TEMPOS HEROICOS (1)
OS HOTEIS DA ÉPOCA DO F- 13 ERAM EXTREMAMENTE PRIMITIVOS
Como não tinha nada melhor o negócio era aceitar- mesmo infestados por pulgas e carrapatos.
Antes, para efetuar o pouso, quando a situação do tempo não ajudava, tinha uma série de macetes que cada um descobria ao seu modo. Em 1945 a Varig cumpria uma linha de Uruguaiana a Porto Alegre, via Alegrete e São Gabriel. Enquanto o trem fazia a viagem em dois dias, o avião levava cerca de 4 horas, mas nem sempre. Nesse voo, com o Junker – F13 PP-VAF, após 30 minutos, começou a subir assustadoramente a temperatura da agua do arrefecimento. A certa altura o termômetro deixou de dar indicação alguma. O vazamento era quase total. O motor iria fundir. A única solução era um pouso de emergência imediato. Achei um campinho que parecia bom. e observei o gado para certificar-me da direção do vento (Os animais, geralmente, ficavam com a traseira voltada para o vento) Num instante estávamos no solo.
Pousamos em Alegrete sob forte chuva com o terreno completamente encharcado. Depois do consertar o equipamento seguimos viajem rumo a São Gabriel que nos esperava ansiosamente Devido o adiantado da hora não daria mais para chegar em Porto Alegre com a luz do dia. Meio perdido terminamos pernoitando em Cachoeira.. Nunca tinha estado lá, (não era ainda escala da Varig) Pedimos acomodações em um hotel, e colocamos o avião no hangar do Aeroclube, recém fundado
Além dos aviões em pane obrigando a pousos indesejáveis, existia a precariedade dos hotéis da região, obrigando-nos a uma noite inteira entrar em luta contra pulgas e percevejos que infestavam todas as camas, por mais aconchegantes que parecessem antes do apagar das luzes. Começava aí uma batalha desigual. Nós com olhos cegos pela escuridão e os adversários prontos para o ataque fulminante, enxergando (ou cheirando) tudo. Já sabendo das dificuldades, o pessoal levava na mala uma latinha de Neocid em pó e um jornal velho. Contra percevejo havia vários truques, como colocar papel de jornal entre o colchão e a cama e sobre o travesseiro .Mas, em Uruguaiana, é incrível, havia percevejo “paraquedista” Eles subiam até o teto, e de lá, se atiravam sobre a cama – largavam-se para cair bem em cima do pobre cidadão, que estava dormindo tranquilamente, na esperança de um sono reparador, que raramente acontecia.
O serviço regular com o Junker F-13 na Varig iniciou em abril de 1932, quando a aviação comercial era verdadeiro pioneirismo. Nesta época não havia banheiro nas aeronaves e nem serviço de bordo. Os Junkers podiam pousar tanto na grama quanto em terra. O voo era todo visual marcado por turbulência, pois as aeronaves voavam baixo Os cintos de segurança foram usados pela primeira vez. O voo era todo visual, seguindo referências no solo, onde ajudava muito o nome das cidades escrito no telhado das estações rodoviárias. Quando as condições meteorológicas impediam a navegação por contato, o voo prosseguia quase as cegas. Os pilotos subiam e se orientavam com uma bussola e um relógio de bolso; Os Junkers F -13 operam na Varig até 1951, recebendo Menção Honrosa de todas as Prefeituras da Região.e o agradecimento da população..
* O comandante Geraldo Kinippling (Falando de Aviação) mais de 400 mil horas de voo, formado em Aviação Comercia pela Purdue University, agraciado com a Ordem do Mérito da Aeronáutica, prende a atenção com seu texto, mostrando fatos que vividos por qualquer um de nós, simples passageiros, nos tornariam clientes prováveis de um bom cardiologista.