Rio Grande do Sul, referência nacional e exterior nesse importante quesito.

No peito, a medalha Santos Dumont – reconhecimento de uma vida dedicada à aviação brasileira.

Com a presença da esposa dna. Anita e colegas da Varig, (Eng.Arantes, Eng, Engels , Lidio e Mario) – ´Abraço fraterno – testemunhas de um momento histórico que emocionou todos nós.

Ele  tornou-se  engenheiro eletrônico, capaz de projetar e construir, por conta própria, o primeiro aparelho de eletroencefalograma do Rio Grande do Sul, contribuindo ainda com seu talento, para trabalhos pioneiros na aviação comercial brasileira. Tanto Meyer como Berta  o tinham em alta conta pela excelência do seu desempenho Erni Silveira Peixoto ingressou na Varig em 1939 com a incumbência de instalar  as estações de radiotelefonia e radiotelegrafia, além de fotografias e gravações em fita magnética. Antes,  havia sido fornecedor de equipamentos para  a empresa. Trabalhou lado a lado com Ruben Berta, de quem recebeu a elogiosa  referência de “jovem e genial técnico gaúcho”.  Peixoto tinha inúmeras lembranças dos momentos mais significativos da história da Varig, entre os quais marcou sua vivência junto a Ruben Berta, de quem guardava as mais fortes recordações.

Bilhete de Berta, onde o presidente autoriza mais uma “engenhoca” de telecomunicações, demonstrando seus sentimentos quanto a personalidade de Erni Peixoto. Rio, 7/5/ 65 Peixoto – Minha confiança na sua pessoa e capacidade profissional é ilimitada. Entendi bem a parte técnica. Quanto ao remédio de por mais gente, tenho minhas duvidas. Si você me garante que depois sempre saberemos onde anda nossos aviões internacionais, não se interrompendo as comunicações com eles – aprovo” Berta

Segundo Peixoto,  em entrevista que me foi concedida para a revista interna Rosa dos Ventos, Berta se assemelhava a uma “incrível maquina humana” atuando sempre em alta rotação. Chegava até a operar as estações de rádio para saber das reservas de passagens. Aos domingos, ia para o aeroporto.- Morreu trabalhando. Berta respeitava muito os acionistas -.Por isso, exigia de mim que fizesse uma estação de rádio em quatro dias. Foi o brasileiro mais impressionante e patriótico que eu conheci, garantia ele. – Quando dava uma ordem de serviço era para fazer tudo, o mais rápido possível. Essa situação traz a lembrança como se fosse um filme de Carlitos, com imagens em velocidade –  “exigia eficiência e não tolerava atrasos.”  Nos momentos críticos era capaz de tomar decisões imediatas. Certa vez, no aeroporto de Ciudad Trujillo, quando o Caravelle estava aberto à  visitação pública, foram roubados praticamente todos os objetos que os passageiros haviam deixado sobre as poltronas, causando uma situação desagradável, que ele, como sempre, soube contornar. Ressarciu os prejuízos,  agradando a todos, sem que o fato vazasse para a imprensa, relatou Peixoto.

O presidente Erik de Carvalho e Erni Peixoto, diretor regional, foram figuras exponenciais na construção do Museu Varig, em Porto Alegre, nos anos 70

Erni Silveira Peixoto dedicou sua vida à Varig, da qual foi diretor regional e de telecomunicações, trabalhando de1929 até 1980, quando aposentou-se, passando a tomar parte do Conselho de Administração.com destacada atuação nas grandes decisões da empresa, como na escolha do jato DC-10. Esteve sempre ao lado de Berta, por quem nutria sólida amizade. Quando da implantação do Museu Varig, sua participação foi decisiva junto a presidência, viabilizando o projeto histórico com apoio irrestrito de Erik de Carvalho dando-me carta branca no planejamento e execução do layout, configuração do conteúdo e formato de exposição. Partiu de Peixoto, em 1966, a proposta na célebre reunião do Colégio Deliberante da Fundação dos Funcionários, de dar ao presidente recém  falecido,  o nome da entidade, que passou a chamar-se Fundação Ruben Berta, homenagem que levou consigo, enquanto esteve em nosso convívio.

