BERTA X COMANDANTES

BERTA X COMANDANTES

NUVENS NEGRAS NOS CÉUS DA GRANDE FAMILIA VARIG

Berta e os Comandantes – momentos nebulosos na história da Varig

A Grande Família Varig vista por todos como espelho de união, congraçamento e felicidade entre seus membros, volta e meia mostrava o outro lado da moeda (sempre com os comandantes) num embate que virou rotina envolvendo a personalidade egocêntrica de Berta e a obstinação dos comandantes, na busca do protagonismo que lhes era negado quanto à indicação para membro do Colégio Deliberante da Fundação dos Funcionários – com força para definir posições políticas estratégicas, que avançavam até a escolha do próprio presidente da Varig. Nem sempre a família Varig viveu em céu de brigadeiro. Quando fui admitido em julho de 1954, a empresa estava saindo de uma crise interna que deixaria sérias sequelas. Envolvia um grupo rebelde de comandantes, justamente considerados por Berta as figuras mais importantes no planejamento estratégico que se preparava para assumir, pela primeira vez, as responsabilidades de uma rota internacional de longo alcance, na conquista de Nova York.

Comandantes trocaram a Fundação pelo Sindicato – Com o Super Constellation veio o perdão – restou uma ferida jamais cicatrizada.

Na carta de 51, altamente reveladora e sintomática, Berta abordou de frente assuntos até então considerados tabu. Foi nessa época que alguns funcionários do topo da pirâmide, na sua maioria comandantes, rebelaram-se contra a liderança exercida pelo seu presidente. A desavença ultrapassou os limites da chamada “economia interna” chegando ao conhecimento público. Os pilotos, insatisfeitos com algumas atitudes de Berta, resolveram sair da Fundação dos Funcionários, passando a apoiar o sindicato de classe. Era uma atitude que Berta não acatava, de maneira alguma, sendo intransigente nesse quesito. Os “reacionários”, como chamava, eram, na opinião dele, verdadeiras laranjas estragadas, retiradas do cesto para não contaminarem aquelas que estivessem ao seu lado. Foi um processo inusitado com enfrentamento considerado “insurreição” por Berta, incompatível com os conceitos socializantes, com gesto que ele definia como traição.

Com o Boeing-707, na era do jato, nova arremetida de um grupo de comandantes elege Bordini como vice- presidente da Fundação dos Funcionários
(e da Varig) dando protagonismo aos comandantes, reforçando queda de braço que se tronava histórica

Integrados ao Sindicato, os tripulantes passaram a rezar pela mesma cartilha das greves e manifestações públicas, coisa que Berta não aceitava como solução dos impasses na época dos dissídios coletivos. Insatisfeitos com a forma autoritária de dirigir os destinos da empresa de maneira ditatorial, sem muita transparência, eles buscavam modificar os estatutos da Fundação. Somente em 1953 a contenda teve seu fim. Os comandantes voltaram para a Fundação, recebidos por Berta com palavras de reconciliação. Figuras como Erwin Wendorff, João Stepanski, Geraldo Knippling, Eduardo Maldonado,Waldemar Carta, Gastão Werlang, Hamildo Mancuso e Dario Lima Garahy, entre outros, tornaram-se verdadeiros ases da aviação comercial brasileira, galgando na Varig os maiores postos de comando.

A posse aconteceu no mesmo dia, tendo Bordini ocupado a mesa dos trabalhos ao lado do presidente.

Berta tinha insônia. Seguidamente tirava dona Wilma do sono da madrugada para fazer sanduiches que ele levava ao pessoal no hangar, preparando o Constellation para a grande escalada, rumo a Nova York. Mas a tripulação, excelente pelo desempenho, volta e meia chocava-se com a carranca do presidente. Era um convívio difícil de harmonizar. A entrada do jato (Boeing-707) de grande porte, transportando centenas de passageiros, fez o governo estabelecer parâmetros de atuação buscando a segurança do voo, definindo atribuições ao comandante com autonomia absoluta nas decisões de bordo. O presidente deixava de ser o mandante número um, transformando-se num passageiro comum, incapaz de levantar a voz numa decisão funcional restrita a bordo, daquele que era seu subordinado em terra. Estava armado o conflito.

A Varig crescia e necessitava qualificar o seu pessoal, já que mão- de- obra específica não existia, precisava ser incrementada. Nasceu então a Diretoria de Ensino, e com ela alguns pontos de discórdia, quase sempre superados no âmbito interno pela habilidade do diretor em contornar problemas, até que um dia o nó se desfez – Bordini deu asas a Investigação de Acidentes – revolução dentro de casa. A culpa era contabilizada na falha da máquina (mal operada?) Berta analisava os maiores acidentes no mundo e garantia que a estatística mostrava (incluindo a Varig) que o erro humano liderava essa pesquisa – coisa que a tripulação técnica desaprovava com veemência. Nasceu daí a APVAR (Associação de Pilotos da Varig) com objetivo de ter palavra oficial nas demandas dos pilotos. Certamente, mais um “quiprocó” que Berta teve de diluir, ampliando a área de debates. As controvérsias perderam cunho pessoal, amparadas por uma sigla forte.

Defendendo a criação da AEROBRAS, Melo Bastou, (líder sindical e tripulante da Varig (comandante) foi demitido por Berta sem medir as consequências.

