BERTA E O SERVIÇO DE BORDO NA VARIG
Com as aeromoças a conquista dos céus.
No advento do Super Costellation Berta criou o serviço de bordo e teve que admitir aeromoças, seguindo uma tendência das congêneres. Foi justamente em 1954, ano em que ingressei na Varig, quando a companhia ampliou o planejamento para a rota dos Estados Unidos. Preocupado com a qualidade do atendimento ele inaugurou o serviço de bordo, situado num grande pavilhão junto ao Parque de Manutenção, em Porto Alegre. Sua primeira turma era formada por cerca de 20 moças e uma delas, Alice Editha Klausz será ´lembrada para sempre (segundo a colega Claudia Vasconcelos) não só pela competência e elegância, mas por ter sido convidada pelo presidente Ruben Martins Berta para formatar e dirigir a Escola de Comissários – enquanto em atividade era considerada a comissária mais antiga e qualificada do Brasil na profissão.
O serviço de bordo começou com uma simples cozinha, contígua ao Parque de Manutenção, em Porto Alegre, servindo-se na sua maioria dos produtos industrializados do Rio Grande do Sul. Em seguida foi montada outra cozinha no bairro Botafogo, no Rio de Janeiro. Em função da demanda nova cozinha foi inaugurada em Bomsucesso, mais próxima do aeroporto do Galeão com maiores dimensões, dando origem , mais tarde, ao majestoso Catering – Rio, comandado pelo gaúcho Sergio Prates, diretor do serviço internacional. Ele foi um dos baluartes do grande êxito do serviço de bordo da Varig. Tinha ingressado na Varig em julho de 56, na área de contabilidade da empresa sendo emprestado a Superintendência do Serviço de Bordo, comandada por Damião Kluve, para ajudar no controle do material e ali permaneceu por 19 anos, deixando sua marca administrativa e contribuindo para que a Varig atingisse todos os parâmetros de qualidade.
Até certo ponto, sinto-me constrangido por elogiar o trabalho por ele desenvolvido, mas a verdade é o apanágio dos fortes. Meu amigo pessoal, companheiro de peladas do futebol na Varig, junto com Walterson Caravajal, aproveitávamos os fins de semana para descontrair, até que o tempo ficou escasso para todos e os encontros diminuíram, mas a amizade ganhou raízes. Admirado e querido por seus amigos e colegas, Sergio mantinha serenidade nos momentos mais conturbados, repassando um clima de confiança aos seus colaboradores. Economista por formação, ele chegou a comandar cerca de seis mil colaboradores considerava-se um continuador do serviço de bordo da Varig, implantado por Berta, o maior responsável pela fama que a Varig conquistou.
Ao contratar os serviços do Barão Max Von Stuckart, um austríaco que ganhou fama à frente do lendário restaurante carioca Vogue, Berta teria dito: “Faça algo que possamos nos orgulhar’. O recado foi atendido. A Varig passou a oferecer aos passageiros o melhor serviço de bordo entre todas as empresas aéreas do mundo. Contando com os mais conceituados “maitre e chefes de cuisine”, criavam verdadeiros banquetes nas nuvens. Vestidos a caráter acompanhavam o voo no trecho Rio – Nova York, servido junto com os melhores vinho, desde faisão a lagosta à Thermidor em pratos de porcelana e copos de cristal, num voo de 26 horas (Porto Alegre, Rio, São Paulo, Belém, Port of Spain e Ciudad Trujilo) com atendimento nunca visto. O conforto e o serviço de bordo na época, sob a tutela de Alice Klausz, jamais foram igualados em qualquer tempo.
Alice Klausz e suas gurias (muitas eram gaúchas, recrutadas do interior do estado – brasileiras de origem alemã, e/ou italianas, uniam beleza e a vantagem de dominar mais de um idioma) – desenvolviam uma atividade exuberante, mostrando a eficiência de uma equipe treinada com afinco, conforme Claudia Vasconcelos revela em seu livro -Estrela Brasileira:
* No voo para Nova York, com o Super Constellation, durante a entrada oferecíamos champanhe Moel & Chandon e sucos de laranja, Quando os passageiros estavam a bordo passávamos o carrinho com revistas e jornais do Brasil e do Mundo. Distribuíamos nécesaire de couro, com repartições internas, masculino e feminino, contendo colonia Eau Rochas, loção corporal Rochas, creme de barbear, escova e pasta de dente, pente, calçadeira, polidor de calçado, máscara protetora de olhos, protetor de ouvidos contra ruídos e acompanhando esse “Kit tudo’ um par de chinelos para cada um..
