GENTE NOSSA & COISAS NOSSAS

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Espaço Livre na busca da Integração 
Convite para exercitar sua paixão pela VARIG,
 lembrar amigos, contar histórias reviver,
momentos gravados na trajetória de vida
       como parceiro atuante da nossa
GRANDE FAMÍLIA VARIG
Marque presença -> agrandefamiliavarig@gmail.com –  Assunto: Gente Nossa

MINHA ENTRADA NA VARIG FOI  UM GOL DE PLACA

Seleção gaúcha do Colégio Deliberante. Campeã da Copa Internacional Ruben Berta, nos anos 70. O time jogava por música sob a batuta do dono da bola…

O futebol reservou para mm momentos inesquecíveis, sendo fator de grandes amizades que se estenderam pelo mundo Varig. Nos anos 70  eu era membro do Colégio Deliberante, quando foi organizada a Copa Ruben Berta, reunindo as seleções de Porto Alegre, São Paulo. Rio de Janeiro e Resto do Mundo ( como chamávamos o pessoal do exterior).Como anfitriões cumprimos memorável jornada, alcançando de forma invicta o título de campeões. Este evento abriu as portas para mim. gerando inesquecíveis amizades ao redor do nosso mundo, fortalecidas com a edição da Rosa dos Ventos e da Revista de Bordo Icaro.

ENTRADA NA VARIG FOI  UM GOL DE PLACA

Um dos meus amigos inesquecíveis na Varig, chama-se Gastão  Edgar  Bayer, companheiro do Treze FC, um time da rua Portugal, papão na zona, que se reunia no Bar do velho Rubens e dona Otília, formado na sua maioria por funcionários da Varig.. Na época, eu tinha fama de craque ( jogava nos juvenis do Força e Luz, da primeira divisão profissional, enfrentado os  “cobras” da categoria, do Inter e do Grêmio e me saia bem. A Varig estava inaugurando  o seu  Ginásio de Esportes  com cancha coberta, coisa inédita, bolada pelo Seu Berta  (como eles o chamavam). Havia uma disputa acirrada entre os times do campeonato interno organizado pelo Grêmio  Esportivo dos Funcionários da Varig( ( GEFUVAR) que era assunto badalado entre o pessoal do 13.

 Certa vez, o Gastão veio trazendo a tiracolo  o Irgen Negri e o Arno Kaiser. com um convite irrecusável –  jogar no “Gato Preto”, para reforçar o time com meus dribles desconcertantes e domínio de bola, tudo que era exigido num espaço curto. Mas, tinha um detalhe. Precisava ser empregado da Varig. Os dois  (Kaiser e Negri) eram chefões.na companhia e logo resolveram o imbróglio, conseguindo uma vaga no CSM  (Controle de Serviço da Manutenção). Para ser admitido na Varig, era necessário passar por uma entrevista e fazer exame de conhecimentos gerais. que consistia alguma coisa como história e geografia, exercícios de matemática e um tema de redação. Eu,  tinha terminado o Científico, nas Doires,  e estava na “ponta dos cascos”.  No outro fim de semana, Kaiser me avisou que precisava me apresentar na Varig para saber o resultado de responsabilidade do  setor de Recurso Humanos. Fui atendido por Eurico Mozer (que viria a tornar-se grande companheiro). O encontro foi cordial e logo veio o resultado considerado muito bom.

Faltava saber o valor do ordenado, Foi bem maior do que o esperado.. Levei um choque e mostrei minha reação pelo vermelhão do rosto. Ele  imaginou do meu desagrado e de imediato completou com desculpas, afirmando que logo viria aumento . Um quadrimotor estava chegando e os voos para o exterior significavam  um crescimento garantido.. Saí correndo  (de bicicleta) para levar a novidade para a família, passando antes na casa da Geny, na Coronel Feijó, (garantindo os anéis do noivado)

Quando iniciei minha atividade na Varig ( O7/O7/54) logo senti a importância da Fundação dos Funcionários e a presença de Ruben Berta como líder inconteste da organização, .onde eu construiria uma carreira de 40 anos, dedicados a divulgar e fortalecer a marca Varig pelo Brasil e o mundo.. Três ano depois do meu ingresso, no majestoso Ginásio de Esportes que me acolheu, pude viver a emoção do meu casamento com a Geny, que passou a  juntar ao seu nome Torres de Albuquerque, numa união  que nos deu três filhos lindos, cinco netos e agora a primeira bisneta que acaba de chegar. Tudo fruto de um casamento que neste mês de dezembro completou 64 anos  de felicidade, sempre contando com a sombra protetora da Varig,(através do Aerus) que permanece viva em nossos corações.

MARIO DE ALBUQUERQUE

COM O JATO, CONSTELLATION VIRA SUCATA

COM O JATO, CONSTELLATION VIRA SUCATA

Declaração bombástica de Berta

COM O JATO,  CONSTELLATION VIRA SUCATA

Em entrevista exclusiva para João Martins, da revista O Cruzeiro, realizada a bordo de um protótipo do Boeing – 707, aparelho encomendado pela Varig. Berta fala sobre o futuro da aviação comercial com a chegada dos jatos – anuncia o fim dos aviões a pistão e teme a sombra da Aerobras.

Aviação brasileira se renova ou não poderá manter a posição que hoje desfruta – afirmava Berta. E acrescentava –  No Brasil e em todo o mundo as maiores empresas de aviação estão iniciando a corrida para os aviões a jato:. ” Dentro de poucos meses os grandes quadrimotores a hélice passarão a serem usados apenas nas linhas domésticas e não está longe em que tudo será apenas uma lembrança do passado.