A demissão do comandante Melo Bastos pela diretoria da Varig, em virtude da carta de apoio enviada à revista PN no tocante as denúncias baseadas na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o estado caótico da aviação comercial brasileira, (onde a Varig nunca foi citada) propugnava pela implementação da AEROBRAS, resultando na demissão por justa causa do piloto, feita em maio de 1963, gerando uma greve de protesto dos servidores aeronautas, aeroviários, portuários e outros, trazendo problemas para o primeiro plano do interesse do governo e da opinião pública. Foi uma briga que custou caro para a Varig, com repercussão negativa que expos a existência de confrontos internos da Pioneira, com ambiente de enfrentamento entre capital e trabalho nunca revelados. Eram sequelas mostrando feridas trazidas ao conhecimento público, tendo Berta sido obrigado pela Justiça do Trabalho, a readmitir o funcionário, considerando sua situação de sindicalista atuante. Ele voltou, mas ficou excluído da escala de voo.

Na época, em 1960, quando a Varig dava um salto fantástico com a aquisição dos modernos Boeing-707, um grupo formado por comandantes insistia que Rubens Bordini colocasse ,seu nome para disputar com Berta, na reunião do Colégio Deliberante, a posição de presidente da Fundação – em última análise, presidente da Varig. Pela primeira vez, na história da empresa, um grupo dissidente indicava um candidato para enfrentar Berta nas urnas. Como era de se esperar Berta venceu as eleições, tendo seu opositor alcançado boa quantidade de votos ficando então como vice-presidente, cargo que até então não existia.

Bordini, credenciava-se com trabalhos relevantes – Ajudou a resolver o imbroglio do Electra com a Lockheed, trazendo o PP-VJM de fábrica. Na visão de Berta, Bordini passou a ser uma sombra em seu caminho. Séria altercação (1964) entre ambos resultou em enfarto sofrido pelo presidente, que considerava Bordini um traidor no episódio das últimas eleições. Dois anos depois,(1966) Berta faleceu vítima do mesmo mal

Lá por 1964, o comandante Rubens Bordini teve um desentendimento com Ruben Berta, no qual ele acusava de ter sido traído na eleição de presidente da Fundação. Dessa altercação resultou um enfarte em Berta – o mesmo mal que lhe causaria a morte dois anos depois, em plena mesa de trabalho, quando indicava seu sucessor (Erik de Carvalho) Berta nunca perdoou o envolvimento de Bordini, a quem tinha na conta de um dos seus mais leais e dedicados colaboradores, digno de extrema confiança. Provavelmente, o episódio com Bordini tenha sido o sinal que Berta entendeu, mas não teve tempo de evitar o mal que lhe tirou a vida para continuar na caminhada vitoriosa entre o céu e a terra, deixando a semente da Varig pronta para brotar e ser germinada com sua marca de vencedor.

Erik de Carvalho, pupilo de Berta, assumiu a presidência da Varig, com excelente desempenho.
UMA DATA INESQUECÍVEL 

UMA DATA INESQUECÍVEL 

POR QUE A VARIG SEMPRE SERÁ LEMBRADA ?

Um conto de fadas que na verdade existiu. Primeiro encantou os funcionários, fortalecendo a marca. Depois, foi oferecer o produto ao grande público conquistando o mundo.

A Varig, comandada por Berta, não era somente uma empresa aérea prestando o melhor serviço. Representava parte integrante da comunidade. Participava dos seus anseios e alegrias. Fazia com que os colaboradores devolvessem com exaustão os benefícios recebidos e distribuía junto a sociedade gaúcha benesses que eram predicado do seu incessante desempenho humanitário, como trazendo medicamentos do exterior, na época não existentes no Brasil, sem cobrar o transporte, salvando dezenas de vidas, criando – SOS -VARIG – SAUDE, emocionando o Rio Grande.

 

Garantia educação para os filhos dos funcionários – fazia doação de bolsas de estudo excedentes aos alunos de escolas menos favorecidas, oferecendo educação para dezenas de jovens carentes (com famílias até hoje agradecidas pela benesse) Ainda na área da educação foi gigante fazendo nascer, através da EVAER ( Escola Varig de Aeronáutica) em parceria com a PUC-RS, a primeira Universidade do Ar formando pilotos de alto nível, prontos para exercerem com elevado conhecimento a sua honrosa profissão. Para qualificar a mão de obra absolutamente técnica, foi criada a ESVAR (Escola Senai Varig) preparando mecânicos especializados para o setor de manutenção, tudo centralizado na Diretoria de Ensino.

A Fundação criou o GEFUVAR (Grêmio Esportivo dos Funcionários da Varig) para as competições esportivas internas, construindo um Ginásio de Esportes coberto, multiuso, único do gênero no Brasil. Sempre pensando em dividir com a comunidade seus avanços. A Varig, através da Fundação, expandiu acesso para entidades e federações locais, possibilitando a pratica esportiva, mesmo no rigor do inverno. Por sua vez o uso do Salão Nobre era cedido para eventos culturais e sociais relevantes, além de palestras do corpo médico da Fundação, trazendo para seus pares gaúchos experiências vividas em constantes viagens em países avançados na medicina.