Na Assembleia do Colégio Deliberante, em 66, num pronunciamento histórico, Erni Peixoto teve reconhecida por unanimidade sua menção – surgia a grande homenagem – Fundação Ruben Berta – O nome certo no lugar certo
GUARDA MONTADA NOS ANOS PIONEIROS

GUARDA MONTADA NOS ANOS PIONEIROS

Figura que marcou época na história da Varig

Nos anos 60 enquanto a Varig avançava na modernidade dos jatos, convivia ao mesmo tempo com um contraste que remontava aos tempos do pioneirismo – a manutenção da Guarda Montada, que zelava pela segurança das pistas dos aeroportos garantindo o acesso das aeronaves. As atividades exercidas por esse grupo altamente adestrado na montaria existiram desde o tempo em que a Varig começou a operar com aviões terrestres. Somente em meados de 1958 eles passaram a ter sua função oficializada como tal, nos quadros de funcionários da empresa, justamente na véspera da chegada do Caravelle. Homem de poucas palavras e elevado número de conhecidos, audaz na hora necessária, mas gentil e terno para com. senhoras e crianças, era, juntamente com o representante da Varig, as personalidades mais conhecidas entre àqueles que viajavam para o interior, ainda agreste do estado sul- rio-grandense.

 

A Guarda Montada, como era conhecida, foi de grande valia para o estado do Rio Grande do Sul. Era realizada por homens que montavam seus próprios cavalos, Gaúcho campeiro, habituado com o rigorismo do vento Minuano e experiente nas lidas com os animais aliado ao conhecimento da região, assim era a figura dos primeiros guardas montados. Com a incorporação dos aviões Junker, a Varig iniciou na década de 30 a sua expansão para as principais cidades do estado. Os aeroportos dessas localidades estavam na sua maioria situados próximos às grandes fazendas de criação de gado. Embora houvesse cerca de arame delimitando as pistas a invasão dos animais era rotineira.

Para evitar que esse fato viesse a causar algum acidente sério foram introduzidos vigilantes, cuja função fundamental era cuidar para que nenhum animal invadisse a área da pista e da estação de passageiros. Sempre que necessário usavam da sua habilidade para consertar cercas, servir como ajudante transportando volumes em seu cavalo. – Do avião para o aeroporto Salgado Filho e vice-versa. No balcão era treinado para receber e emitir passagens, encomendas e correspondência Era também um excelente mensageiro, pois conhecia muito bem a região e, com seu cavalo, sempre se antecipava a chegada do automóvel, ou mesmo o substituía nos locais onde os “caminhos de terra batida” tornavam impossível o acesso de um veículo automotor.

 

Os estaleiros da empresa, em Porto Alegre, estavam localizados junto a diversos sítios cuja atividade principal era a produção de leite. Em razão disso, seguidamente, a pista onde os aviões taxiavam ficava invadida por animais de elevado porte (geralmente cavalos e vacas) criando, na maioria das vezes, situação de perigo para a tripulação e passageiros das aeronaves que operavam naquele local. A atitude mais adequada para a empresa foi optar pelo retorno da Guarda Montada. Esta foi constituída sob orientação de Omar Dick e Alberto Graeter Filho. O primeiro era chefe da Portaria e o segundo responsável pelo setor de organização terrestre. A função principal era vigiar as divisas do Estaleiro e das pistas do aeroporto que se localizavam em campo aberto, enquanto a segurança interna era realizada pelos funcionários encarregados das portarias.

A Guarda Montada realizava todos os serviços que um homem do campo ainda hoje faz. Alimentava, curava e limpava seus cavalos, e também, consertava cercas e muros. Para abrigar cavalos e cavalheiros foi construído um galpão, onde depois foi edificado o prédio de telecomunicações. Posteriormente, foi transferido. Para junto a estação de bombeiros, conforme declaração de Waldemar Rubin, responsável pelo grupo da Guarda Montada durante a sua existência. O animal aprendido que não fosse procurado por seus proprietários era encaminhado à Associação Protetora dos Animais, sob a direção de dona Palmira Gobbi. Com o advento do jato foi construído amplo muro de proteção junto a Avenida Sertório. Os animais foram substituídos por uma equipe motorizada. Os cavalarianos, depois de passarem por um período de adaptação, (nem todos) prosseguiram na sua lide diária, agora mais produtiva e menos desgastante. Nesta época o uniforme dos profissionais, ganhou novo estilo com túnica e calça de sargeline azul-marinho, camisa caqui modelo escoteiro, gravata e japona também azul marinho, chapéu cinza e botas pretas. Complementando uma capa da mesma cor da calça. Quando deixei a Varig, esse grupo era apenas uma passagem linda que ficou gravada na história do meu livro, corroída pela ferocidade implacável do tempo.