Tal  declaração de Berta, feita em 21 de junho de 1958, demonstra o desespero na aquisição do Super Constellation, encomendado de fábrica para cobrir a linha de Nova York em 1955. Na verdade, a Varig não possuía avião qualificado para fazer esse voo, cuja concessão já tinha sido perdida pela Cruzeiro pelo mesmo motivo. Berta viajou para a Inglaterra atrás do COMET, ainda em testes, apresentando vários problemas técnicos. Pelas circunstâncias ficou com o Constellation, já sabendo que em breve o moderno  quadrimotor a hélice seria apenas uma sucata. Mesmo assim, investiu muito no avião. Gastou uma fortuna modificando cabines e preparando pessoal para voo e manutenção. Considerava um investimento de risco, pois não podia perder a oportunidade de qualificar o nome da empresa com um trabalho diferenciado.

Nos encontros de São Borja – o desejo de fazer da Varig uma empresa do mundo.
Em 1952, com a desistência da Cruzeiro à Varig ganhou de Getúlio a concessão da linha de Nova York (com subvenção e sem ágio, na compra do Constellation).

Na ânsia de ser pioneiro do jato e cumprindo  promessa feita a Juscelino, realizou em 1959, a aquisição do Caravelle, jato da Sud Aviation, outra compra duvidosa – não dispunha de autonomia para voos mais longos e em seguida foi dispensado. Berta tinha interesse no Boeing-707 jato que achava perfeito para rota internacional entregue pela fábrica somente em 1960. Na matéria  da revista Berta garantia – “O progresso da aviação esta se processando numa escala geométrica. Os voos supersônicos para passageiros já estão em estudos. Estes dias que estamos vivendo são início de uma nova era para a aviação comercial.

Ainda, segundo Berta: “metade da frota da aviação comercial brasileira da época era composta de aparelhos DC-3, antiquados e antieconômicos – ou a aviação brasileira se renova ou não poderia manter a posição que ainda hoje desfruta. E afirmava -” Os aviões a jato, no entanto vão representar problemas econômicos novos  A solução, na palavra de Berta, seria distribuir  entre as várias companhias os serviços comuns a fim de pulverizar custos, concentrando capital para enfrentar o alto custo dos aviões – um Boeing 707,em 1960, tinha o custo de cinco milhões de dólares, além dos equipamentos para mantê-lo em serviço. Como premissa básica seria necessário reduzir a competição entre as empresas. Defendia ele a tese de que a aviação deveria se sedimentar em torno de três ou quatro consórcios de companhias, cada um bastante grande para atingir o objetivo visado dentro de uma competição controlada. Caso as empresas não chegassem a um acordo caberia ao governo intervir nas concessões para provocá-lo, como nos Estados Unidos, quando o governo ordena a fusão da companhia, atendendo interesse público..

Berta foi buscar o COMET e trouxe o Constellation – vida curta com grandes realizações conquistando Nova York

Berta, garantia que o governo deveria prever uma revisão tarifária que permitisse às companhias operar livremente as linhas  O grande pavor de Berta com tudo isso  era a possibilidade de toda  esta mudança vir a prosperar, ou seja –  uma companhia única, controlada pelo governo. E finalizava – “isso me dá arrepios ao lembrar que as nossas companhias governamentais marítimas e férreas dão um déficit anual de 25 bilhões de  cruzeiros e estão no estado que todos nós conhecemos.

Em 1960 quando estiver decolando dos aeroportos com nossa bandeira, o Boeing 707 será o avião mais testado, portanto o mais seguro de todos os jatos comerciais – contanto que não tenhamos , então a Aerobras, finaliza o homem forte da Varig.

Depois do pesadelo com o Comet, a realidade de um sonho, com o Boeing-707
Como a Varig e Panair escaparam do massacre do Comet

Como a Varig e Panair escaparam do massacre do Comet

 JATOS EXPLODIAM NO AR COMO BOMBAS VOADORAS

O incrível  Comet, construído pela De Havilland na Inglaterra,  era assombroso sob todos os aspectos. Fez seu voo inaugural em 22 de janeiro de 1952, sendo o primeiro jato comercial do mundo a receber certificação. Voava mais rápido e mais alto do que qualquer outro avião concebido. Num salto espetacular de tecnologia, alcançava 725km de velocidade (dobro dos concorrentes) acomodava até 48 passageiros, garantindo conforto nunca igualado. Voando em grande altitude ficava isento de turbulência. Suas janelas quadradas, panorâmicas, chamavam a atenção e ajudavam a fazer do Comet um sucesso de vendas. A BOAC, em 52, encomendou oito Comet voando até Tokyo. Até mesmo a Pan American também entrou na fila e solicitou oito jatos, sendo a primeira compra de uma aeronave inglesa adquirida por uma companhia norte -americana. Ainda no mesmo ano uma das aeronaves da BOAC acidentou-se em Roma, sendo a culpa repassada a erro humano, devido a complexidade da operação.

Projeto avançado, cheio de falhas, explodiu o jato pioneiro

Na entrega de um Comet para a Canadian Pacific, em 53, o jato não conseguiu levantar voo. Interrompeu a decolagem e explodiu no final da pista, matando seus onze ocupantes. Entre as investigações que se seguiram, após terríveis acidentes, ficou constatado que projetar um avião com as elogiadas janelas que forneciam o aparecimento de rachaduras, era uma das falhas capaz de causar a desintegração da fuselagem em pleno voo. As janelas quadradas criavam pontos de tensão nas extremidades. A pressão exercida sobre elas durante  o voo, era maior do que os projetistas imaginavam.  A consequência deste “deslize” era assustadora – o avião desintegrava-se no ar.

