O PILOTO MOSTRAVA-SE UM HOMEM CERCADO PELO INEDITISMO
Um dos setores que mais chamava atenção dos visitantes no Museu Histórico da Varig, era aquele que mostrava os uniformes usados pelos tripulantes dos aviões da empresa. Era uma reconstituição feita a partir do hidroavião Atlântico nos anos 30, época que a Varig dava seus primeiros passos. O piloto mostrava-se um homem cercado pelo ineditismo. No Atlântico, era comum o uso de calça culote e macacão de brim, com capacete de tecido de couro. Mas, foi com os aviões terrestres, como o Junkers F-13, por exemplo, que ficou mais caracterizada a calça culote em tecido de brim, camisa branca, gravata escura e jaqueta de couro marrom, com ziper. Completava a vestimenta, botas de couro longo, capacete também de couro e óculos protetores.
O pouso, conforme lembrava o cmte. Lili de Souza Pinto, estava na época sujeito a alterações climáticas. O rosto era queimado pelo sol e o vento, somente nas partes não cobertas pelo capacete e os óculos – imagine o nosso aspecto quando não estávamos usando esses apetrechos. O Junkers A-50, por exemplo, tinha o motor descoberto com o comando de válvula exposto, sendo lubrificado com graxa antes de cada decolagem. No fim do voo a graxa estava toda depositada no rosto, nos óculos e na parte superior do corpo do piloto. – diziam, no entanto, que era muito bom para a pele”
Em 1939, como já fizera com os atendentes nas Lojas, Meyer resolveu padronizar os uniformes da companhia, incluindo pilotos e o pessoal da manutenção — só que a Caixa da Varig não suportava qualquer despesa que não fosse essencial- Ele pediu e foi atendido – os funcionários passaram a pagar os próprios uniformes com desconto mensal em “folha” Já nos anos 40, com o termino da guerra, a criação da Fundação dos Funcionários e a aquisição dos DC-3 a Varig passou a viver uma era de alguma fartura. expulsando de vez o tempo das “vacas magras” assumindo as compras e ganhando uma mídia externa com o nome da Varig circulando nas costas dos mecânicos e no garbo dos tripulantes.
NO PÓS-GUERRA POR QUE MEYER NÃO REASSUMIU O COMANDO DA VARIG ?
Muitos detalhes tiveram peso fundamental para a continuidade de Berta no poder – ou foi uma atitude orquestrada de quem gostou e não quis mais largar? O desejo de Meyer em voltar ao comando da Varig foi uma incógnita nunca revelada explicitamente. Sua carta de renúncia deixou uma série de dúvidas. Mesmo afastado do cargo, ele continuou a ter contato secreto com Berta, mantendo uma duplicidade, iludindo o pessoal do DOPS ? – .Existiu, em algum momento, conflito entre ambos pela tomada do poder ?.
Ao investigar o assunto, examinando os documentos guardados por Meyer, surgiram mais dúvidas do que certezas. Meyer se vangloriava da sua atuação, inclusive enfatizando o fato da nunca a Varig ter sofrido com seus aviões nenhum acidente fatal envolvendo passageiros. Deixava antever que passada a borrasca e provada a sua inocência, retornaria, para dar continuidade ao sonho de fazer da Varig uma realidade, capaz de orgulhar o Rio Grande. Em 41, Meyer teve duas propostas quando foi obrigado a deixar a Varig, pela sua origem germânica – uma, a de receber importante soma em dinheiro, capaz de garantir o seu futuro e de sua família – outra, a de manter uma aposentadoria com ganho regular, coisa que ele preferiu, mantendo, assim, um tênue vínculo com a empresa, na esperança de uma mudança radical, coisa que não aconteceu naquele momento conturbado. Por sua vez, o fundador da Varig não teria, por uma série de circunstâncias políticas, condições de defender os interesses da companhia, naquele nebuloso quadro da vida nacional.
“Quem vai ao ar perde o lugar,” era um ditado popular que Berta conhecia bem. Meyer não gozava de uma saúde perfeita, resquícios do tempo da guerra de 1918 em que participou como militar alemão. Aqui no Brasil chegou a ter malária. Ao contrário, Berta era mais jovem, carimbado pelo próprio fundador como meu “garoto de ouro.” Depois, com o decorrer dos anos, e o acúmulo de responsabilidades que a nova função exigia, Berta passou a ter atuação livre de amarras. Deu um show de competência dificultando alguma ação para removê-lo do cargo. Organizou a Varig de tal maneira que ficou fora de bom – senso qualquer movimento contrário capaz de usurpar seu poder. Meyer, continuou mantendo forte relacionamento com Berta, – segredo mantido a sete-chaves – que descobri vasculhando os arquivos liberados pela família de Meyer, quando da pesquisa para meu livro. Berta escutava seus conselhos, que passaram a não ter a força dos tempos anteriores e decidia tudo à sua maneira. Tornou-se um líder mundial da aviação, sendo aclamado presidente da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional) liderando eventos que confirmaram sua liderança. Antes de qualquer coisa, Berta compreendeu as dificuldades do emaranhado do setor que englobava a aviação.
