COISAS DA PROPAGANDA
RELAÇÕES PÚBLICAS DA VARIG E AS ARTIMANHAS DA PUBLICIDADE.
Carinho com a imprensa nas datas simbólicas e os brindes, peças únicas que encantavam – ao desaparecimento misterioso (nem tanto) dos talheres de bordo causando apreensão, enquanto o presidente apenas sorria.
O desaparecimento sistemático dos talheres de bordo da primeira classe, com a marca Varig estampada, era um assunto que causava certo desconforto na tripulação, com dificuldade de reposição nas escalas. A revista de bordo Icaro publicava uma série de anúncios do cliente e os talheres sumiam como num passe de mágica. A Varig repunha o material negociando descontos absurdos, em função da quantidade de itens, num interesse recíproco. Os custos tornavam-se insignificantes, diluídos na verba de RP e Serviço de Bordo, só para constar, pois o valor dos imagináveis gastos, já era incluído no bilhete da passagem – custo zero? O pessoal da Icaro ainda ria atoa, faturando mensalmente criativos anúncios, muitos de página dupla – bem pagos – capaz de instigar seus leitores para ações mais arrojadas.
Nos anos 70/80, nas gestões de Erik de Carvalho e Helio Smidt, o prestigio da Varig repercutia no próprio funcionário, sentindo orgulho da marca reforçando conceito, tornando cada funcionário (por conta própria) um agente promotor, capaz de abrir portas em qualquer situação O pessoal da manutenção vestia um macacão e um blusão, feito em Caxias do Sul, com o logo da empresa nas costas. O orgulho de ser Varig era tão grande que muitos deles retornavam para suas casas com a vestimenta para que os vizinhos soubessem que trabalhavam na empresa. Outros, viajavam nos bondes e ônibus ostentando craxá, buscando reconhecimento. O nome Varig era tão respeitado que muitos veículos de comunicação ofereciam espaço de mídia gratuito para ter a parceria da Varig no lançamento de uma programação, pois a presença dava credibilidade e garantia de qualidade do evento, tornando mais fácil a negociação com terceiros, normalmente interessados na parceria com uma marca consagrada.- um negócio que dificilmente era aceito pelo crivo do nosso marketing.
Dentro desse panorama, uma das mais usadas pelo nosso setor estava um serviço de RP junto aos órgãos de divulgação, especialmente jornais, procurando manter um relacionamento direto, usando estratégia de aproximação com a maior parte possível dos seus funcionários, não se atendo somente aos chefões, donos das decisões, mas ao grupo exclusivo capaz de construir o corpo da notícia, usando momentos estratégicos, o que repercutia em toda a organização, criando um clima de simpatia que se espalhava pelas redações A festiva data do Ano Novo, por exemplo, tinha a fragilidade da separação familiar. A Varig, usava então esse instante emocional, para antecipar-se e levar o seu abraço aos plantonistas dos principais jornais, procurando cobrir essa lacuna, O pessoal da Propaganda (Adilio, Argenor e Edison) juntamente com colegas do Serviço de Bordo, se multiplicava, visitado a redação dos principais orgâos de imprensa levando a saudação da Varig aos plantonistas, junto a uma apreciada cesta de iguarias, para satisfação geral. A nossa equipe fazia um levantamento preliminar da relação dos funcionários acrescentando ao presente uma mensagem individual que emocionava. Normalmente, eles retribuíam com farta matéria
Na verdade o trabalho de RP na Varig – anexado a Propaganda, era um setor que Berta sempre deu grande atenção capaz de personalizar a aproximação, mantendo o cliente fiel ou na busca de futuros passageiros. Nos anos 50 tudo ganhou ênfase com o ingresso do Super Constellation no voo de Nova York e se perpetuou pelo tempo. Épocas depois, já na era de Erik de Carvalho e Helio Smidt, (anos 70/80) ao assumirmos a gerência de propaganda no setor sul passamos a incentivar a programação inventando novas artimanhas – A única peça relevante ligada diretamente ao cliente, vinha sendo feita na gráfica Rotermund, em Novo Hamburgo, através de um calendário personalizado, muito bem elaborado, mas de uso comum – passamos a reivindicar um exclusivo, mostrando dados da Varig. Nasceu daí a ideia de ampliar essa estratégia .Dentro da verba de propaganda estava relacionada uma série de brindes para os diversos públicos, Eram peças únicas históricas. algumas de relativo valor financeiro, não disponíveis no mercado, trazendo o logotipo da Varig. Uma das exceções eram os cinzeiros da coleção Francisco Brenam que a Varig escondia o logotipo na parte de trás, deixando ao possuidor da obra de arte a decisão de após a admiração dos amigos, revelar a procedência (coisa que sempre acontecia, com certo orgulho) Gerenciando o setor recebi a alcunha de “Mario promessa” chamado pelos amigos e conhecidos por nem sempre poder atender as solicitações.