Tripulação técnica colaborou com erro humano

A partir daí todos os jatos de outros fabricantes também passaram a ter janelas redondas  e ovais  diminuindo a tensão causadora da fadiga dos metais. Descobriu-se que o projeto (verdadeiro vilão da história) não tinha preparado a estrutura para ser usada com grande diferença de pressão. As aeronaves a jato precisavam dispor de um sistema cuja pressão interna fosse maior do que a pressão do lado de fora. A estrutura não estava preparada para ser usada com essa diferença de pressão.  Às aeronaves se tornaram verdadeiras bombas voadoras. Bastou uma rachadura no teto  de um Comet acidentado para que ele se desintegrasse em pleno voo. Os jatos precisavam voar em grande altitude para evitar turbulências e tempestades, onde a pressão atmosférica é mínima.

A empolgação com o jato não durou muito. Era uma série de cinco acidentes, em menos de dois anos, resultando na morte de 113 pessoas. Nas investigações ficou constatado problemas de geometria no projeto das asas e falhas de pressurização na cabine. Descobriu-se que o projeto (verdadeiro vilão da história) não tinha preparado a estrutura para ser usada com grande diferença de pressão. Em 11 de janeiro de 62 os Comet foram interditados para voo, voltando em 23 de março com 60 modificações. Naquele mesmo mês o Ministério dos Transportes caçou a licença de operação dos Comet dando fim a um espetáculo que encantou e depois apavorou o mundo.

BERTA FOI BUSCAR O COMET  E TROUXE O CONTELLATION

Quando a Varig foi autorizada pelo presidente Vargas para assumir a linha de Nova York, Berta já tinha organizado sua infraestrutura para crescer. Faltava definir uma marca forte para equilibrar a frota. Ele não pensou duas vezes e decidiu investir no futuro. E o futuro era o jato que se apresentava precursor e poderoso na figura do pioneiro.

Sua decisão contemplava a presença nada menos do que o Comet, jato inglês que acabara de sair das pranchetas  e inaugurava seus primeiros voos. Ele pensava entrar em Nova York por cima, pela porta da frente. se antecipando como sempre na primazia do voo. Queria ser também na era do jato, o pioneiro no Brasil. Arregaçou as mangas e se tocou para a Europa, visitando a Inglaterra a caça da sua presa. preferida.. Mas, o espetáculo que encontrou  já era conturbado  O majestoso Comet  enfrentava sérias dificuldades técnicas. Mesmo  assim . a lista dos futuros compradores era extensa e continha na sua relação companhias consagradas, incluindo  a  Panair  do Brasil. Paulo Sampaio se antecipara, antes mesmo da própria matriz –  havia assinado uma carta de intenções para a aquisição de  quatro Comet 1, com opção para mais dois Comet 3, ao preço de 450.000 libras esterlinas cada.

Nenhum dos dois alcançou seus objetivos ficando a presença do moderno jato como  um sonho não realizado, mas que teve prosseguimento com a vitória de Berta alcançando o pioneirismo com o Caravelle. Era a promessa com JK de trazer a era do jato para o Brasil no seu governo, depois consagrado com avançado Boeing – 707  No final., por osmose tanto a Panair como a Varig saíram sem arranhões deste intrigante episódio que culminou com o fim da De Havilland, em 1963. Para não perde a viagem e voltar de mãos abanando Berta alterou seu rumo para a América do Norte, trazendo o Super Constellation,  presença marcante na conquista de Nova York, construindo um lastro para conquistas maiores.

Berta veio buscar o Comet e levou o Super Constellation

 

PAPAI NOEL DA VARIG VINHA DO CÉU – ELE EXISTIA

PAPAI NOEL DA VARIG VINHA DO CÉU – ELE EXISTIA

Na Varig, as crianças tinham certeza. –  Papai Noel existia. Era de carne e osso, como a gente. Tinha uma enorme barba branca e falava a nossa língua. Estava sempre sorrindo e trazia junto um enorme saco, repleto de presentes  para distribuir para as crianças comportadas Em vez de trenó ou carruagem, chegava do céu,.de helicóptero, o que garantia a certeza que ele era um ser alado.

Dificilmente uma criança filho de variguiano  deixava de ter um natal feliz. O pátio de Fundação se transformava num  enorme circo repleto de atrações, com sorteios ´presentes, e muita cosa para comer e beber. Em dezembro, havia sempre uma grande festa natalina…O clima de alegria  começava já na entrada, com a distribuição de cartelas que davam direito a participação em toda a programação. Tudo começava as primeiras horas da tarde e se estendia até ao anoitecer na expectativa da chegada do Papai Noel  vindo   mesmo do céu, para confraternizar com todos nós, num passe de mágica que encantava.. Foram instante inesquecíveis , que nos vem a lembrança junto com os filhos  depois passadas aos netos, num romance de gerações, O pessoal voltava para casa orgulhoso da sua empresa..

Na época, a Varig vivia instantes de grande expansão. Introduzira o Super Constllation para Nova York  Conquistava a hegemonia do Jato com o Caravelle, logo depois confirmada com a presença do Boeing-707, vencendo a famosa guerra David x Golias que travara com a gigante americana Panam  Era um  momento de euforia, que Berta, usando o endomarketing, que dominava como poucos, transformava os eventos de fim do ano, em encontros memoráveis de confraternização, num abraço fraterno entre  o homem e o coração da máquina.  Para fechar com chave de ouro as festas  de fim de ano, Berta mandava distribuir cestas com iguarias para a mesa dos colaboradores mais humildes brindarem com os familiares o sucesso no trabalho, saudando as perspectivas para o Ano Novo que se aproximava, revigorando forças para novas conquistas.

