ACONTECIA DE TUDO COM OS AVIÕES DA REAL

ACONTECIA DE TUDO COM OS AVIÕES DA REAL

A rota servida por avião da Real, jamais tinha visto um automóvel.

BERTA X LINNEU GOMES E A REAL  –  V ITÓRIA DO AVESSO

Na guerra com Linneu Gomes pela posse da Real, Berta saiu vencedor  sem querer, querendo. Sabia que estava levando uma empresa falida, mas desconhecia o tamanho do rombo. Literalmente comprou nabos em saco. Pagou caro e se deu mal (em parte) comprando uma empresa destroçada, sem imaginar a forma do remendo. Entre grandes acessos, teve que enfrentar  caminhos tortuosos, com histórias incríveis que vale apena recordar  fazendo  seus pilotos passarem por poucas e boas no comando dos indestrutíveis DC-3. Coube ao comandante Rubens Bordini, dirigindo a RAI ( Rede de Interação Nacional) tentar limpar o abacaxi.

UMA HISTÓRIA INCRÍVEL QUE BEIRA A FICÇÃO

Em meados dos anos sessenta as empresas do antigo consócio Real Aerovias Brasil foram incorporadas a Varig, deixando de existir. A Varig foi dividida em duas empresas – Rede Aérea Nacional (RAN) e internacional (RAI) esta sob o comando direto de Berta, no Rio de Janeiro. Por sua vez, o comandante Rubens Bordini (vice- presidente da Varig) passou a administrar a RAN, com sede em São Paulo. O sistema foi uma iniciativa do Ministério da Aeronáutica, através da Rede de Integração Nacional que passou a subvencionar linhas para o interior pobre do Brasil,  de qualquer das empresas existentes, que precisava da presença do avião como meio de comunicação  com o resto do País. Havia localidades servidas pela RAN que não tinham outro meio de comunicação com o mundo a não ser, eventualmente, lentas e pachorrentas embarcações que levavam semanas percorrendo alguns dos rios do norte do País

Logo que chegou em São Paulo para administrar a Real, Bordini, junto com sua equipe, passou a viajar  pelas linhas que a Real mantinha nos confins do País. Havia locais onde o avião  (o velho e querido DC-3) chegara ao conhecimento da população antes do automóvel. Em vários dos aeródromos do interior não havia edificações de espécie alguma. O check-in dos passageiros era feito a céu-aberto, quando muito sobre a sombra de uma jaqueira. Como as comunicações por rádio  eram precárias os candidatos a passageiros esperavam o avião – depois de atravessarem um braço de rio com uma canoa – na expectativa que houvesse lugar para embarcar, e quando as vagas eram menores do que a quantidade de passageiros, não era raro se discutir o direito de embarcar no tapa ou no facão.

Certa vez um caboclo, com roupa surrada. barba grande e chinelos, embarcou num DC-3 da Real num desses perdidos e desconhecidos aeródromos do interior do nosso vasto País. Foi-lhe indicada uma poltrona, ele sentou-se e o avião decolou. Fosse pelo inusitado do voo ou por razões naturais, o caboclo em questão, sentiu-se apertado e não teve dúvidas: levantou-se, baixou as calças, acocorou-se no corredor do avião e evacuou alí mesmo, tranquilamente. Depois, afivelou as calças e sentou-se  (sem a preocupação de se limpar)  como se evacuar no corredor de um avião fosse a coisa mais natural do mundo.

 A comissária do voo, acostumada a toda a sorte de aventuras empalideceu (também assim é demais, não?) e teve que limpar o corredor do avião, acompanhada por um coro de protestos dos demais passageiros, coro esse que era mais mímico do que sonoro, pois o danado do DC – 3  era mais barulhento do que os passageiros.

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