FRANZ NUELLE – PRIMEIRO EM TUDO
FRANZ NUELLE – HERÓI LENDÁRIO DA HISTÓRIA DA VARIG
Convivi com Franz Nuelle, fechando um ciclo que marcou minha vida com todos os heróis históricos da Varig, e entrevistá-lo para o Boletim do Museu ( N.20/82) foi momento marcante. Até então, para mim, ele aparecia citado nos recortes dos jornais antigos – de repente estava ali, em carne e osso, completando uma saga que me tornava especial como porta voz de uma personagem incrível, que marcara época dando vida à Varig nos tempos do pioneirismo. Reverenciá-lo para o mundo da aviação foi um feito digno de registro.
Em 11 de janeiro de 1927, Otto Meyer voltou de Hamburgo trazendo documentos que confirmaram a imediata disponibilidade do comandante Rudolf Krammer Von Clausbruch, da Lufthansa, e do mecânico de bordo e segundo piloto, Franz Nuelle, da Scadta ( hoje Avianca) para o quanto antes iniciar um serviço regular em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande – Linha da Lagoa, pela primeira empresa aérea brasileira. Eles vinham trazendo o hidroavião Atlântico como parte acionária da incorporação da Varig. Foi distribuído um folheto impresso na livraria do Globo, com relatório à fundação da Varig e o projeto do Estatuto, este elaborado pelo dr. Adroaldo Mesquita da Costa, que viria a ser mais tarde ministro da justiça do governo do Marechal Gaspar Dutra, tornando-se figura notável deste episódio.
Cessada a revolução a Varig buscou retornar as suas atividades regulares, mas lhe faltavam condições, coisa que somente viria a acontecer quando o presidente do Estado, General Flores da Cunha, cumpriu a promessa de apoio incondicional, repassando subsídios, junto com a aquisição de dois Junkers F-13, dando o impulso prometido que teve o último capítulo com a concessão de Vargas para a linha de Nova York, pioneirismo realizado pelo Caravelle em 59, lançando a Varig para o mundo.
Em 1931, Nuelle sofreu acidente de consequências trágicas, com a morte do acompanhante, causando-lhe sérios ferimentos com as duas pernas quebradas resultando na amputação de um pé, substituído por uma prótese. Fazendo a função de instrutor ensinava o aviador João Carlos Gravé, candidato a uma vaga na Varig – rota do Correio Aéreo. Nuelle, alojado na poltrona traseira,assumiu o comando do Junkers A-50, prefixo P-BAAE (primeiro avião terrestre da Varig) Em Rio Grande, durante a decolagem, o mapa de bordo caiu por uma fenda da madeira, bloqueando desse modo seu manche. Tal incidente, apesar de todos os esforços do comandante da Varig, ocasionou a queda do pequeno aparelho, na ilha dos Mosquitos, com perda total. Ficava então a Varig, sem avião e sem piloto, devido a incapacidade física do seu único comandante.
Franz Nuelle abandonou a aviação, voltando para a Alemanha, por onde permaneceu em tratamento de saúde, recluso, vivendo praticamente no anonimato por longo período. Nesse ínterim passou a receber da Varig uma ajuda de custos, oferecida por Berta, pelos relevantes serviços prestados a aviação comercial no Brasil, em especial à Varig, complementada pela Lufthansa. Já refeito, resolveu junto com a esposa retornar ao Brasil, onde deixara um grupo seleto de amigos, passando a residir na vizinha cidade de Canoas, para logo em seguida criar o Táxi Aéreo Guarany, com sede junto ao aeroporto Salgado Filho. O velho guerreiro voltava ao ninho antigo cercado pelo afeto e reconhecimento daqueles que nunca esqueceram o seu valor.