Os Reis Magos – Primeira mensagem sobre o Natal divulgada pela Varig na década de 40, (Vitório Gheno)

Passando-se  os anos, a Varig tornou-se uma companhia internacional distribuindo seus tentáculos pelo mundo. Os grandes encontros tornaram-se singulares e a comunicação passou a ser comandado através das “House Organs”, e a grande mídia pelo rádio e finalmente pela Televisão -. Nesse quesito a Varig construiu uma imagem que conquistou gerações, com a criação de um filme exibido até a sua última hora de existência, durante décadas – Estrela  Brasileira, representou  um símbolo natalino Ele só começava para a grande maioria das pessoas, quando a musiquinha da Varig era tocada com imagens que se renovavam a cada ano, ganhando a maior audiência  jamais igualada por algum tipo  de mensagem neste mesmo tema, no mundo.

 

https://www.youtube.com/watch?v=G1VT3B7LW7U

https://www.youtube.com/watch?v=obEFYxT8Y4E

 

A partir dos anos 50 o tema seria privilegiado pela Varig ganhando destaque, até atingir  o apogeu com a criação para a TV da série Estrela Brasileira, ( com alguns arranjos especiais e consagrados interpretes,)  sempre com a mesma música e letra por várias décadas, batendo recorde mundial.

 

Variguinho -Nosso companheiro no Blog – Personagem infantil mostrado em revista que levava seu nome, na busca de um público alvo criado em 1986, com grande sucesso

Aos companheiros do nosso Bllog .

Nos festejos de fim de ano

ACIMA DE TUDO VOCÊ

Papai Noel voando a jato  pelo céu

Trazendo um Natal de Felicidade e

Ano Novo cheio de prosperidade.

VARIG !  VARIG !  VARIG !

O VOO PARA  A ETERNIDADE

O VOO PARA  A ETERNIDADE

Na última mensagem, como premonição, a indicação do substituto, Seria acatada?
55 anos da morte de Berta

Dia 14 de dezembro de 1966, era um domingo radiante de sol. Da grande  janela do Edifício  da Varig no Rio de Janeiro, a paisagem convidava para mais um belo fim de semana dedicado ao lazer. Na sala da presidência., no entanto, o clima era outro. Uma máquina não pode parar. Ele era assim. Não media tempo, nem hora, nem esforços  que o afastassem do dever– e  levava junto seus fiéis seguidores, auxiliares diretos da diretoria.

Berta dá as ultimas instruções para Erik de Carvalho, na fábrica da Boeing .

Dava os últimos retoques para a reunião do Colégio Deliberante dos Funcionários, que seria realizada em Porto Alegre. Considerava um marco na existência da companhia.  Resolvera afastar-se da presidência, assumindo outras funções. Decidira indicar substituto –  Erik de Carvalho, que buscara da Panair, em 1955, pela sua capacidade no trato de assuntos internacionais, quando diretor no sindicato  das empresas aéreas, dando-lhe cargo em uma das diretorias. Logo adiante Berta trouxe-o para mais perto, na função de assessor da presidência para assuntos de  sua restrita competência, acompanhando o crescimento da Varig no Brasil  e no mundo.

Berta/Meyer – Um ano trágico para a Varig

Era  uma lacuna que até então seus companheiros históricos  não tinham conseguido preencher. Sua capacidade de trabalho e liderança lhe rendeu uma posição na vice- presidência,  Foram  apenas onze anos de uma carreira vertiginosa, causando algum mal estar junto aos postulantes históricos.  .Representava uma virada de paradigma Até então todos os cargos postulantes, indicavam a  presença de componentes da diretoria, com raízes  históricas na empresa, todos gaúchos.

De um a hora para outra o dia ficou nebuloso para a Varig. Acometido de mal súbito em plena mesa de trabalho, Berta sentiu-se mal. Apesar dos primeiros socorros veio a falecer.  A noticia correu célere e ganhou manchetes no mundo da aviação, estarrecendo a grande Família Varig, quando soube, como todo o Rio Grande, prestar-lhe suas ultimas homenagens. A morte de Berta, agora lembrada, ocorrida há  55 anos atrás, reverenciando a figura de um imortal, como tudo aconteceu, suas consequências,  num ano trágico para a Varig ( perdendo seus grandes líderes, Otto Meyer e Ruben Berta) é  assunto para ser debulhado, como as contas de um rosário, nas edições futuras do nosso Blog.

 

Com o sorriso habitual, corado e ótimo aspecto, Ruben Berta, presidente da Varig, assistia, no Salão Nobre de  “O Cruzeiro”, o cerimonial de batismo dos quadros  pelo Embaixador Assis Chateaubriand destinados ao Museu Regional do Nordeste. Lá estava ele ao lado do “Velho Capitão”, companheiro de tantas viagens, ligado por laços de firme amizade, prometendo levar os tesouros de arte, como já fizera antes, sobre as asas  dos aviões da “Pioneira”, para o seu destino. Parecia forte o moço com os seus 59 anos, cabeça e alma de uma empresa poderosa.