A Varig e a Fundação dos Funcionários davam tudo o que o homem que produzia necessitava para uma vida feliz com sua família: saúde, através do serviço médico com equipe especializada (mesma que atendia a tripulação) farmácia ao preço de custo; alimentação em armazém próprio e nas cantinas com comida balanceada; programa sério para crescer profissionalmente; ambiente de trabalho, em harmonia e dedicação em equipe; férias remuneradas com direito a GC (Grátis Condiciona) para voos nacionais e exterior (dependendo do tempo de serviço); ginásio coberto, polivalente; sede campestre em Ipanema; festa de natal, vivendo o sonho da casa própria com a Vila Varig para os menos aquinhoados, depois transformada no Bairro Ruben Berta, considerado o mais populoso de Porto Alegre, abrigando milhares de pessoas.- daí nascendo a força da marca.

* A marca Varig recebeu desde a sua criação um tratamento diferenciado, focado no público interno e voltado ao passageiro – “Ele é a razão única de existirmos. Sem ele não somos nada” garantia Berta. Esse conceito acompanhou a Varig através dos tempos. Vencida esta etapa do pioneirismo, com a transição do hidroavião para o Junker F-13, pousando em terra firme, sempre voltado ao endomarketing, Berta buscou dar referência a marca. Nasceu aí a figura do Icaro, rabiscado por ele mesmo, e aprovado por Meyer – símbolo que viria a acompanhar a empresa através dos anos, aparecendo nos meios de comunicação e no bojo dos aviões. Em 1942, quando a Varig iniciou seus voos para Montevidéu, o Icaro ganhou a companhia da bandeira brasileira no Dragon Rapide de Havillan, maior avião da frota. Antes, os documentos e a papelaria usados tinham a marca do Biguá – pássaro nativo do Rio Grande do Sul – sem a presença no hidroavião.

* Quando da aquisição do Super Constellation, em 1955, e início dos voos para Nova York, o panorama da comunicação passou por uma completa reformulação enfrentando uma concorrência poderosa (Panam). Vencida a batalha na chamada “Guerra David x Golias, tendo a Varig ingressado na era do jato com o moderno Caravelle e o Boeing-707, o nome da companhia ganhou respeito internacional pela excelência do serviço de bordo, atendimento diferenciado e qualidade da manutenção. Com a chegada dos aviões a jato surgiu a Rosa dos Ventos, criada por Nelson Jungblut, nosso diretor de arte. Aconteceu então um fato inusitado. Pela primeira vez uma empresa aérea mantinha no bojo das suas aeronaves dois símbolos – A Rosa dos Ventos e o Ícaro. Os comandantes não aceitaram a retirada da figura do Ícaro, que permaneceu junto a porta da cabine de comando. Nas peças publicitárias o Icaro foi dando lugar a Rosa dos Ventos, saindo na gestão de Érik de Carvalho. Criativos anúncios traziam com a assinatura, slogans que apresentavam o posicionamento da empresa como: VARIG – A maneira mais elegante de voar (público feminino) VARIG – a Pioneira (imbróglio com a Real Aerovias). VARIG – Voando mais para que todos voem melhor (aumento da frota) Varig – acima de tudo você ( ganhando elogios de Berta.)

 

Depois, nos anos noventa, o logotipo sofreu sua última alteração, numa atitude de rejuvenescimento do símbolo e nova pintura. A criação foi da Agência Young & Rubican, que havia comprado a Expressão Brasileira de Propaganda, pertencente ao grupo Varig, em 1996, por 5 milhões de dólares, encerrando um ciclo histórico de mudanças. e começando outras. Finalmente, o Icaro era apenas doce recordação de momentos grandiosos, vividos por gente, como a gente, orgulhosos pelos feitos conquistados, passando a lutar por uma causa perdida incapaz de defender seu chão, onde ideias ganharam forma de conquistas. O Museu era a esperança de um futuro sem fim. O testemunho vivo da história. A herança para a eternidade que virou pó. A Varig, enquanto viva, pulsante, deslumbrou uma geração que transferiu para seus filhos e netos um conto de fadas, que na verdade existiu.

TUDO NOS UNE – NADA NOS SEPARA

TUDO NOS UNE – NADA NOS SEPARA

Variguinho chorou

 

SERGIO PRATES, ASAS LIVRES
NUM VOO JUNTO AS ESTRELAS
SEM O ADEUS DA PARTIDA
NA CERTEZA DA LEMBRANÇA
DAQUELES QUE AINDA VIVEM
CORAÇÕES AGRADECIDOS
INFINITAMENTE AMIGOS!

TUDO NOS UNE
NADA NOS SEPARA

6 DE MAIO DE 2023
Mario de Albuquerque

BERTA E O SERVIÇO DE BORDO NA VARIG

BERTA E O SERVIÇO DE BORDO NA VARIG

Com as aeromoças a conquista dos céus.

Comissaria Alice Klausz, – nome lendário reconhecido no mundo da aviação pelas premiações recebidas o desempenho do serviço de bordo na Varig

No  advento do Super Costellation Berta criou o serviço de bordo e teve que admitir aeromoças, seguindo uma tendência das congêneres. Foi justamente em 1954, ano em que ingressei na Varig, quando  a companhia ampliou o planejamento para a rota dos Estados Unidos. Preocupado com a qualidade do atendimento ele inaugurou o serviço de bordo, situado num grande pavilhão junto ao Parque de Manutenção, em Porto Alegre.  Sua primeira turma era formada por cerca de  20 moças e uma delas, Alice Editha  Klausz será ´lembrada para sempre (segundo a colega Claudia Vasconcelos) não só pela competência e elegância, mas por ter sido convidada pelo presidente Ruben Martins Berta para formatar e dirigir a Escola de Comissários – enquanto em atividade era considerada a comissária mais antiga  e qualificada do Brasil na profissão.

