COMISSÁRIOS E COMISSÁRIAS DE BORDO NA VARIG
DO PIONERISMO A MODERNIDADE NASCE UMA ESTRELA
Uma lembrança do passado invocando o tempo pioneiro dos comissários de bordo e uma viagem sobre a modernidade num incrível raio X incluindo o processo envolvendo milhares de pessoas para a realização de um voo perfeito – padrão Varig.
A Varig recrutou dentro do próprio quadros de funcionários os seus primeiros aeromoços, tendo como única exigência a aprovação no exame médico, realizado pela antiga Diretoria de Aviação Civi do Ministério de Aeronáutica. Os critérios de seleção eram extremamente singelos e em nada se assemelhavam aos que hoje são utilizados perla Varig, mais de 50 anos após a realização dos seus primeiros voos com a presença de comissários, só se deu quando da aquisição dos Douglas C – 47B em dezembro de 1945. Inicialmente configurados para o transporte de 21 passageiros e equipados com uma modesta Galley, permitia à Varig ultrapassar os limites do Rio Grande do Sul e alcançar os grandes estados do Sul e Sudeste do Brasil. Ao contrário do que ocorria com outras empresas de transporte aéreo, brasileiras e estrangeiras,, a Varig se manteve obstinadamente contra a ideia de contratar mulheres para desempenharem o papel de aeromoças – consequência do extremo conservadorismo do presidente da Varig, Ruben Berta.. Assim,, esta turma de primeiros comissários foi formada exclusivamente de homens que não receberam qualquer treinamento específico. para a função que iriam desempenhar – cabia a cada um utilizar o bom senso para executar o trabalho e seguir as instruções dadas pelo comandante.
.
As atribuições desses primeiros comissários guardavam pouca semelhança com as responsabilidades da atual geração de comissários e comissárias, cujo papel na época era aliviar diversos encargos da tripulação técnica, além de zelar pelo conforto e segurança dos passageiros. Apresentando-se no aeroporto bem antes dos demais membros da tripulação, os comissários daquela época executavam uma ampla gama de tarefas: peso e balanceamento da aeronave, distribuição das bagagens dentro dos porões de carga e a documentação necessária para o voo, eram algumas das atribuições dos aeromoços daquela época, – sem mencionar todos os trabalhos ligados diretamente ao conforto e segurança dos passageiros. Logo no inicio, os aeromoços que compunham as tripulações dos Douglas C -47B e Curtiss C-46A, distribuiam aos passageiros um chumaço de algodão e uma caixa de chiclete ( eu vivi essa experiência ) – o primeiro para reduzir o barulho do motor e o outro buscando atenuar a tensão inerente ao voo…
Com a introdução do Super\ Constellation na linha de Nova York, em 1955 a Varig criou a Escola de Comissários e Comissárias dando outro sentido a profissão Quando festejava seus 70 anos a companhia tinha cerca de 3.300 tripulantes de cabine. Cada tipo de avião dispunha em cada voo um número exato de comissários e comissárias que realizavam uma série de tarefas dentro da cabine de passageiros. Para exemplificar — o Boeing 737-200 e o Boeing 737-300 contavam com um Chefe de Equipe e três auxiliares, enquanto um Boeing -747-300 em sua versão full pax, contava com um Chefe de Equipe, três Supervisores de Cabine para cada classe e 14 auxiliares, distribuídos entre a Primeira Classe e as Classes Executiva e Econômica. A missão de qualquer tripulação da Varig sempre foi ,primeiramente, cuidar da segurança do passageiro, depois do seu conforto.
Cerca de 90 minutos antes da decolagem da aeronave a tripulação técnica e de cabine do avião, já estavam chegando ao aeroporto – o que por si só era uma tarefa de extrema complexidade. Com 1.310 comandantes e copilotos, 227 engenheiros de voo e 3.313 comissários, a Varig , quando confeccionava a escala de voo, precisava levar em conta as diferentes qualificações de sua equipe. A Varig dependia de 491 companhias prestadoras de serviço, das quais 65 eram fornecedoras nacionais e internacionais de refeições, 31 fornecedoras de serviço de limpeza espalhadas no Brasil e exterior e 53 empresas de lavanderia brasileiras e estrangeiras, exigindo um vasto trabalho de coordenação e planejamento. No mundo inteiro a Varig embarcava diariamente em seus aviões 37 mil refeições distintas entre si, pois eram divididas de acordo com a classe, Uma equipe de limpeza tomava conta do interior do avião, preparando e reabastecendo os lavatórios, limpando toda a cabine de passageiros e recolhendo qualquer lixo na aeronave.. Paralelamente, uma segunda equipe de manutenção ingressava a bordo com a incumbência de verificar o correto funcionamento de itens como assentos, instalações da galley, o funcionamento dos lavatórios e coisas comuns como os telefones internos da aeronave;- um Boeing 747-300 dispõem de uma central com com 15 ramais.. Na cabine de comando outra equipe testava praticamente todos os equipamentos, além de retificar qualquer problema que tenha se apresentado durante o voo anterior.
Treinados exaustivamente e periodicamente reciclados, qualquer tripulação de cabine estava preparada para enfrentar ampla gama de situações que podiam colocar em risco a segurança. Como seus pares do passado, os comissários e comissárias tinham sua vida regida pela onipresente escala de voo, um pequeno papel que informava mensalmente seus dias de voo, os dias de folga e quando estivessem cumprindo a escala de tripulante reserva.. Como ocorreu com muitos dos seus antecessores, um grande número de comissários e comissárias da Varig , levados pelo desafio de voar, mas em vista das peculiaridades da profissão e de muitas demandas e sacrifícios sobre a pessoa, o número de desistência nos primeiro anos de carreira era muito alto. No entanto, na opinião de muitos, uma vez ultrapassada a marca dos dois anos de serviço, dificilmente alguém abandonava a carreira. Exercer essa profissão exigia grande habilidade no trato de pessoas de distintas nacionalidades, diversos perfis sócio – econômicos e diferentes níveis culturais – especialmente na Varig com, sua rede de rotas domésticas, que cobriam praticamente todo o território nacional e linhas internacionais que se estendiam para todos os cantos do mundo. Verdadeiros expert em relações humanas, os comissários e comissárias da Varig carregavam consigo em cada voo, todo o calor e simpatia que caracterizam um povo…
* Obra – Action Editora – sobre supervisão da Varig