Antecipou problemas, apontando soluções. Ganhou a simpatia de autoridades, dos seus companheiros de jornada e do público usuário, encantando todos com o resultado do bom serviço. Dominando os editoriais dos grandes veículos de comunicação, terreno em que travou lutas homéricas com oponentes – em regra geral Por sua vez, o fundador da Varig não teria, por uma série de circunstâncias, a condição de cumprir papel decisivo que o momento exigia. – inibindo improváveis pretensões de Meyer. Fato definitivo deu-se justamente no final da guerra, em 45, quando Berta idealizou a Fundação dos Funcionários da Varig, tornando-se Presidente da Fundação dos Funcionários, do Conselho de Administração e ao mesmo tempo Presidente da Varig, tudo como os Estatutos proclamavam.
Por indicação de Berta, Otto Meyer foi reintegrado aos quadros de funcionários da Varig, ocupando seu Conselho Fiscal, numa demonstração do reconhecimento histórico que sempre os uniu. Tanto Meyer como Berta, tornaram-se grandes lideres, cada um em épocas distintas, montando um “quebra – cabeça” buscando o mesmo ideal – tornar a Varig gigante dos ares. Meyer e Berta, sempre foram considerados “ficha-limpa” da aviação comercial brasileira, ao contrário de concorrentes que se locupletavam, usando indevidamente volumosas verbas desviadas das subvenções governamentais, em beneficio próprio. Na verdade, nunca houve disputa em campo aberto entre eles pela tomada do poder – cada um reconhecendo as circunstâncias do momento vivido. Certamente, Ruben Berta foi um homem sem maiores ambições pessoais, longe de riquezas, assim como Meyer. Ambos tiveram uma vida simples, sem qualquer rompante, dedicando-se com afinco à meta que perseguiram até o fim, fazendo da Varig um exemplo de sucesso. Ambos faleceram no mesmo ano -1966- deixando um legado imorredouro para a humanidade.
COMO A VARIG SERVIU DE PARAMETRO NUM FATO HISTÓRICO, COM SALOMÃO PLATCHECK DE PROTAGONISTA
A Varig tinha raízes germânicas em sua criação, assim como a Sogipa (Sociedade Ginástica de Porto Alegre) antes da guerra Turnebund , havendo amplo relacionamento entre ambas. No entanto, colocar o nome de Salomão Platcheck como fotógrafo no setor de comunicação da Sogipa, que eu acabava de assumir, foi bomba que explodiu na cúpula do clube, especialmente no Conselho Administrativo – associados que comandavam os destinos da entidade e zelavam por conceitos históricos, arraigados as suas origens. Era um conflito de raças que julgávamos ultrapassado, que vinha contra interesses de penetração. estratégica da Varig, na busca de uma aproximação e domínio num jogo de interesses, do qual o indicado aparecia como figura predominante em nossos planos.
Entre seus líderes carismáticos, o Clube tinha uma figura de forte personalidade, tipo ditador velado (como Berta na Varig ) A palavra de Gerhard Theisen valia como uma sentença, com o peso de acalmar qualquer celeuma – A Sogipa e a Varig têm o mesmo tipo de raiz, ele afirmava convicto : “O que serve para a Varig pode servir também para a Sogipa” – Dito e feito. Pista livre para a decolagem. O entrosamento com Salomão era fundamental – havia entendimento simplesmente pelo olhar ( sim ou não) Ele fazia parte dessa engrenagem. Seu trabalho seria ponto – chave de penetração junto ao grupo formado por conceituados empresários, profissionais liberais e gente da alta-sociedade, além do seleto público que compunha o grupo de associados que a concorrência almejava conquistar pela sua representatividade. Num acordo com Vendas, arregaçamos as mangas, juntando o útil ao agradável, utilizando a estratégia da aproximação. Eu já era sócio da Sogipa, buscando o lazer familiar, como se fosse o quintal da própria casa, granjeando amigos incríveis
Os ex-presidentes, sem exceção, participavam do Rotary Clube São João, com reuniões mensais em almoço de confraternização, do qual. passei a tomar parte, levado pelo prestígio da Varig. Em seguida, assumindo o setor de Comunicação da Sogipa. inclui o Rotary, com boletins especiais. Comecei a montar um grupo enxuto de auxiliares. – Para surpresa geral o primeiro a ser convocado chamava-se Salomão Platcheck , fotógrafo que seria parte estratégica em qualquer iniciativa mais audaciosa que viesse a tomar. A restrição acontecia especialmente entre os mais tradicionais, não vendo com bons olhos um estranho com identidade suspeita pela origem racial, vasculhando as atividades do clube, ganhando uma intimidade não recomendada.
Logo, Salomão, com seu gênio expansivo, mas respeitoso, com competência e folego capaz de enfrentar qualquer desafio mantendo um comportamento agregado, com nossa supervisão e acompanhamento, tornou-se uma figura popular e amistosa, colhendo farto material, depois usado no acervo quando a Sogipa completou seus 150 anos de vida. Por sua vez, o objetivo da Varig foi alcançado, gerando campo livre para a decolagem da equipe de Vendas –
SALOMÃO PLATCHECK CONQUISTOU A GLORIA DE UM EPISÓDIO HISTÓRICO, SERVINDO DE MODELO PARA A CONFRATERNIZAÇÃO ENTRE OS POVOS.