TEMPOS HERÓICOS (2)

TEMPOS HERÓICOS (2)

HISTÓRIA DO GAÚCHO QUE LAÇOU O AVIÃO PELAS “GUAMPA” EM PLENO VOO

Não existe nos anais da aviação caso semelhante no mudo.

Um fato real considerado impossível, virou história. Mas a verdade é que o extraordinário acontecimento teve lugar no Pampa gaúcho no município de Santa Maria no Rio Grande do Sul, Nada pode parecer mais estranho do que a notícia de que um homem tenha laçado um avião.  A vontade que a gente tem é mesmo de duvidar. Esta baita façanha ocorreu num quente janeiro de 1952. O nome do laçador era Euclides Guterres, então com 24 anos. O piloto Irineu Noal, 20 anos, ambos já falecidos, porém em vida, confirmaram a história.

Nas minhas aulas da PUCRS, no Curso de Jornalismo, nos anos 50,  o então professor Claudio Candiota deitava e rolava esmiuçando o furo jornalístico (gloria máxima de um repórter) que conquistara, tirando ilações sobre o tema, que se espraiou pelo mundo —  para mim, arma secreta usada nos meus voos rasantes pelas asas da Varig. Ele era diretor do jornal  A Razão, de Santa Maria, e foi procurado pelo presidente do Aeroclube local, contando um fato, segundo  ele, capaz de por em risco a credibilidade da entidade e contou a história, pedindo para não ser publicada. Candiota arregalou os olhos e respondeu – Vou fazer do seu Aeroclube conhecido pelo mundo a fora  – e foi o que aconteceu – tiro dado bugio deitado.

Tudo começou quando o jovem piloto  Irineu pegou o “Paulistinha” batizado de Manoel Ribas, pela Campanha de  Aviação, (obra de Chateubriand) e decolou rumo a fazenda de Cacildo Pena Xavier, em Tranqueiras, nas proximidades da base aérea de Camobi, em Santa Maria. Já havia sobrevoado o local em outras oportunidades. Arrojado e confiante, sentia-se à vontade no seu teco-teco. Logo avistou a propriedade:  A casa  Grande e todo o seu conjunto.-  os largos  currais, a velha figueira, o mangueirão, e iniciou uma série de voos rasantes nos arredores. Nesse senário o intrépido piloto tinha um apaixonado propósito de desfazer-se de um maço de cartas, devidamente enrolado, para sua ex-namorada Suzana, filha do dono da Estância.

Passou a tirar repetidos rasantes sobre as coxilhas. No alto de uma delas Euclides cuidava de uma novilha com bicheira e não gostou do que viu e ouviu. Pensando que aquilo era alguma provocação, não teve dúvidas – Armou o laço  de treze braças e quatro tentos e atirou algumas vezes contra o bico do avião, Então tche, o peão, conhecido na região como o rei do laço, vencedor de vários torneios, usou toda a sua aptidão, laçando o avião em pleno voo.  Mas que façanha bem gaúcha.. A laçada atingiu a hélice do avião, que devido a sua rotação acabou arrebentando o laço, mas deixou um pedaço enredado. O piloto, mais assustado do que cusco em procissão, não entendeu direito o que estava acontecendo e resolveu aterrissar, retornando direto ao hangar para constatar as dimensões do estrago, que lhe valeu a troca da hélice e demissão sumária  do aeroclube, por comando temerário.

A revista O Cruzeiro enviou seu principal reporte fotográfico Ed Kefell..para Santa Maria, dedicando cinco páginas para a matéria, entrevistando os envolvidos, entre eles o principal personagem, Laçador, Euclides Guterres (foto) esgotando a primeira edição em apenas algumas poucas horas

O jornalista publicou o fato no jornal de Santa Maria, ( A Razão) onde era titular, e no Diário de Noticias, de Porto Alegre. Chatô, de imediato, passou  o assunto para o pessoal da revista O Cruzeiro, líder dos Associados  (700 mil exemplares) dando destaque a matéria, reservando cinco páginas e escalando dois dos seus mais conceituados profissionais para dar seguimento ao verdadeiro furo jornalístico de Claudio Candiota. A matéria inusitada teve tal relevância que foi parar nas páginas da revista Time  Magazine, de Nova York Pela notoriedade conquistada, ele foi transferido para a capital, Porto Alegre, passando a fazer parte  da equipe do Diário de Notícias como um dos diretores.  Ao mesmo tempo foi convidado pela direção da PUCRS para lecionar a matéria nas aulas do Curso de Jornalismo, recém iniciado, do qual eu fazia parte como aluno, nascendo dai uma amizade forjada no respeito e admiração. Seguidamente o assunto do avião laçado pelo peão da Estância era abordado, especialmente comigo por trabalhar na Varig e gostar de ouvir a história, que ele repetia varias vezes em sala de aula, tirando do episódio uma série de ensinamentos e ilações, que  acompanhávamos entre incrédulos e admirados. Foi  seu grande momento na profissão, furando toda a mídia (nacional  e mundial) fazendo parte  dos assuntos abordados, como exemplo do bom jornalismo. Convidado por ele, fiz meu estágio regulamentar no próprio Diário, que me rendeu ensinamentos que usei na Varig com alguma mestria.

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