A MORTE DE BERTA
“O dia amanheceu tristonho e uma chuvinha miúda caia de quando em vez. A natureza parecia chorar a morte do grande líder. Parecia sentir conosco a dor irreparável de sua perda. Ruben Berta havia morrido. Em pleno gabinete de trabalho. Dera suas últimas forças para a grandeza da Varig, razão quase que plena de sua maiúscula existência. Tombara o grande “capitão” entre os papéis de sua escrivaninha.
Sua morte abalou o mundo. Foi prematura e antecipada para todos nós, que nunca cansamos de admirá-lo e respeitá-lo, na certeza de que jamais deixaremos de lembrá-lo na morte. Velado nas dependências do hangar da manutenção, no aeroporto de Santos Dumont, no Rio de Janeiro, até as primeiras horas da tarde, teve seu corpo transladado para Porto Alegre, onde foi sepultado.
A recepção ao querido “velho” foi algo tocante e memorável O próprio Sol, que antes se havia escondido em nuvens negras, aparecia, então, límpido no céu, iluminando com seus raios coloridos o comovente espetáculo. Era, sem dúvida, a grande e última homenagem que todos prestavam perante corpo, agora inerte, do baluarte da nossa aviação comercial. Próximo da aeronave centenas de funcionários da empresa, com seus uniformes de trabalho, representavam os diversos setores, nesse derradeiro instante de dor e sofrimento. Uma guarda de honra da FAB fez a saudação póstuma, quando o corpo de Ruben Berta foi retirado de bordo da aeronave.”
O número de acompanhantes era tão grande, que o carro mortuário já se encontrava no Cemitério da Azenha, e ainda partiam veículos dos Estaleiros da Empresa, em São João, no outro extremo da cidade, formando uma extensa e interminável fila, paralisando o transito na cidade. Durante o trajeto e mesmo quando das cerimônias do sepultamento, aviões da Varig e da Força Aérea Brasileira realizavam evoluções sobre o Cemitério Luterano, que tornou-se pequeno para receber tanta gente. Gente que representava ricos e humildes, sem distinção de credos e crenças, simples operários e poderosos políticos, unidos numa mesma oração.
A morte de Berta traumatizou e compungiu a todos. Não somente os funcionários da Varig e seus amigos mais próximos, foram atingidos pelo doloroso acontecimento. Na realidade o Brasil todo sentiu a perda deste notável administrador que soube dar ao nosso País uma posição de vanguarda. no cenário internacional no âmbito aeronáutico.. Os principais órgãos de imprensa internacional, abriram manchetes, em espaço nobre de primeira página, solidários com a dor dos brasileiros, destacando o valor de Berta no contexto da aviação comercial e sua atuação de liderança, mesmo ainda jovem (59 anos) destacando-se por personalidade inteligente, forte e dinâmica, com relevante sentido de grupo.
De outra parte, desde da divulgação do falecimento do diretor – presidente da Varig, impressionante número de telegramas e mensagens de condolências começaram a chegar das maiores cidades da América Latina, América do Norte e Europa onde a Varig tinha linhas A direção da Cruzeiro do Sul, por sua vez, teve um gesto que emocionou a todos os variguianos, pondo à disposição dos seus funcionários dois aviões “Caravelle”” para acompanharem Berta até a sua última morada. Igualmente foi fantástica a quantidade de “Corbeiles” recebidas. As flores foram depositadas sobre o túmulo de Ruben Berta, formando uma pirâmide tão enorme e colorida que sobrepujava, em tamanho e beleza as mais altas árvores que circundavam o Cemitério. A mídia eletrônica também se fez presente com imensa cobertura de rádio e televisão.
A beira do túmulo foram prestadas as mais tangentes e significativas homenagens a Ruben Berta – inúmeros oradores se fizeram ouvir tecendo considerações sobre a personalidade do presidente da Varig e sua obra magnifica. O discurso final coube ao dr. Adroaldo Mesquita da Costa, num emocionado improviso , falando em nome da Varig e seus colaboradores. Lembrou da atuação de Berta para o engrandecimento da companhia – abordando o assunto conforme o momento exigia expressando-se em inglês, francês, alemão, italiano – espanhol e português.
Lembrou de momentos decisivos, dos encontros com chefes de Estado, nos congressos da IATA e debates vitoriosos. encantando plateias e os mais altos dirigentes do país, defendendo suas posições sobre o futuro da nossa aviação comercial, apontando divergências e dando soluções. Mesquita da Costa concluiu com uma frase lapidar – “Berta foi um homem genial, que se fez por sí mesmo, enobrecendo a raça humana”.
Este texto foi escrito sobre incontida emoção em dezembro de 1966, tendo recebido premiação da ARI ( Associação Rio-grandense de Imprensa), na modalidade House Organ, -“por seu estilo refinado, num momento doloroso aliado a iniciativa de não perder a oportunidade, criando um Suplemento na revista interna Rosa dos Ventos” – que ficou na história. ( Mario de Albuquerque)