Alice, entre os dois presidentes – JK e Berta – recepçãp especial com tratamento VIP

O serviço de bordo começou com uma simples cozinha, contígua ao Parque de Manutenção, em Porto Alegre, servindo-se na sua maioria dos produtos industrializados do Rio Grande do Sul. Em seguida foi montada outra cozinha no  bairro Botafogo, no Rio de Janeiro. Em função da demanda  nova cozinha foi inaugurada em Bomsucesso, mais próxima do aeroporto do Galeão com maiores dimensões, dando origem , mais tarde, ao majestoso Catering – Rio, comandado pelo gaúcho Sergio Prates, diretor do serviço internacional. Ele foi um dos baluartes do grande êxito do serviço de bordo da Varig. Tinha ingressado na Varig em julho de 56, na área de  contabilidade da empresa sendo emprestado a  Superintendência do Serviço de Bordo, comandada por Damião Kluve, para ajudar no controle do material e ali permaneceu por 19 anos, deixando sua marca administrativa e contribuindo para que a Varig atingisse todos os parâmetros de qualidade.

Sergio Prates e Erik de Carvalho- Nos anos dourados da Varig, serviço de bordo que atingiu a excelência

Até certo ponto, sinto-me constrangido por elogiar o trabalho por ele desenvolvido, mas a verdade é o apanágio dos fortes. Meu amigo pessoal, companheiro de peladas do futebol na Varig, junto com Walterson  Caravajal, aproveitávamos os fins de semana para descontrair, até que o tempo ficou  escasso para todos e os encontros diminuíram, mas a amizade ganhou raízes. Admirado e querido por seus amigos e colegas, Sergio mantinha serenidade nos momentos mais conturbados, repassando um clima de confiança aos seus colaboradores. Economista por formação, ele chegou a comandar cerca de seis mil colaboradores considerava-se um continuador do serviço de bordo da Varig, implantado por Berta, o maior responsável pela fama que a Varig conquistou.

Berta vai as compras no Foire de Paris – O cardápio de bordo passava pelo crivo de presidente. A carta de vinhos era resultado do seu atilado paladar

Ao contratar os serviços do Barão Max  Von Stuckart, um austríaco que ganhou fama à frente do lendário restaurante carioca Vogue, Berta teria dito: “Faça algo que possamos nos orgulhar’. O recado foi atendido. A Varig  passou a oferecer aos passageiros o melhor serviço de bordo entre todas as empresas aéreas do mundo. Contando com os mais conceituados “maitre e chefes de cuisine”, criavam verdadeiros banquetes nas nuvens. Vestidos a caráter acompanhavam o voo no trecho Rio – Nova York, servido junto com os melhores vinho, desde faisão a lagosta à Thermidor em pratos de porcelana e copos de cristal, num voo de 26 horas (Porto Alegre, Rio, São Paulo, Belém, Port of Spain e Ciudad Trujilo) com atendimento nunca visto. O conforto e o serviço de bordo na época, sob a tutela de Alice Klausz, jamais foram igualados em qualquer tempo.

 

Alice Klausz e suas gurias (muitas eram gaúchas, recrutadas do interior do estado – brasileiras de origem alemã, e/ou italianas, uniam beleza e a vantagem de dominar mais de um idioma) –  desenvolviam uma atividade exuberante, mostrando a eficiência de uma equipe treinada com  afinco, conforme Claudia Vasconcelos revela em seu livro -Estrela Brasileira:

* No voo para Nova York,  com o Super Constellation, durante a entrada oferecíamos champanhe Moel & Chandon e sucos de laranja, Quando os  passageiros estavam a bordo passávamos o carrinho com revistas e jornais do Brasil e do Mundo. Distribuíamos nécesaire de couro, com repartições internas, masculino e feminino, contendo colonia Eau Rochas, loção corporal Rochas, creme de barbear, escova e pasta de dente, pente, calçadeira, polidor de calçado, máscara protetora de olhos, protetor de ouvidos contra ruídos e acompanhando esse “Kit tudo’ um par de chinelos para cada um.. 

* Nos bolsões das poltronas  mapas, papel  e a cobiçada caneta. As mesas eram forradas com toalhas de linho As louças eram de marca japonesa  Noritake  (motivos dourados para o serviço de jantar, prateadas para breakfast. – e uma pequena tigela com amendoins, castanhas e nozes, da marca Planters. 

* Servíamos canapés frios – torradinhas cobertas com pastas de roquefort, ovas de salmão com maionese, foie gras e pequenas bolinhas de caviar, com uma miniifatia de  limão e quentes, palitos de churrasquinho e casquinhas de siri. Terminado o serviço de drinks passávamos  ainda um carrinho de bebidas, com garrafas de Johnnie  Walker – Black e  Red Label, Chivas, Ballantine’s,Jack  Daniel’s – Vermouth seco e doce, e dezenas de marcas internacionais de vinhos tinto  –  Chateaunef du Pape.(Cotes du Rhone), Chambertin ( Bourgogne) e Saint Emillion (Bourdeaux) e outros rótulos branco e rosé francês, além de cervejas e refrigerantes. importados.

