BOICOTE DA VARIG
ERIK DE CARVALHO X ADOLPHO BLOCH
DEPOIS DO ACIDENTE EM ORLY COM O BOEING, A VARIG CORTOU SEU NOME COMO ANUNCIANTE DA REVISTA MANCHETE
Como e porque a Varig ficou dez anos sem anunciar na maior revista brasileira da época, deixando a Bloch Editores “a ver navios”
A direção da Varig, uma das maiores anunciantes da época, não gostou de ver o seu símbolo dominando a cena A Varig riscou seu nome na lista dos grandes anunciantes das revistas da Bloch – a imagem traumática da cauda do Boeing exibindo a Rosa dos Ventos e a sigla Varig de contrapeso, causou um rombo nas finanças da Bloch Editora, por 10 anos seguidos, num boicote jamais visto na imprensa brasileira. Desesperada, a Editora garantiu que sonegou o nome da Varig na capa, mas não foi suficiente. As revistas sobreviveram, mais restou algumas cicatrizes no caixa.
Os anos 70 podem ser considerados como os anos de ouro da Varig, mas foi justamente no auge do seu desempenho com Erik de Carvalho no comando – que sofreu um dos mais contundentes acidentes aéreos que, incrivelmente, não chegou a abalar o prestígio da empresa junto ao publico – alvo. Segundo especialistas o pouso de emergência foi correto, realizado com grande pericia pela tripulação- Existia no toalete um revestimento altamente tóxico quando submetido a fogo. Os passageiros perderam a consciência permanecendo afivelados em suas poltronas, e segundo Ricardo Trajano, único passageiro sobrevivente, não houve reação, nem gritos que revelassem pânico da situação. Por sua vez, a tripulação foi homenageada pelo governo francês, por ter conseguido desviar o avião em chamas dos grandes centros urbanos, descendo em emergência num terreno de plantação.de cebolas, contiguo ao aeroporto de Orly, evitando uma verdadeira catástrofe
Desde os tempos de Berta, havia uma posição estratégica sobre o assunto – com a decisão de afastar-se da mídia (publicidade) por tempo conforme a repercussão do acontecimento. No caso de Paris, foi de um ano, determinado pelo presidente, através da Superintendência da Propaganda – um asterísco incluindo a Bloch Editora, constava – Aguardar instruções ( que nunca chegaram enquanto Erik foi presidente). Nasceu daí um desentendimento entre os mandatários das duas empresas, que durou 10 anos, só sanado depois da saída e morte do presidente da Varig.
Naquela noite de sexta-feira (13/07/73) segundo o jornalista Roberto Muggiati: “fomos comunicados para fechar a edição antecipada da Manchete, com a cobertura do desastre do avião da Varig”. O objetivo das revistas ilustradas era causar impacto. Foi uma destas páginas duplas de grande visibilidade que provocou uma séria crise nos semanais. Ele era o “segundo” do diretor da revista, Justino Martins, que tinha à disposição cromos impressionantes da tragédia e muitas fotos. Nenhum personagem da Bloch compareceu ou telefonou para tomar conhecimento daquele festim editorial – Adolpho Bloch não foi localizado – um descaso incrível com a própria revista considerando a repercussão mundial do assunto, incluindo um dos seus mais poderosos anunciantes. Foi uma noite macabra, mostrando o desarranjo que já acontecia, sem uma direção atuante. Omissão que a Varig não deixou passar em brancas nuvens. O repórter que cobriu o acidente era o polêmico Carlos Marques, então na sucursal de Paris. O autor das fotos jamais foi revelado.
DEPOIS DA CRISE TRAUMÁTICA COM A VARIG A MANCHETE NUNCA MAIS VOLTOU A PUBLICAR FOTOS DE ACIDENTES. A BLOCH EDITORES FOI CRIADA EM 1952, COM A MANCHETE, ENCERRANDO ATIVIDADE NO ANO 2000, INDO A FALÊNCIA.
O ACERVO DE FOTOS DA REVISTA MANCHETE, ESTIMADO EM R$ 1.800 MILHÃO, FOI LEILOADO POR R$ 300 MIL EM 2010.