Alguns dias mais tarde, a notícia que interrompe  os programas de rádio : ” Faleceu,  vítima de um ataque cardíaco, na sua mesa se trabalho, Ruben Berta ” E nós, colaboradores e amigos encontramos no hangar da manutenção de Santo Dumont, o seu ataúde. Na luz inquieta das velas, debaixo do cristal, descansava quem nunca tivera tempo para isto

“Acredito na sua palavra” – disse o senhor Otto Ernest Meyer, no fim da nossa conversa. “Acredito, mas prefiro que “mein junger  Mann ( o meu rapaz”, verifique o que  você nos possa realmente oferecer”. Dia seguinte, maio de 1937, o “rapaz” do diretor da Viação Aérea Rio-Grandense, tocou a campainha do meu estúdio fotográfico. No edifício  Renner em Porto Alegre, sentou no chão e assistiu a projeção dos filmes, amostra de um trabalho previsto para a jovem empresa de aviação. Apresentou-se como Ruben Berta – embora na realidade não fosse mais, simplesmente, “o meu rapaz” do senhor Otto Meyer, pois já ocupava  o cargo de procurador. Mas, passados alguns anos de existência da empresa  continuou vivendo assim, como se nela tivesse começado: pau para toda obra – “mão direita” de um diretor, que criado na mais rígida disciplina prussiana procurou  realizar um plano bastante doído para a época – abrir nos confins  do Rio Grande do Sul, mal servido de estradas de ferro, pessimamente de estradas de rodagem, através da aviação comercial.

No seu gênio teutônico viu essa possibilidade somente no trabalho abnegado – dele e do mais dedicado dos seus servidores. Entusiasmou o rapaz Ruben, descendente de família teuto -brasileira humilde e confiou nele  forjando-o ao seu modo : trabalho com  “T” maiúsculo, disciplina militar, ligado a um único ideal:: dominar os ares do Rio Grande do Sul. O futuro parecia tão incerto quanto as águas traiçoeiras do Guaíba. Os incrédulos chegaram a predizer um funesto fim aos planos fantásticos  da conquista do espaço aéreo… Como na previsão da cigana todos os maus agouros não vingaram

 Ed Keffel (revista O Cruzeiro)

CUIDADO QUANDO TUDO VAI BEM !   

CUIDADO QUANDO TUDO VAI BEM !   

O lado humano – Berta alertava

CUIDADO QUANDO TUDO VAI BEM !

Simples. É o caso do chofer que deixa de lubrificar o carro porque tudo vai bem. Os motores engripam por isso.  O problema esta em saber como “lubrificar homens”. O óleo é o lado humano. Chama-se atenção pessoal, consideração, palavra de reconhecimento, gesto de compreensão, interesse pelos problemas profissionais, ou mesmo pessoais, dos elementos da equipe. Num ambiente sem problemas, o problema germina como semente espontânea. O descuido nasce por si próprio.. A desatenção surge quando menos se espera.

Grande  supervisor não é aquele que resolve problemas do pessoal. É, sim, aquele que evita que os problemas surjam. Como bom chofer não é aquele que manda substituir o motor gripado, e sim aquele que evita essa despesa não esquecendo de lubrifica quando tudo vai bem. Quando tudo vai bem, o dirigente pega cuidadosamente sua almotolia e vai lubrificar seus homens, um por um, de modo a manter-lhes vivo o interesse pelo trabalho.  Quem manda deve saber quando a quebra moral se instala no íntimo das pessoas, às vezes apenas por que dentro delas se adensa uma forma de solidão inexplicável.

Inexplicável, talvez não. Essa atmosfera aplica-se pela falta de comunicação. Porém de uma ideia errônea: de que ninguém mais está olhando para a capacidade e a dedicação posta na execução do trabalho – de que ninguém mais está apreciando àquilo que a gente faz. É sempre o mesmo problema de lubrificação humana. Homem moralmente isolado é como vinho bom  que azeda e torna-se vinagre. Capacidade de liderança é manter em funcionamento o grupo humano, sem deixar que nenhuma das unidades azede e contamine as demais. A demasiada  tranquilidade, quando tudo vai bem, acabará provocando que tudo  vá mal. O bom supervisor não  cai nessa. Lubrifica  os seus homens com a mesma regularidade que a seção de manutenção  lubrifica as máquinas – CUIDADO

QUANDO TUDO VAI BEM

* Mensagem reservada, enviada por Berta aos Supervisores da Manutenção, nos anos 60.

Matéria em pauta

O PESO DE CADA  ACIDENTE FICAVA ENTRE A CRUZ E A ESPADA. – ÊRRO TÉCNICO OU FALHA HUMANA ???

Berta tinha convicção da resposta, causando polêmica.  AGUARDEM ! !.

DOPS DE GETÚLIO VARGAS E O COMUNISMO DE ERICO VERISSIMO

DOPS DE GETÚLIO VARGAS E O COMUNISMO DE ERICO VERISSIMO

Documento revela episódio vivido por Erico no Estado Novo

Fichado de comunista pelo DOPS, Erico, primeiro presidente da ARI, viveu momentos dramáticos em defesa da liberdade de imprensa. Acusado pelo lançamento do seu romance Caminhos Cruzados, retratando de forma crua os contrastes entre pobres e ricos, o livro, que acabou ganhando o prêmio da Fundação Graça Aranha, foi considerado imoral e subversivo por setores mais conservadores da sociedade gaúcha, sofrendo, inclusive, boicote na comercialização.

De Cruz Alta para o mundo – Com os Bertaso da Globo, a consagração do jovem talento.

 

Erico Verissimo- primeiro presidente da ARI – e o enfrentamento com Vargas, na luta pela liberdade de expressão durante a ditadura do Estado Novo

Outra razão para que se tornasse mal visto pelos órgãos de repressão do Estado Novo, foi que Erico Verissimo, na mesma época, assinasse um manifesto antifascista, condenando a invasão da Abissínia por tropas de Benito Mussolini e pedindo o fechamento no Brasil, da ação Integralista. O escritor foi intimado a depor nos órgãos de segurança pública passando por momentos constrangedores e ameaças veladas, sendo orientado a não assumir o cargo de primeiro presidente da ARI (Associação Riograndense de Imprensa), coisa que não aconteceu. Ao contrário, sua principal tarefa como presidente da ARI, passou a lutar pela liberação de jornalistas presos pelo regime. Em março de 1937 quando entregou o cargo de presidente ao sucessor indicado, jornalista Dario Rodrigues, diretor da Agência Brasileira – Órgão noticioso do Governo Federal, marcando um momento nebuloso da história do nosso jornalismo e da comunicação social no país.
O chamado Estado Novo, na era Vargas, foi implementado em novembro de 1937, inspirado num regime ditatorial do modelo nazi fascista europeu, então em moda na época. Representou a última fase do governo, iniciada com Governo Provisório e Governa Institucional, e teve seu fim somente em 1945.