No lounge, autentica sala de estar – O Super Constellation passou a equiparar-se a um hotel de luxo entre as nuvens

* Entrava então em cena o carro sensação. O carro chefe. O carro de caviar. Trazia, na parte superior, uma lagosta com galantine,- uma concha de alumínio corrugado, em forma de ostra, – cheia de gelo moído encimado por uma lata grande de caviar Beluga Monossol e limões cortados ao seu redor, vodka. Stolichnaya envolta em gelo enluvando  a garrafa, copinhos gelados para servir a vodka. tigelinha com  manteiga clarificada  sour cleam, limões em fatia, cebola cortadas em cubinhos reduzidos ao seu tamanho mínimo, gema e clara de ovo picadas, uma forma coberta por um guardanapo com blinis aquecidos e melba toasts.  Na parte inferior, melões com presunto de Parma, pratinhos e copos

* Em seguida saiamos com o carro de sopas – cremes de palmito ou aspargos e consumé com croutons e pequenas lascas de panquecas no funda da xicara – e salada da estação com vários tipos de molhos  – thousand island, vinagrete, blue cheese – sal, pimenta em sachês, azeite, saladeira e pratos. Na parte d baixo cestas com torradas e pão variados aquecidos.

* Logo após, o carro de pratos quentes vinha com uma tábua de churrasco com uma peça comprida e arredondada de filé e outra de costela argentina., ladeadas por um espeto de camarões gigantes fritos no alho e olho Barbecue sauce , mostarda Dijon e ketchup eram as opções de condimentos. guarnecidos de arroz à grega, ervilha com cebola e palmitos na manteiga. Recolhíamos as bandejas e saíamos com o carro de sobremesa, que vinha com uma taboa decorada com nozes e com os queijos Camembert, Ementhal, Babybel, Roquefort. Acompanhavam uma tigela com bolihas de manteiga, uma cesta com frutas da estação, torta  Floresta Negra, champanhe e vinho do Porto

* Completando o banquete, passávamos o carro do café, com sachés de After Eight, chá preto, verde e digestivos : Cointreau, Amaretto Di Saronno, Drambuie, Menta, Frangelico, Benedictine, Cognac Courvoisier, Armagnac, Napoléon, copinhos de chocolate para o licor Baileys, tijela com açucar e adoçante, tudo seguido de chocolates suíços variados, pequena caixas de cigarros com quatro unidades, acompanhados  com caixas de fósforo personalizadas. Entregávamos as mantas e solicitávamos o fechamento das cortinas das janelas, desejando um sono reparador. Para os notívagos, a equipe de plantão noturno, sempre atenta, oferecia sucos, refrigerantes, água e cafezinho. Na galley, outros itens garantiam o conforto dos passageiros. 

RESPINGOS DA LEGALIDADE (4/4)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (4/4)

Relatos de uma história real

O JATO DA LEGALIDADE VIROU CINZA EM BRASÍLIA  – e Brizola estava dentro.

Brizola não viajou para Brasília. A explicação oficial  era que precisava ficar na retaguarda, pronto para debelar qualquer crise que pudesse surgir até a hora da posse. A Jango, Brizola fora sincero,  não poderia homologar sistema de governo de um ato de violação à  Constituição, O jato da Varig tinha decolado para Brasília no chamado vôo da Legalidade, sem o cunhado, numa clara posição de desacordo com  decisão de Goulart, criando um ambiente de animosidade entre ambos que só veio  acalmar-se 20 dias depois da posse, quando o governador aceitou participar de uma caravana representativa do Rio Grande numa visita oficial ao presidente, no Palácio da Alvorada, em Brasília. Por fatalidade, na primeira viagem que fez ao cunhado ele participou de um fato dramático, quase tragédia .O mesmo  PP-VJD, exaltado como Caravelle da Legalidade, teve um pouso dramático no aeroporto da capital federal, ao tocar o solo, com 62 pessoas a bordo, sendo logo envolvido pelas chamas. Por um verdadeiro milagre todos os passageiros conseguiram salvarem-se, abandonando ilesos a moderna aeronave, que em pouco tempo foi totalmente consumida pelas chamas.

Ainda, durante a noite do acidente, apesar da tensão vivida, Brizola não decepcionou àqueles que o esperavam em Brasília. Esteve aproximadamente por uma hora no Palácio da Alvorada, conversando com João Goulart e depois, na Praça dos Três Poderes, do alto de um caminhão improvisado como palanque, fez um discurso emocionado. Segundo informações preliminares constantes no relatório da tripulação, ao qual tive acesso, o tempo estava ruim, tendo a aeronave derrapado na pista. O trem de pouso se desprendeu e aconteceu um rolamento de barriga. Com o impacto, em consequência do atrito, o querosene da asa se espalhou e pegou fogo, entrando pela parte traseira do avião, onde ficam as turbinas .Mais tarde, através de relatório oficial realizado pela Guarnição Aérea de Brasília negou a existência de problema técnico e atribuiu o acidente a falha do piloto por ter feito uma tomada de pista muito curta permitindo o toque no solo antes do início da área asfaltada. A quebra do trem de pouso e o fogo causado por vazamento de querosene viriam em consequência do erro humano. Tal ato veio corroborar a teoria de Berta que a maioria dos acidentes aéreos era causado pelo fator humano, coisa que a APVAR discordava.

