BERTA , JANGO E A AEROBRÁS
UM REVOLVER, 50 BALAS E UMA MORTE FELIZ
Com a Aerobrás a Varig tinha dia e hora marcada para morrer e Berta queria morrer com ela
Na posse de João Goulart na presidência do Brasil, apareceu um grupo com a intenção de criar determinado movimento buscando estatizar a aviação comercial no pais. Em 1955, o assunto veio à tona justamente no ano em que a Varig ingressava com o Constellation nas linhas internacionais. Berta de imediato, foi o primeiro a levantar a voz quanto a essa possibilidade, sentindo um golpe que seria arrasador para a aviação comercial. Outros países já tinham enveredado por esse caminho. No Brasil, havia exemplos de estatização, como a Eletrobrás e até mesmo a Petrobrás.
Era uma tendência perigosa para os planos de Berta, que veria a Varig transformar-se em apenas uma lembrança, caso o projeto ganhasse vida. Ele sempre viu na ameaçada da Aerobrás (Serviços Aéreos Brasil SA) como um perigo imediato – algo concreto para acontecer a qualquer momento. Berta, como sempre costuma ser, em suas previsões, estava certo. Em 1962, começou com o apoio do Sindicato dos Aeronautas. A Varig recebeu a notícia com repulsa e iniciou uma contra – ofensiva. Reuniu um grupo de funcionários, com o presidente da APVAR, para criar uma força que pudesse fazer frente a iniciativa. O presidente da Varig também começou uma luta para convencer o alto escalão do governo e buscou a simpatia dos políticos.
O movimento caminhava a passos largos para alcançar seus objetivos; As outras empresas por estarem endividadas não se manifestaram. Consultado por Ruben Berta, o comandante João Stepanski, presidente da APVAR (Associação dos pilotos da Varig) na época, afirmou: “ Durante a reunião falei que não podíamos aceitar aquela agressão ao nosso trabalho, que foi construir uma empresa organizada produzindo para o país. Disse mais, que ninguém iria estatizar uma empresa democrática. Não aceitaria tomar comum um bem conquistado com trabalho e dedicação.”
O governo cogitava realmente reorganizar a aviação civil. João Stepanski relatou que chegou mesmo a conversar com o presidente João Coulart. Nesta hora, em suas memórias (Stepanski, João.Tempos de Aviador e outras idades) faz questão de relatar os fraternos laços gaúchos- “Não convencido disso pedi ao Ministro a possibilidade de falarmos ao Presidente da República que eu conhecia e com quem havia tomado chimarrão nas minhas andanças por São Borja, na fazenda do Dr.Getúlio Vargas. No encontro, sem formalidades, falei de nossa preocupação. Mas, como não poderia dar solução sem estudos, estava considerando nossas ponderações. Disse que o Sindicato iria empossar um diretor (Melo Bastos) que era comandante da Varig e que defendia tenazmente a Aerobrás, na intenção de assumir a aviação civil. Bem, respondeu o presidente, como foi feita a eleição ? Com voto secreto? Sim, respondi. Então foi uma eleição democrática e o bom político deve aceitar e colaborar para o bem da nação. Voltamos cheio de dúvidas.
Segundo Stepanski o decreto de estatização da Varig estava projetado para o dia da comemoração do aniversário de Getúlio Vargas (19 de abril). Ele relata que uma semana antes do golpe, foi chamado por Berta e levado para um reservado. Lá chegando me olhou nos olhos e disse; “ Tenho um problema que deve ser resolvido hoje, agora. Um dos teus colegas está trabalhando a favor da Aerobrás, prejudicando o nosso trabalho. Qual é a tua opinião ? Bem, “seu” Berta, se ele está prejudicando a empresa de onde tiro o sustento da família, onde trabalho feliz, só me caberia demitir.” Mas pode dar em revolução – disse ele. A revolução é outro problema, respondi. Fez um breve silêncio, me olhou, foi para um canto do quarto, abriu um caixote e mostrou um revolver, acompanhado de uma caixote com 50 balas. E falou. Chega ! Se me deixarem gastar todas vou morrer feliz!
A revolução de 64 chegou, evitando a tragédia pessoal do presidente da Varig, varrendo, finalmente, do cenário a ideia da Aerobrás. Antes, premido pelas circunstancias, Berta buscou diversificar as atividades da Fundação, mesmo cercado pelo otimismo dos jatos, criando novas oportunidade de trabalho para seus funcionários, crente que estava certo de um desenlace negativo, nascendo a Agrobras, visando a sobrevivência do grupo. Era um conglomerado voltado para a pecuária de granjas e fazendas, com amplo cunho social. Berta morreu (1966) deixando mais um legado, que assim como a Varig, Erik de Carvalho deu continuidade, transformando a iniciativa de Berta num sucesso nacional.