Um documento que Vargas rasgou, por inutilidade de uso até 1945. E depois?

 

Voltando ao poder, em 52, agora pelas urnas, Getúlio faz a última gauchada, transferindo para a Varig a concessão da linha de Nova York, que a Cruzeiro não conseguia manter.

Foi comunicado a população brasileira por meio do programa de rádio Hora do Brasil (que existe até hoje) Antes, em 1935, alguns militares associados a ideologia comunista da Aliança Liberal Libertadora, criada por Luiz Carlos Prestes, haviam feito um levante contra o governo, conhecido como Intentona Comunista, sendo rebelados. Nasceu daí uma crise na política brasileira, onde o comunismo passou a ser considerado perigo iminente – um inimigo da pátria.
Ainda, em 1937, veio à tona o chamado Plano Cohen, com detalhes da revolução comunista para o Brasil, apoiada pela União Soviética, que na verdade não passava de um ardil dos militares ligados a Vargas, comandados pelo general Góis Monteiro, visando a segurança nacional contra a ameaça comunista. Para enfrentar o perigo iminente, foi implantado, através da Constituinte de 1937( Polaca) o golpe do Estado Novo.

A visita do presidente Roosevelt ao Brasil, num encontro com Vargas, alinhavou presença da FAB no conflito mundial.

As ações atingiram diretamente as instituições democráticas. O Congresso Nacional foi fechado, bem como as assembleias estaduais e câmaras municipais, sendo lavrada nova Constituição, que recebeu o apelido de “Polaca”. Getúlio Vargas tornou-se presidente do Brasil sem sequer fazer parte de um partido político, pronunciando à frase celebre –“ O governo sou eu” condenando a lógica de uma minoria, impondo a centralização do poder, o nacionalismo, anticomunismo e seu autoritarismo. Para consolidar sua imagem, Vargas engendrou um setor capaz de consolidar sua imagem e exercer forte controle sobre os meios e comunicação, nascendo dai o DIP, (Departamento de Imprensa e Propaganda), dirigido pelo jornalista e intelectual Lourival Fontes, com largo poder de penetração na sociedade. Ele criou 19 de abril (aniversário de Vargas) o dia do presidente, obrigando os meios de comunicação a enaltecer a figura de Getúlio e referendar sua atuação no governo.
O poder executivo passou a ter o controle sob as demais estâncias com pleno apoio das lideranças militares e beneplácito popular, conquistado por uma série de ações como a criação da Justiça do Trabalho (CLT), com a CSN – Companhia Siderúrgica Nacional e Companhia Vale do Rio Doce, implantação da nova moeda – (Cruzeiro) e participação na Segunda Guerra Mundial, a favor dos Aliados, com a FEB (Força Expedicionária Brasileira).

Na época, Erico Verissimo teve que enfrentar não somente o DIP, como outra sigla temida pela truculência- DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social) criada para prevenir e combater crimes de ordem pública e social que colocassem em risco a segurança do estado.

Segundo o livro – Associação Riograndense de Imprensa ( Rosemari Schwarz Rossi) a gestão dessa primeira diretoria da ARI transcorreu num período complicado da história nacional e mundial. A revolução na Espanha, sobre estremecimentos e inquietações entre países, formavam um quadro sinistro prenunciador dos horrores da IIª Guerra Mundial. No Brasil, os atritos entre extrema direita e extrema esquerda viviam sua primeira etapa. O clima político da nação exigia uma visão ampla e continua, aliada a perspicácia em pautar as atividades dessa associação, numa época de repressão. A tarefa mais importante na gestão de Erico Verissimo foi a contínua presença juto às autoridades no sentido de obter a liberação dos associados detidos ou de melhorar-lhes as condições de carceragem. Cite-se, ainda, o trabalho assistencial efetuado junto aos familiares destes associados.”
Frases de Erico Verissimo –
” Os esquerdistas sempre me acharam acomodado”
” Os direitistas me consideram comunista”
” Os moralistas e reacionários me acusam de imoral e subversivo”

 

BERTA, OS BERTASO E ERICO VERISSIMO

BERTA, OS BERTASO E ERICO VERISSIMO

A Varig e a parceria com os Bertaso da Globo

O relacionamento de Meyer e Berta com os Bertaso, da Livraria do Globo, depois editora, era antigo. Vinha dos tempos da fundação da empresa, imprimindo os títulos acionários na época da criação da Varig. Depois, a aproximação ganhou vulto quando em 1955 a Varig iniciou os voos para Nova York, transformando a simplicidade de uma empresa regional numa complexa organização internacional com suas vantagens e seus múltiplos problemas. Esse fato teve que receber uma série de mudanças comportamentais e estratégicas incluindo um avanço na área de comunicação e marketing, capaz de enfrentar a gigante americana PANAM, sua concorrente direta na linha para o exterior. Na época, a Varig valeu-se da livraria para a papelada e a editora para a confecção da revista interna Ícaro, tendo como secretário de redação o funcionário Antônio Acauãn, que terminou ocupando o cargo da nova Superintendência de Propaganda e Marketing criada por Berta para enfrentar a concorrência da gigante americana Panam, e outras congêneres que beliscavam o mesmo trajeto. (A marca Ícaro seria usada novamente nos anos 80, como revista de bordo, alcançando grande repercussão).