A defesa da Legalidade trouxe uma série de preocupações para todos nós da Varig. Pelo fato da requisição do movimento legalista para colocar seus aviões à disposição da causa, nosso parque de manutenção (onde iniciei na Varig) passou a ser alvo de incursões  aéreas. Havia comentários, confirmados, sob um possível ataque ao Palácio Piratini, para calar Brizola e a Rede da Legalidade. Colocando sua frota à disposição da Legalidade, Berta deu demonstração de coragem e patriotismo, oferecendo sua própria cabeça em jogo  (e a de todos nós juntos) A diretoria da Varig, comandada por Berta, sempre achou que a Varig tinha  dívida de  gratidão para com o povo do Rio Grande do Sul.  Finalmente, missão cumprida, conseguimos voltar a rotina do nosso trabalho, que por sí só, já era bastante agitado.

Deste episódio guardo uma lembrança fantástica. Era a imagem impressa em cores de N. S.ª Aparecida. encontrada no meio dos destroços totalmente queimada pelos lados – apenas a imagem da santa conservava-se intacta, chamuscada, sem nenhum arranhão. Esta relíquia me foi trazida pelo colega e amigo Giuseppe Marinsek, inspetor de pista, passando mais tarde a fazer parte do acervo histórico do Museu da Varig

RESPINGOS DA LEGALIDADE (3/4)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (3/4)

Relatos de uma história real 

 SOLUÇÃO FOI O PARLAMENTARISMO

 

Durante a madrugada sugiram informações  de que a FAB havia  detonado a Operação Mosquito. O objetivo era abater qualquer avião que entrasse sem autorização no espaço aéreo brasileiro. Era uma notícia preocupante. Vidas preciosas estariam correndo sérios riscos, acrescentando – se aí a possibilidade das instalações da Varig serem alvo de alguma agressão  Berta chegou de cara amarrada pedindo para analisar a disponibilidade de algum avião  realizar o voo da legalidade, como Brizola definia a volta de Jango ao poder, Os principais aviões estavam retidos fora de Porto Alegre, com voos interrompidos, e outros  retirados estrategicamente pela nossa equipe, com aval de Berta, pela ameaça de atentado contra o Parque de Manutenção da Varig.

Depois de consultar a manutenção e escala de voo (cmt. Lauro Rabello) com aval do Eng.Viana e ok de Berta, liberei o Caravelle PP-VJD, ( já  abastecido para voo internacional) estacionado no Rio de Janeiro, para executar a perna Rio- Montevidéu e de lá trazer o presidente até Porto Alegre, onde estabeleceria estratégias com sua base de apoio. Ao amanhecer de sexta-feira ele embarcou para o Rio Grande do Sul. Com as luzes apagadas e as cortinas cerradas, o Caravelle decolou do aeroporto de Carrasco com passageiros e tripulação sob tensão. O jato  pousou no aeroporto Salgado Filho as 20h35 min do dia 1º de setembro trazendo o  vice-presidente.

Toda estratégia havia sido montada por Leonel Brizola desde o dia anterior, evitando que fosse conhecida em detalhes a chegada ao Rio Grande (Operação Mosquito da FAB)   Passou  a informar aos jornalistas brasileiros e estrangeiros, através da Rede da Legalidade, de que Jango partiria de Montevidéu por terra, acompanhado por uma caravana  de carros. O assunto repercutiu  na Varig onde passamos a confirmar a versão do governador.

Tancredo Neves, foi figura central na decisão de Jango em aceitar o sistema do Parlamentarismo, evitando enfrentamento traumático entre brasileiros.

Já na chegada do jato brasileiro no  aeroporto, Salgado Filho, correu a informação de que por solicitação do presidente  –  interino, Ranieri  Mazzilli, haviam  desembarcado em Montevidéu, os ministros Tancredo Neves e Hugo Faria, com a missão de convencer Goulart a aderir ao sistema do parlamentarismo, o ideal para resolver a difícil celeuma, evitando derrarmamento de sangue entre os brasileiros,  –  decisão que vinha ao encontro  de Jango, o que acabou acontecendo. O futuro  presidente  da República estava consciente que iria governar com poderes limitados. Às 20h20min no dia 5, Jango chegou à Capital Federal. Um tapete vermelho foi estendido para receber o futuro presidente. Dezenas de deputados  e Senadores aguardavam a  comitiva presidencial. O rigoroso esquema de segurança estava sob o comando do general Ernesto Geisel, que havia assumido a chefia da  Casa Militar. Em 7 de setembro, às 15h30min, em sessão conjunta da Câmara e do Senado, João Goulart assumiu a Presidência da República. A meia – noite desfazia-se a Rede da Legalidade

RESPINGOS DA LEGALIDADE (2/4)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (2/4)

Relatos de uma história real.

 

O VOO SECRETO COM KRUEL E BERTA

 

Vultos emergiram das sombras – “fingi assombração”.

Os aviões da VARIG procedentes do exterior passaram a ser revistados, inspecionados pelos militares. à procura  da possível vinda clandestina de João Goulart. Ciente da situação, Berta apressou-se em comunicar o fato  ao governador gaúcho. Atendendo a solicitação de Brizola ( como sempre) Berta se deslocou para o Rio de Janeiro num DC-3, trazendo a bordo o General Amaury Kruel, que era padrinho de João Viicente, filho de Jango

Amaury Kruel , militar histórico, tinha estudado no Colégio Militar, em Porto Alegre. Em 1930  tomou parte, no Rio de Janeiro, da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder. Garantiu o golpe de 64, através de São Paulo. Fora ministro da guerra do ex-presidente João Goulart.. Com a chegada dele, mesmo sendo já na reserva das forças armadas (exonerado  como marechal)  Brizola esperava ter ao seu lado um oficial capaz de assumir o comando da operação, Também pediu a presença do  banqueiro  e ex-embaixador Walter Moreira Salles.