* Nos bolsões das poltronas mapas, papel e a cobiçada caneta. As mesas eram forradas com toalhas de linho As louças eram de marca japonesa Noritake (motivos dourados para o serviço de jantar, prateadas para breakfast. – e uma pequena tigela com amendoins, castanhas e nozes, da marca Planters.
* Servíamos canapés frios – torradinhas cobertas com pastas de roquefort, ovas de salmão com maionese, foie gras e pequenas bolinhas de caviar, com uma miniifatia de limão e quentes, palitos de churrasquinho e casquinhas de siri. Terminado o serviço de drinks passávamos ainda um carrinho de bebidas, com garrafas de Johnnie Walker – Black e Red Label, Chivas, Ballantine’s,Jack Daniel’s – Vermouth seco e doce, e dezenas de marcas internacionais de vinhos tinto – Chateaunef du Pape.(Cotes du Rhone), Chambertin ( Bourgogne) e Saint Emillion (Bourdeaux) e outros rótulos branco e rosé francês, além de cervejas e refrigerantes. importados.
* Entrava então em cena o carro sensação. O carro chefe. O carro de caviar. Trazia, na parte superior, uma lagosta com galantine,- uma concha de alumínio corrugado, em forma de ostra, – cheia de gelo moído encimado por uma lata grande de caviar Beluga Monossol e limões cortados ao seu redor, vodka. Stolichnaya envolta em gelo enluvando a garrafa, copinhos gelados para servir a vodka. tigelinha com manteiga clarificada sour cleam, limões em fatia, cebola cortadas em cubinhos reduzidos ao seu tamanho mínimo, gema e clara de ovo picadas, uma forma coberta por um guardanapo com blinis aquecidos e melba toasts. Na parte inferior, melões com presunto de Parma, pratinhos e copos
* Em seguida saiamos com o carro de sopas – cremes de palmito ou aspargos e consumé com croutons e pequenas lascas de panquecas no funda da xicara – e salada da estação com vários tipos de molhos – thousand island, vinagrete, blue cheese – sal, pimenta em sachês, azeite, saladeira e pratos. Na parte d baixo cestas com torradas e pão variados aquecidos.
* Logo após, o carro de pratos quentes vinha com uma tábua de churrasco com uma peça comprida e arredondada de filé e outra de costela argentina., ladeadas por um espeto de camarões gigantes fritos no alho e olho Barbecue sauce , mostarda Dijon e ketchup eram as opções de condimentos. guarnecidos de arroz à grega, ervilha com cebola e palmitos na manteiga. Recolhíamos as bandejas e saíamos com o carro de sobremesa, que vinha com uma taboa decorada com nozes e com os queijos Camembert, Ementhal, Babybel, Roquefort. Acompanhavam uma tigela com bolihas de manteiga, uma cesta com frutas da estação, torta Floresta Negra, champanhe e vinho do Porto
* Completando o banquete, passávamos o carro do café, com sachés de After Eight, chá preto, verde e digestivos : Cointreau, Amaretto Di Saronno, Drambuie, Menta, Frangelico, Benedictine, Cognac Courvoisier, Armagnac, Napoléon, copinhos de chocolate para o licor Baileys, tijela com açucar e adoçante, tudo seguido de chocolates suíços variados, pequena caixas de cigarros com quatro unidades, acompanhados com caixas de fósforo personalizadas. Entregávamos as mantas e solicitávamos o fechamento das cortinas das janelas, desejando um sono reparador. Para os notívagos, a equipe de plantão noturno, sempre atenta, oferecia sucos, refrigerantes, água e cafezinho. Na galley, outros itens garantiam o conforto dos passageiros.