Conviver com Erico Verissimo foi um presente na minha carreira de jornalista

Nos anos cinquenta, um dos meus estágios obrigatórios no Curso de Jornalismo da PUCRS (bolsa de estudos dada por Berta) fui exercer aprendizado na Editora Globo. Um dos primeiros trabalhos foi para a revista Cacique, órgão da Secretaria de Educação, no tempo do governador Brizola (que já tinha utilizado a expertise da Globo para imprimir as suas famosas Brizoletas) . A Cacique feita em seleção de cores dava suporte a um programa veiculado na rádio Guaíba, que alcançava o público infantil com grande audiência. Para a revista eu escrevia textos ilustrados por Renato Canini, então jovem como eu, considerado como um dos maiores desenhistas do país, notabilizado pelos trabalhos feitos para a Disney, aqui no Brasil. A Cacique, sucesso editorial dos anos 50, foi idealizada e produzida pela professora Maria da Gloria de Albuquerque, querida tia, a quem rendo aqui minhas homenagens

A excelência do voo que acostuma mal “Em dezembro do ano passado dei um pulo de Nova York até Porto Alegre, para passar o Natal com meus amigos, esta claro que viajei pela Varig. Jamais fiz viagem melhor, mais normal, mais agradável. Direi que a impressão que se tem a bordo dum avião da Varig é a de se estar em casa. E que casa. O tratamento que a companhia dá ao passageiro tem um único. defeito. É ser tão bom que deixa o passageiro mal acostumado. Há pouco viajei do Rio para cá num Super Constellation com membros da minha família que sempre tiveram um terror quase pânico de viagens aéreas. Pois bem, a travessia foi de tal modo normal e agradável e segura, que quase posso declará-los curados. Espero que o Brasil compreenda o que representa como serviço e também como propaganda uma companhia como a Varig” ( trecho extraído do depoimento de Erico Verissimo, publicado na revista interna Ícaro n.1 ano 1 de dezembro de 1956

Na livraria do Globo, eu tive oportunidade de conviver com o consagrado escritor Erico Verissimo, acompanhando de perto sua carreira de sucesso. Pelo menos no início ele gostava de escrever para o público infantil, assunto que nos aproximava. Erico, como bom gaúcho, sempre preferiu a Varig em suas andanças pelo mundo e não se cansava de elogiar o trabalho desenvolvido por Berta, de quem era amigo e admirador. Por trabalhar na Varig, de imediato ganhei a sua simpatia. Cada viagem que ele fazia, sozinho a serviço, ou a lazer, com a família, vinha descrever em minucias a qualidade do atendimento e o prazer e a segurança que a tripulação da Varig lhe transmitia. Depois, convivendo com o jornalista Alberto André, político e professor emérito das aulas da PUC, tomei conhecimento de um lado político pouco mencionado na biografia de Erico. Ele tinha sido o primeiro presidente da Associação Riograndense de Imprensa ( ARI) num período delicado da vida pública do Brasil, quando Getúlio implantava o Estado Novo .

As capas da Revista do Globo, nos anos 50, eram verdadeiras obras de arte (Acervo Delfos-PUCRS)

Matéria para o próximo Sexta Espetacular – Documento revela episódio dramático vivido por Erico Verissimo, em 1937 no Estado Novo. de Vargas.

BERTA X LINEU – DUELO DE GIGANTES (3)

BERTA X LINEU – DUELO DE GIGANTES (3)

JÂNIO, LINEU E BERTA

NA SOMBRA DA AEROBRAS – UM NEGÓCIO ESCABROSO                          .
Assim que Jânio assumiu mostrou determinação em criar novas diretrizes para a aviação comercial. Comentava-se, na ocasião, que havia interesse ´por parte do presidente em salvar a Real, fazendo um negócio que desse resultado aos seus acionistas, especialmente a Lineu Gomes, então bastante adoentado. Era uma retribuição, ao apoio e gastos na campanha  eleitoral. Berta estava em Nova York quando Jânio deu o ultimato: –  Era pegar ou largar. Caso Berta não assumisse o Consórcio, seria criada a tão temível AEROBRAS, rechaçada pelo presidente da companhia gaúcha.
A saída de Jânio Quadros foi prato indigesto no apetite de Berta.
Adeusinho de Jânio, com a maletinha da Varig guardando segredos nunca revelados – Tudo foi pelos ares..

Esse mesmo argumento seria decisivo, anos depois, quando da mesma ameaça feita pelo governo militar no episódio da aquisição da Panair.  Comunicado por Erik de Carvalho sobre a decisão do presidente, Berta não titubeou e deu ordens para confirmar a aquisição, deixando os valores e forma de negociação para a sua volta ao Brasil. Casualmente, ou mesmo por querer, Jânio aproveitou a saída de Berta para exigir a palavra final sobre o conturbado assunto.

O homem da vassoura – Faxina que mais sujou do que limpou

A compra saiu caro para a Varig, feita em dinheiro vivo. Os interesses políticos aceleraram os entendimentos, deixando Berta sem opção para barganhar. Desconhecendo os meandros do acordo, ninguém entendeu porque a Varig pagou por uma empresa à beira da falência, quando tudo era apenas uma questão de tempo. Berta, pressionado por Jânio e esperando do presidente substancial   ajuda e apoio, conforme prometido, antecipou a compra fazendo a Fundação gastar um dinheiro que não constava nos seus planos. O negócio foi fechado entre Berta e Lineu em pleno aeroporto Santos Dumont por quase dois bilhões de cruzeiros, ficando a Varig com 85% das ações – A Fundação já havia comprado parte (50% da Aerovias). Além do alto valor desembolsado somavam-se dividas   diversas e problemas com a frota canibalizada incluindo a diversidade de equipamentos e encomendas indesejáveis feitas a última hora- uma verdadeira bomba.

