PAPAI NOEL – BERTA E A TELEVISÃO ( Uma historinha agridoce)
A CHEGADA DA PRIMEIRA TELEVISÃO LÁ EM CASA TRANSFORMOU NOSSO NATAL
Berta, como sempre, na época de Natal, gostava de surpreender o pessoal com alguma coisa diferente. Desta vez o presente seria capaz de superar qualquer expectativa pelo inusitado, causando alvoroço. A TV Piratini, canal 5, havia sido inaugurada em Porto Alegre (20 /07/59) , afilhada à Rede Tupi, com antenas da televisão aberta situadas no morro da Polícia. Ele comprara nos Estados Unidos, por preço de ocasião, um lote dos modernos aparelhos, como sobra de guerra, usados pela marinha americana, com tecnologia avançada. Alguns eram sorteados, outros oferecidos no armazém (em seguida transformado em Supermercado) por preço de custo, em módicas prestações, inaugurando um sistema de comercialização inovador.
A chegada da primeira televisão lá em casa, transformou nosso Natal num dia de festa continua, compartilhado pela vizinhança, curiosa para conhecer a novidade. A distribuição dos presentes era um momento patético. O Papai Noel aparecia de surpresa, causado pânico nos três filhos, Beto, Nato e Doca – especialmente nele – que era o mais jovem (mas também o mais esperto) “O bom Velhinho” aparecia do nada, batendo firme no chão com seu bastão de comandar as Renas (que eles nunca viam) criando um clima assustador, que depois se transformava num momento de paz e amor, quando retirava do enorme saco vermelho que levava, os presentes encomendados, num festival de alegria.
O Papai Noel que nos visitava era sempre o mesmo – vizinho chamado Shimitz (não garanto a grafia, mas o som era esse) que aparecia transformando-se na figura. Com o passar do tempo, por mais que mudasse seu comportamento (falando grosso, com voz rouca) para impressionar e disfarçar sua verdadeira identidade, acabou sendo desmascarado pelo próprio Doca, sempre o mais apavorado. Espertamente, mantiveram o segredo da farsa considerando as vantagens inerentes, passando de ludibriados à ludibriadores. A televisão, marca GE, blindada, existe até hoje (funcionando) guardada no meu museu (mania) particular. Agora, a missão é alegrar a bisneta Laurinha, filha do Lucas e Gabi, refazendo com novas personagens antigos momentos – mantendo viva a tradição da arvore de Natal (que o comercio não deixa acabar) descobrindo um novo “Bom Velhinho” – coisa rara na praça.