MEYER X BERTA

MEYER X BERTA

DÚVIDA HISTÓRICA AGORA REVELADA
 
NO PÓS-GUERRA POR QUE MEYER NÃO REASSUMIU O COMANDO DA VARIG ?
Berta e Meyer – Olhar desconfiado, com mais dúvidas do que certezas.
 

Muitos detalhes tiveram peso fundamental para a continuidade de Berta no poder – ou foi uma atitude orquestrada de quem gostou e não quis mais largar? O desejo de Meyer em voltar ao comando da Varig foi uma incógnita nunca revelada explicitamente. Sua carta de renúncia deixou uma série de dúvidas. Mesmo afastado do cargo, ele continuou a ter contato secreto com Berta, mantendo uma duplicidade, iludindo o pessoal do DOPS ? – .Existiu, em algum momento, conflito entre ambos pela tomada do poder ?.

Ao investigar o assunto, examinando os documentos  guardados por  Meyer,  surgiram mais dúvidas do que certezas. Meyer se vangloriava da sua atuação, inclusive enfatizando o fato da nunca a Varig ter sofrido com seus aviões nenhum acidente fatal envolvendo passageiros. Deixava  antever que passada a borrasca e provada a sua inocência, retornaria, para dar continuidade ao sonho de fazer da Varig uma realidade, capaz de orgulhar o Rio Grande. Em 41, Meyer teve duas propostas quando foi obrigado a deixar a Varig, pela sua origem germânica – uma, a de receber importante soma em dinheiro, capaz de garantir o seu futuro e de sua família –  outra, a de manter uma aposentadoria com ganho regular, coisa que ele preferiu, mantendo, assim, um tênue vínculo com a empresa, na esperança de uma mudança radical, coisa que não aconteceu naquele momento conturbado. Por sua vez, o fundador da Varig não teria, por uma série de circunstâncias políticas,  condições de defender os interesses da companhia, naquele nebuloso quadro da vida nacional.

“Quem vai ao ar perde o lugar,” era um ditado popular que Berta conhecia bem. Meyer não gozava de uma saúde perfeita, resquícios do tempo da guerra  de 1918 em que participou como militar alemão. Aqui no Brasil chegou a ter malária. Ao contrário, Berta era mais jovem, carimbado pelo próprio fundador como meu “garoto de ouro.” Depois, com o decorrer dos anos, e o acúmulo de responsabilidades que a nova função exigia, Berta passou a ter atuação livre de amarras. Deu um show de competência dificultando alguma ação para removê-lo do cargo. Organizou a Varig de tal maneira que ficou  fora de bom – senso  qualquer movimento contrário capaz de usurpar seu poder. Meyer, continuou mantendo forte relacionamento com Berta, – segredo mantido a sete-chaves –  que descobri vasculhando os arquivos liberados pela família de Meyer, quando da pesquisa para meu livro. Berta escutava seus conselhos, que passaram a não ter a força dos tempos anteriores e decidia tudo à sua maneira. Tornou-se um líder mundial da aviação, sendo aclamado presidente da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional) liderando eventos  que confirmaram sua liderança. Antes de qualquer coisa, Berta compreendeu as dificuldades do emaranhado do setor que englobava a aviação.

Parceria entre Getúlio Vargas e Berta rendeu para a Varig portas para Nova York, abrindo caminho na conquista do mundo.

Antecipou problemas, apontando soluções. Ganhou a simpatia de autoridades, dos seus companheiros de jornada e do público usuário, encantando todos com o resultado do bom serviço. Dominando os editoriais dos grandes veículos de comunicação, terreno em que travou lutas homéricas com oponentes –  em regra geral Por sua vez, o fundador da Varig não teria, por uma série de circunstâncias, a condição de cumprir papel  decisivo  que o momento exigia. – inibindo improváveis pretensões de Meyer. Fato definitivo deu-se justamente no final da guerra, em 45, quando Berta idealizou a Fundação dos Funcionários da Varig, tornando-se Presidente da Fundação dos Funcionários, do Conselho de Administração e ao mesmo tempo Presidente da Varig, tudo como os Estatutos proclamavam.

Aperto de mão entre Meyer e Berta – retorno ao ninho antigo

Por indicação de Berta, Otto Meyer foi reintegrado aos quadros de funcionários da Varig,  ocupando seu Conselho Fiscal,  numa demonstração do reconhecimento histórico que sempre os uniu. Tanto Meyer como Berta, tornaram-se grandes lideres, cada um em épocas distintas, montando um “quebra – cabeça” buscando o mesmo ideal – tornar a Varig gigante dos ares. Meyer e Berta, sempre foram considerados “ficha-limpa” da aviação comercial brasileira, ao contrário de concorrentes que se locupletavam, usando indevidamente volumosas verbas desviadas das subvenções governamentais, em beneficio próprio. Na verdade, nunca houve disputa em campo aberto entre eles pela tomada do poder  –  cada um  reconhecendo as circunstâncias do  momento  vivido. Certamente, Ruben Berta foi um homem sem maiores ambições pessoais, longe de riquezas, assim como Meyer. Ambos tiveram uma vida simples, sem qualquer rompante, dedicando-se  com afinco à meta que perseguiram até o fim, fazendo da Varig um exemplo de sucesso. Ambos faleceram no mesmo ano -1966- deixando um legado imorredouro para a humanidade.

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