As duas faces de Berta – A negra turbulência chegando, virou céu de brigadeiro.
Segundo declarações de Berta em documento enviado ao diretor geral da Aeronáutica Civil Brigadeiro do Ar, Henrique Fleiuss, depois apresentada em reunião do Colégio Deliberante da Fundação, logo que assumiu as rédeas do governo   Jânio Quadros não demorou em convocar à sua presença os dirigentes da Real, Panair e Varig, destes exigindo que no mais breve espaço de tempo, formassem uma só companhia brasileira de transporte aéreo para o exterior, de cuja necessidade o haviam convencido as viagens que realizara ao redor do mundo. Nesse processo devia ser nacionalizada a Panair, pois desejava “que uma só asa brasileira e brasileira fosse, existisse”. E disse mais, “que era inimigo jurado da estatização e que em seu governo não se formaria uma AEROBRAS exceto se à tanto o forçassem os industriais com individualismo e incompreensões – que o governo pretendia cancelar os favores cambiais que vinham sendo concedidos à aviação civil do país, mas que, em contrapartida, lhe daria subvenção direta a fim de conservar as tarifas acessíveis ao público em geral. De nada adiantou, na hora, os esclarecimentos das dificuldades que   execução de um programa dessa natureza acarretaria a todos nós.” Era necessário que a Panair, dentro de seis meses estivesse purgada de interesses estrangeiros para incorporar-se à empresa brasileira única internacional.  Segundo Berta a ordem era essa. Por força da determinação iniciaram-se as negociações entre a Varig e a Real, como primeiro passo para formar-se uma só empresa para o exterior. Desse propósito resultou, pouco depois, o acerto em que a Varig compraria 50% das ações da Aerovias Brasil, conservava a segunda parte dessa propriedade para juntas tentarem resolver o problema das linhas internacionais brasileiras no continente  americano e para o Japão.
Rede Aérea Nacional (RAN) estratégia para crescer

Quando assim se dispunham as coisas, descobriu a Varig que o processo de decomposição do Consórcio Real havia avançado de tal maneira, que se tornava sem condições de participar ativamente do programa de expansão de uma grande empresa internacional, com dificuldades de manter no ar seus próprios aviões – seis meses não importava mais peças, com dificuldades financeiras e técnicas. O saneamento só poderia ocorrer com o afastamento de indivíduos cujo procedimento havia trazido   ao estado de insolvência da empresa. Esse cenário ameaçava arrastar pera o fundo do torvelinho inclusive a Varig, acabando com a suposta tranquilidade dos seus dirigentes. Real vinha transferindo recursos do seu patrimônio. Em1961 estava falida. Tinha patrimônio negativo e sua compra era negócio que ninguém entendia, obrigando Berta a dar explicações na Comissão Parlamentar de Inquérito criada para investigar a Crise da Aviação Comercial Brasileira, na Câmara dos Deputados. Para quem não conhecia a intimidade da negociação, a compra se oferecia como um mau negócio e o argumento dos empregos era demagógico. Nem Jânio, nem Lineu estavam preocupados com os mesmos e nada fizeram quando depois cerca de 1000 funcionários foram demitidos. Eles simplesmente saíram de cena. Lineu Gomes faleceu vítima de séria doença. Jânio Quadros renunciou emitindo uma frase de forma enigmática: “Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo”. Restou para a Varig, sob o comando de Berta, descascar o abacaxi, transformando com esforço inaudito e muito talento um grande problema numa solução vitoriosa.

Rubens Bordini – Baluarte da reconstrução da Real – Tocava e dançava conforme a música
Ao entrevistar o Cmte. Bordini para a revista Contato da APVAR vieram à tona fatos lamentáveis sobre o estado em que encontrava a Real e como os problemas foram sanados por Berta, em tempo recorde. Em fins de 1960, Rubens Bordini foi eleito vice-presidente da Fundação dos Funcionários, sendo nomeado vice-presidente da Varig, indo atuar em São Paulo. Ele começou a viajar ao longo das linhas internacionais de Los Angeles a Miami- Encontrei tudo em tal estado de abandono e desorganização, que resolvemos cancelar a linha para Tóquio e suspender as operações para os Estados Unidos, relatou ele. Com a aquisição das ações do Consórcio Real Aerovias Nacional – Aeronorte, Bordini  passou a comandar o sistema, atuando em São Paulo de 1961 até1963, quando da extinção do Consórcio. A Varig foi dividida em RAI (Rede Aérea Internacional) e RAN ( Rede Aérea Nacional) com a liderança de Berta. Quando foi criada a Varig RAN o principal trabalho de organização estava feito, com as situações de tráfego e finanças bastante melhor. Berta conseguiu vender bem os CV- 340 e os CV-440 da Real e renegociou os Electra II.  Em 1965, Bordini aposentou-se voltando ao Rio Grande do Sul, onde continuou prestando colaboração a Varig na área de ensino. Por sua vez, a aquisição da Real representou um passo fundamental para a afirmação da Varig no contexto internacional. Junto veio uma série de dificuldades que Berta soube transformar em oportunidades, fazendo da Varig, uma gigante da aviação comercial brasileira, ajudada por aviões, herança da Real, considerados indesejáveis na avaliação de Berta que, no entanto, tornaram-se protagonistas dos acontecimentos…
A parceria que não vingou.
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