EPISÓDIO DANTESCO NO PARQUE DE MANUTENÇÃO

EPISÓDIO DANTESCO NO PARQUE DE MANUTENÇÃO

O impacto no Super abastecido representava o fim da Varig, levando junto o Parque de Manutenção e todos nós, inclusive Berta.

Um episódio dantesco que repercutiu em todo o país, aconteceu no dia 14 de julho de 1956 em Porto Alegre, envolvendo o mecânico  da EVAER (Escola Varig de Aeronáutica) José de Deus Pinto – mecânico jovem de 22 anos, demitido por supostas irregularidades no cartão ponto. Ele não aceitou a decisão e ficou transtornado. Seu modo de agir já vinha sendo notado pelos companheiros com alguns transtornos de comportamento,
especialmente depois de um desentendimento com a namorada, que residia na cidade vizinha de Canoas nas imediações do aeroporto Salgado Filho.

Em pleno sábado a tarde ele se apossou de um pequeno avião de treinamento da escola – um North American AT-6 de prefixo PP-GOW, do qual tinha relativo conhecimento e foi para a pista. Fez uma decolagem todo enviesada, sem que ninguém tivesse tempo de abortar a subida. As emissoras de rádio, entre elas a Farroupilha, mais potente na época, passou a transmitir as peripécias do improvisado piloto. O comando da 5ª zona Aérea foi notificado e um avião semelhante foi acionado na tentativa de convencer o rapaz a desistir do seu intento e pousar, evitando a grave ocorrência com resultado imprevisível. Depois de algum tempo, já com pouco combustível, ele ameaçava jogar o avião de encontro ao Super Constellation PP-VDA, estacionado na frente do hangar, terminando o abastecimento, pronto para iniciar voo de linha algumas horas depois.

O PP-VDA,  na frente do hangar, abastecido para voo ,era o alvo certo para  a premeditada vingança, mesmo com o sacrifício da própria vida.
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Na época, eu recém tinha ingressado na Varig. Fazia parte de um grupo de amigos, na sua maioria funcionários da empresa, que nos fins de semana se reunia para jogar futebol. Estávamos disputando uma partida, tranquilamente, no estádio Alim Pedro, no IAPI, quando tomamos conhecimento do fato. De imediato interrompemos o jogo e nos dirigimos apressados pra o Parque de Manutenção da companhia. Lá chegando encontramos nada menos do que a figura de Ruben Berta, agitado, nervoso, dando as mais estapafúrdias ordens, entre elas, a de que todos nós de mãos dadas formássemos uma corrente humana ao redor da aeronave, buscando persuadir o provável suicida a desistir do seu intento. Obviamente, ninguém atendeu aos apelos e ele desistiu.
Foi a primeira vez, provavelmente a única. que uma ordem de Berta deixou de ser cumprida, alias com justa razão.

Depois de atirar apaixonados bilhetes em direção a casa da namorada, o jovem decidiu pelo mais dramático – lançar o avião em direção ao Constellation como ameaçara concretizando o voo fatal. Errou a pontaria por poucos metros estatelando-se em um dos pilares de concreto do hangar, com morte instantânea. Os danos não foram irrecuperáveis porque o combustível já se havia esgotado; para nosso alívio. Teve um trágico fim e quase nos levou juntos. Lembro-me bem de um detalhe horripilante – na eminência do impacto, ele levou as mãos ao rosto, numa dramática despedida, realçando o espirito de preservação do ser humano. No dia seguinte, caminhando nas imediações do acidente encontramos, entre os destroços, pedaços de dedos deixando a lembrança de um quadro aterrador.

 

Textos novos no blog todas as 2ª/ 4ª/ 6ª-feiras. Durante a semana poderá ter intervenção do Variguinho/Tucaninho com Pitacos na 3ª/5ª-feira.
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