CLAUDIO BARRETO VIANA
O “CRAQUE” DA MANUTENÇÃO DA V ARIG
Aviação comercial brasileira veste luto
Nos anos 60, quando se queria elogiar alguém, o pessoal dizia- Aquele é “craque”. Eng. Viana, como ficou conhecido, em seguida ganhou a alcunha dos Famosos – “Craque da Manutenção.” Na Engenharia deitava cátedra. Representando a Varig nas reuniões da IATA mostrava seu talento liderando as comissões sendo representante na aquisição e especificação técnica de vários aviões como Super Constellation, Boeing -707 e Convair -990 Coronado. Participou do programa de introdução dos aviões Super Constellation da Varig, tendo estagiado durante meio ano na fábrica da Lockheed em Burbank, California e na Lockheed Aircraft Service, no aeroporto de Nova York.
Na Varig organizou o setor de compras de material, na então principal base da empresa em Porto Alegre. Foi ainda responsável pela manutenção de toda a frota internacional da Varig na capital gaúcha e em todas as bases internacionais da Varig. Como diretor – assistente de manutenção chefiou por diversas vezes a delegação da Varig nas reuniões de serviços e peças dos operadores internacionais de jato, realizadas em Londres, Rio de Janeiro, Roma, Nova York, Bruxelas e Paris, entre outras. Tais grupos decidiam a coparticipação de dezenas de empresas aéreas no uso de peças sobressalentes, valendo centenas de milhões de dólares Logo que assumiu suas funções na Engenharia da Manutenção, Barreto Viana, com nossa ajuda, criou normas específicas para desenvolver sua estratégia. Transferiu para a Engenharia o Controle de Serviços da Manutenção (CSM) que passou a funcionar 24 horas, em turnos de seis horas, feitos de forma revezada. Foi criado um imenso quadro negro, onde foi marcado o prefixo de toda a frota, agora com os três primeiros Super Constellation – PP-VDA, VDB e VDC ficando exposta toda a vida dos aviões, com plaquetas marcando o voo efetuado, com suas escalas, horário, e aviões com seus serviços técnicos, troca de motores, hélice, revisão geral, voo de experiência e outras informações pertinentes, num amplo panorama . ajudando os Inspetores a tomar decisões, que antes só constavam em livros fechados
Cursando Jornalismo na PUCRS, a troca de horário foi um presente caído do céu. Por concessão dos colegas permaneci com horário fixo ( 06 às 12 horas). o que dava tempo para a Universidade na parte da tarde, e ainda completar estágio obrigatório no jornal até o fim da noite ,com horas restritas para o sono reparador e estar desperto na madrugada do dia seguinte, rumo ao caminho da Varig ( perto de casa) de bicicleta. Como colaborador fui trabalhar no Diário de Notícias, na São Pedro, quase esquina da Farrapos, pertencente ao grupo dos Diários Associados comandado pelo famoso jornalista Assis Chateaubriand . Era tratado com simpatia e consideração pelo fato de pertencer a Varig, orgulho dos gaúchos por levar em sua sigla o nome do Rio Grande. Eu já fazia uma coluna chamada Torre de Controle, quando fui solicitado pela redação para faze matéria sobre a Semana da Asa. A matéria , versando sobre as instalações técnicas da Varig -“Na aviação comercial gaúchos são reis”, (primeiro lugar, no Concurso patrocinado pelo V Comar) teve repercussão, inclusive na Varig, com manifestação calorosa de Berta. Em seguida fui chamado pelo engenheiro Viana, recebendo congratulações pelo conteúdo da matéria,
Apoiado por ele, meu primeiro passo como jornalista na Varig, foi criar o Boletim Informativo de Manutenção. A pauta enfatizava o serviço executado em cada setor técnico, valorizando o desempenho dos seus competentes funcionários. Com a instituição do programa “Boletim da Premio” foi amenizada situação que se fazia preocupante – Havia certa resistência do pessoal de pista em consultar o Manual Técnico de fábrica, especialmente do Super Constellation, Em conversa com a diretoria sugeri a possibilidade de organizar um concurso com perguntas e respostas, que obrigava os mecânicos a manusear os catálogos em busca da solução. Entre os acertadores eram distribuídos valiosos brindes da Varig oferecidos pela nossa Propaganda e sorteadas duas passagens para Nova York, pelo Super Constellation, com programa turístico e visita às fábricas. retornando 7 dias depois. Foi um sucesso, com os objetivos plenamente alcançados. Graça a visão do Eng. Viana, passamos a editar ainda a Rosa dos Ventos, uma revista interna que viria a ser a única na Varig, fato que resultou na minha transferência para a Propaganda, como Gerente Regional de Marketing e Imprensa para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná
Com a morte de Ruben Berta em 1966, Barreto Viana saiu da Varig para fundar a Aeromot Aeronaves e Motores, fabricante do motoplanador Ximango , que tive a oportunidade de criar todo o projeto de marketing nacional e internacional. Foi o primeiro motoplanador fabricado no Brasil, ganhando o nome de “Ximango” resultado de um concurso que teve a participação de mais de duas mil pessoas, todas, de alguma forma, engajadas no setor aeronáutico… O ganhador recebeu duas passagens para Paris, entregues no Programa Atualidades – Domingo, apresentado por Clovis Duarte, na TV Pampa. Equipado com motor dispensando reboque por meios externos, o motoplanador Ximango, da Aeromot é a grande conquista da moderna tecnologia aeroespacial brasileira. Usado para reequipar aeroclubes, o Ximango é empregado também em voos de lazer e atividades econômicas. Com a fabricação do Ximango, a Aeromot passou a ser a primeira indústria de motoplanadores do Hemisfério Sul. Em 2007 Viana vendeu a Aeromot para um grupo de Belo Horizonte, que planeja montar uma fábrica no Estado.
* Claudio Barreto Viana nos deixou, definitivamente (8/9/22) aos 90 anos, marcando uma trajetória assinalada pelo desenvolvimento que ajudou a fazer da Varig uma companhia singular pelo padrão técnico de manutenção e numa segunda fase dando vazão ao seu lado empreendedor construindo a Aeromot.