A pedido de Brizola, numa operação secreta voando de DC-3 camuflado, Berta foi buscar no Rio de Janeiro o general Amaury Kruel para assumir o comando militar da Legalidade.

 Pelas circunstâncias o voo foi secreto, tendo o  presidente da Varig comandado toda operação junto com a tripulação e os passageiros. Eu, apenas inventei um susto quando de madrugada, emergindo das sombras, deparei-me com aqueles vultos  –  fingi assombração.. Eles desembarcaram na cabeceira da pista do Salgado Filho na noite de 2 de setembro e rumaram para o setor da manutenção onde eu trabalhava. O general estava à paisana e, provavelmente, trazia sua farda .em uma mala que carregava. Depois, seguiram para o Palácio do Governo. Berta começava seu envolvimento com o  movimento legalista, onde teve uma destacada atuação. Ele colocou todo o parque  de manutenção à disposição da causa, num gesto de agradecimento ao apoio dado por Jango e Brizola na conquista das linhas internacionais da empresa, tanto para Buenos Aires  como para  Nova York.

RESPINGOS DA LEGALIDADE (01/04)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (01/04)

Relatos de uma história real

 

Ligado a Engenharia, trabalhava no CSM (Controle de Serviço da Manutenção) cuja função era escalar os aviões para os voos de linha. Havia ligação direta com o Eng. Claudio Barreto Viana, responsável por comunicar à presidência da Varig, qualquer anormalidade que viesse configurar um atraso, algo que Berta abominava.

Nossa função principal era movimentar um grande painel que cobria praticamente toda a parede lateral de uma ampla sala, onde ficavam afixados os prefixos de toda a frota. O trabalho consistia em fazer a indicação de dezenas de voos diários, determinando horário com escalas e destino final, bem como retorno de cada um à base ou pernoite fora.

Foi justamente nessa função que acompanhei e participei, bem de perto, do movimento histórico da política brasileira dentro do episódio da Legalidade, liderado pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola. Ele usava a imprensa, especialmente os jornalistas, também, como escudo de proteção física e espaço para difundir as suas ideias. Considerava-se imune a possíveis atentados.

O pessoal da imprensa do Brasil e Exterior inundava nosso setor buscando informações. O governador gaúcho pleiteava junto a Berta, a escala de pelo menos dois aviões para cumprir a promessa de levar o pessoal ao encontro de Jango e trazê-lo de Montevideo.

Mais uma vez Brizola convocou Berta para auxilia-lo na empreitada e pediu uma solução imediata. O problema foi transferido para o nosso setor, onde eu me achava em prontidão. Era um jogo de xadrez que pedia xeque-mate num único lance.

Os aviões estavam escalados para os voos de linha –  uns decolando outros chegando. Restavam dois, preparados como reserva técnica. Era preciso, também, avisar a Escala de Voo para providenciar na tripulação –  tudo feito com a agilidade que a situação exigia.

Depois de alguns ajustes a manutenção aprontou dois C-46. Um deles era cargueiro, ainda com bancos de lona colocados numa fixação lateral. As emissoras noticiavam com alarde o deslocamento dos aviões levando junto a perspectiva de entrevista histórica.

Um C-46 improvisado, ainda sem poltronas, foi a solução encontrada para levar os jornalistas na entrevista com Jango, em Montevideo – Berta (de pé) foi junto para conferir.

Berta colocou os passageiros como dava, usando os bancos de lona –  depois de ver todos acomodados (do jeito que dava) foi juntar-se a tripulação na cabine de comando, sempre dando ordens, como costumava fazer

O trabalho, naquele dia especial, foi incessante. Mas não havia tempo para descansar – coisa que nunca passou pela cabeça de nenhum de nós, totalmente envolvidos pela expectativa da batalha que se aproximava – com o perigo eminente do nosso Parque de Manutenção voar, literalmente, pelos ares.

 

PÁSCOA 2023

PÁSCOA 2023

” No hangar da manutenção  a Páscoa era comemorada no domingo,  com missa campal rezada por padre católico e culto por pastor protestante, onde a amizade fraterna fazia de todos uma só alma em um só corpo, com a benção de Deus.

GRÊMIO E CAXIAS NO ACIDENTE DA TAM

GRÊMIO E CAXIAS NO ACIDENTE DA TAM

O MILAGRE DE ESTAREM VIVOS

 

Quando Grêmio e Caxias assumem  o protagonismo do futebol gaúcho vale lembrar um episódio histórico envolvendo as duas equipes que emocionou o Brasil e o Mundo.

 

Os jogadores não acreditavam no milagre de estarem vivos, lamentando a sorte daqueles que ocuparam seus lugares. A troca da rota  para Brasília salvou o Grêmio  de um final macabro.

