BOLETIM DO MUSEU
PLANADOR – O COMEÇO DE TUDO
NA CAPA A PRESENÇA DO PLANADOR – NO MIOLO A AUSÊNCIA DE BERTA E A INIBIÇÃO DOS DIRETORES.
Berta era a única voz falando pela Varig – na sua ausência nem um diretor assumia esse papel, até que um dia, o improvável aconteceu. Os diretores silenciaram mas alguém, mais atrevido, desconhecendo as regras, falou por eles, quebrando um tabu que Berta engoliu sem reclamar
Boletim do Museu Histórico da Varig, surgiu da necessidade de interagir com seu público pioneiro, catando preciosas informações que estavam se perdendo no tempo. A capa, como mérito, ganhou a predominância do Planador – o miolo valorizou-se com a entrevista de Paulo Regius, publicitário que viveu na Varig a arrancada do ostracismo regional na tarefa de mostrar a empresa para o mundo, com revelações inéditas, num “avant premier” do que seria a publicação, que logo alcançou suas metas, tornando-se “coqueluche” da Grande Família Varig.
Em sua edição de abertura realizada em maio de 1979 ( ainda na gestão de Erik de Carvalho, que fizera a inauguração do Museu em 71) a primeira capa do BM contava a história dos Planadores, que tiveram função primordial na organização da Varig. A vedete era o Gaivota, construído na antiga Varig Aéreo Esporte, onde serviu como instrumento para o treinamento de inúmeros pilotos, que integraram a tripulação dos modernos jatos da empresa. O voo inicial foi realizado em 1937, em comemoração da Semana da Asa, sendo rebocado por avião (Waco C-37), pilotado pelo comandante militar, Maldonado, atingindo a altura máxima de 240 metros, grande feito para a época.
Na Edição número 1, juntava-se inusitada entrevista concedida pelo publicitário Carlos Régius, onde relatava os quatro anos vividos na Varig (1954 até 1958) que foram para ele de enorme importância profissional dentro de uma visão nacional – “dando-me nova dimensão e amplitude funcional” Ate então, com raízes na Província passou a ter uma perspectiva nacional – viajando de avião, como se fosse de ônibus. Conheceu todo o pais, de sul a norte. Depois, foi a vez de viajar para ao exterior, de ver e sentir a mentalidade, usos e costumes de outros povos, e estilos de vida.
Acumulando o setor de relações públicas, sucediam-se no dia a dia contatos com importantes personagens do exterior, caravana de agentes de viagens, visitantes e homens do governo recebidos para uma visita as instalações da companhia ou para um churrasco típico no Retiro de Ponta Grossa. Premido pela necessidade, teve que aperfeiçoar seu inglês e alemão, que passou a dominar fluentemente, garante Regius. Aprendi até a falar em público – lembro em que numa determinada ocasião, o governador do Estado, Leonel Brizola, trouxe do Rio uma caravana de deputados que visitou as instalações e depois lhes foi oferecido um almoço informal. na cantina dos funcionários. Berta estava ausente, tendo viajando para Nova York, envolvido com o desempenho do Super Constellation.
Na hora H levanta-se o governador, fez uma saudação aos visitantes tecendo ainda os maiores elogios a empresa. Em seguida, falou inflamado o famoso deputado Tenório Cavalcanti ( equipado com capa, barbicha, lurdinha e outras coisas) dizendo-se impressionado com o complexo técnico da manutenção, considerada por todos como exemplo para o mundo da aviação, dizendo-se encantado com tudo aquilo que acabara de ver. Faltava a palavra da companhia. Dois diretores presentes, tímidos e inibidos, sentenciaram o imperativo – Fala Régius !.O que falou nem ele tem lembrança – só sabe que no final recitou uma frase em 3 idiomas (alemão, inglês e português) demonstrando erudição, que dizia mais ou menos assim : “ A presença dos senhores é como o vinho que bebemos- o ´Néctar dos Deuses” Foi aplaudido e abraçado pelos ilustres visitantes, com os diretores da Varig erguendo vivas com suas taças de cristal. Pela primeira vez, a ausência de Berta não foi sentida, e a chamada Fala Régius! tornou-se a taboa de salvação para os inibidos diretores da Varig, na ausência forçada do presidente.