Grêmio  e Caxias reviveram do susto que levaram escapando por contingência do destino de uma morte cruel, consumada pelo fogo do maior desastre  que ceifou vidas queridas da sociedade rio-grandense, entre outros, deixando uma lacuna difícil de ser suprida.. A noticia que as delegações do Grêmio e do Caxias eram passageiros do voo da TAM destruído no aeroporto de Congonhas causou consternação total ,especialmente no Rio Grande do Sul, (172 gaúchos a bordo), deixando apreensivos uma legião de torcedores  e a população em geral, naquele que foi um dos maiores acidentes de aviação comercial no pais.. O jato da TAM,  no voo  3054, em 2007, levando  a equipe do Grêmio de Porto Alegre até São Paulo,  (era a versão) saíra da pista  e explodira  no aeroporto de Guarulhos matando todos os seus ocupantes (187)  A noticia corria de  boca em boca e a televisão confirmava, mostrando cenas como se inferno de Dante estivesse presente.

Com voo lotado, o treinador Mano Meneses ( agora no Inter) não aceitou dividir o grupo, salvando o Grêmio de uma tragédia.

O fogo devorava tudo e a todos. Era uma catástrofe inimaginável e o pessoal da TAM, tomado pelo pânico, não conseguia liberar a lista  dos passageiros, O mau tempo dominava o ambiente com chuva torrencial inundando a pista, causando atraso nos voos e cancelamentos, notícias que já começavam a inibir o grupo, causando stress emocional desnecessário e prejudicial ao comportamento psicológico da equipe, fato  que gerou uma série de especulações O treinador Mano Meneses era o mais inconformado com a situação, que se apresentava em São Paulo. Na véspera surgiu a notícia inesperada (salvadora) avisando da impossibilidade de acomodar todo o grupo  oferecendo o remanejamento para a capital federal no voo JJ 3764,às 16 horas com conexão imediata para a capital Goiás. Era o destino desejado pelo Grêmio onde enfrentaria na quinta-feira a partida Goiás(0) x Grêmio (0) no estádio Serra Dourada, pelo campeonato nacional.

O time do Grêmio Vice-campeão da Libertadores em 2007 – equipe vencedora, escapou por detalhes de um doloroso fim

Em Congonhas era comentário geral que a delegação do Grêmio  havia embarcado no voo em Porto Alegre, posição complicada pela negativa da TAM em fornecer qualquer listagem oficial dos passageiros, (o que viria ocorrer somente na madrugada do dia seguinte).. Entre as vitimas encontravam -se dezenas de figuras notáveis da sociedade gaúcha –   deputado federal Júlio  Redecker, o ex-presidente do Internacional, Paulo Roberto Amorety Souza, João Roberto Brito, diretor geral do SBT,  em Porto Alegre, e o  gerente regional da TAM, no Estado,  Marco Antônio da Silva, meu fraternal amigo desde os tempos da VARIG, quando mesmo sendo concorrentes mantínhamos relações cordiais, em defesa do sistema que éramos responsáveis. Ele acabara de ser nomeado superintendente  da TAM, transferido para São Paulo, depois de 11 anos servindo os gaúchos. Eu fui ao seu encontro para desejar felicidade num forte abraço que o destino reservava para ser o derradeiro.

Diego Souza, hoje ainda fazendo parte do plantel tricolor, já era destaque em 2007

Outro amigo meu e companheiro jubilado da Varig, comandante João Stepanski,  veterano com milhares de horas voadas, passava momentos de grande angustia, com a possível perda de seu neto, tripulante da TAM, cujo corpo não era identificado, bem como não constava na lista da empresa – Somente alguns dias depois foi revelado sua identidade – em vídeo do aeroporto onde Marcos Stepanski Jr. aparecia na escada de embarque do avião. Ele havia viajado na condição “não operante” na cabine da tripulação. Em São Paulo tinha hora marcada para realizar o sonho de sua carreira –  exames na  aprovação  para comandar o gigante  Airbus, o  mesmo que lhe tirou a vida..

 

EMOÇÃO TOMOU CONTA  DO TIME DO CAXIAS

Incrédulos eles confessavam – “Nós poderíamos ser vitimas” –  muitos choravam

O Jornal de Brasília deu em manchete, matéria do  seu correspondente no Sul –  – CATÁSTROFE PODERIA TER ALCANÇADO GRÊMIO E CAXIAS . Além da delegação do Grêmio, o elenco do S.E.R Caxias esteve perto de embarcar no voo 3054 da TAM  para São Paulo, de lá para Maringa, no Paraná, onde  enfrentaria o ADAP/Galo na quarta-feira, pela Série C  do campeonato brasileiro, mas embarcou no dia seguinte ao acidente. O voo dos jogadores do Caxias mudou a rota e desembarcaram em Curitiba, onde os passageiros souberam da tragédia. Conforme Gustavo Reck -( assessor de imprensa) o elenco ficou muito emocionado  -” Nós poderíamos ter sido vítimas” – e muitos choraram. Até terça-feira a noite o Caxias ainda não havia decidido se seguiria de Maringa de ônibus ou de avião –  optando Mela primeira hipótese

A equipe estava na lanterna do grupo 16, já que perdera os dois jogos que disputou na Terceirona contra Joenville e Esportivo de Bento Gonçalves.  Hoje, o Caxias disputa o Gauchão podendo sagrar-se campeã do Estado se abater o Grêmio  na final. Perdeu a chance de ingressar na série C do Brasileirão numa derrota incrível para o América-RN, ao tomar 2 golos nos minutos finais perdendo por 2 X.1