OS DONOS DA VARIG SÃO OS PILOTOS
Premonição de Berta em fim confirmada?
40 anos depois da morte de Berta a Varig vivia desenho de crise, que culminaria com seu extermínio, tendo na liderança um grupo de comandantes, envolvido em governança desastrosa da Fundação, confirmando os desígnios de Berta. Ele sempre viu nos comandantes, seus funcionários mais graduados, a ambição secreta (não muito) de galgar a presidência da Varig, ameaçando sua liderança, numa atitude considerava uma traição, pois tinha a convicção de ser o grande responsável e único capaz de levar avante o sonho de consagrar a Varig para o mundo. Em toda a era Berta, o presidente da Varig manteve uma disputa velada com os comandantes da empresa na defesa do protagonismo – um entrevero familiar que muitas vezes ultrapassava a intimidade das refregas, abrindo as portas para as manchetes dos jornais – coisas que terminava (bem ou mal) sem interferir no desempenho da companhia. Com projeção internacional graças a presença do Super Constellation, em seguida do jato Boeing 707, a tripulação técnica postulou pela primeira vez um candidato para enfrentar Berta nas urnas, ganhando a vice-presidência, cobrando da direção novas formas de agir, com transparência e posição mais atuante no Colégio Deliberante da Fundação dos Funcionários. Esse clima de enfrentamento só terminou com a morte de Berta, em 1966.. Já nos estertores da empresa o jornal O Sul (Porto Alegre, 2ª feira, 5 de dezembro de 2005) exibia manchete em negrito que tomava toda a página: “Os donos da Varig são os pilotos” e comentava – “Nos últimos sete anos a Varig vem se mantendo cambaleante no mercado e alternou tentativas de revitalização com dez diferentes executivos, mas foi “arremetida” muitas vezes por sua controladora a FRB (Fundação Ruben Berta) Sempre que começa a avistar sinais para aterrissagem segura, longe da crise, a companhia é jogada de volta a turbulência pelos curadores da fundação, que resistem a uma premissa básica de todos os planos de recuperação: seu afastamento do controle da empresa.
“O problema central é o modelo da governança. Os donos da Varig são os pilotos” resume José Roberto Mendonça de Barros, que presidiu o conselho de administração da companhia por quatro meses em 2002. Na Varig, o conselho – órgão máximo de decisão em qualquer empresa – é subordinado aos curadores da FRB, sete funcionários eleitos pelo Colégio Deliberante, formado por sua vez por 142 funcionários, (no meu tempo eram mais de 300) na sua maioria absoluta de pilotos ( em fim conseguiram) De acordo com as mais recentes estatística do DAC (Departamento de Aviação Civil) referente a 2004, a Varig tem um quadro de 1.923 pilotos para a frota de 78 aeronaves, o que corresponde à média de 25 pilotos por avião, muito acima do padrão internacional que prevê entre seis a dez pilotos. Considerando que não houve do ano para cá redução expressiva de profissionais e em contrapartida, entre 15 a 20 aviões deixaram de operar por motivos técnicos, a média da companhia chega à marca inacreditável de acima de 30 pilotos por aparelho, mais que o dobro das concorrentes diretas TAM (12 pilotos por avião) e Gol (15 pilotos). Essa mão-de-obra qualificada da aviação responde pela maior parcela dos custos da companhia, sendo uma amostra do peso que impede a Varig de decolar.
Grande parte dos 156 pilotos da lista de demissões decididas no mês passado pela diretoria da Varig, e suspensa dois dias depois, era especializada nos jatos da Embraer ERJ 145, que não fazem mais parte da frota da Varig. “A maioria dos demitidos não voava” garante outro executivo. Segundo el,e porém, não foi esse o principal motivo da divergências entre o grupo de executivos liderado por David Zilbersztain e o conselho curador da FRB, presidido por Cesar Curi, que, antes de ocupar o cargo, era assessor da presidência da VEM (Varig Engenharia de Manutenção) – “A questão principal era a luta para manter o poder” afirma o executivo, que preferiu manter o anonimato. A mais recente intervenção da FRB afastando executivos que a própria instituição pôs no comando da companhia foi a três semanas, quando os curadores destituíram um grupo de quatro executivos que haviam contratado seis meses antes. Além de Zylbersztajn ( ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo) estavam Eleazar de Carvalho( ex-presidente do BNDES ( Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) Omar Carneiro da Cunha(ex-presidente da Shell)e Marcos Azambuja( ex-embaixador do Brasil na França).
A demissão dos quatro executivos, dias depois de terem conseguido equacionar o pagamento de uma dívida de leasing que ultrapassava 60 milhões de dólares e ameaçava de arresto mais da metade da frota da companhia, pegou o mercado e os credores de surpresa O episódio foi logo associado ao que ocorreu em 2002. quando Amim Lore presidia a Varig e tentava o mesmo tipo de solução – redução do quadro de pessoal, transformação de parte do endividamento em participação acionária dos credores e, principalmente, o afastamento da FRB. As duas histórias de Lore e Zylbersztajn guardam enorme semelhança. “Daí a minha completa desilusão com esse modelo de gestão” ressalta o presidente do fundo de pensão AERUS, um dos maiores credores da Varig, Odilon Junqueira – “A Fundação não pode demitir a tripulação em pleno voo, acrescenta. A maior parte das críticas aos curadores é que não são profissionais preparados para a gestão empresarial. Todos são funcionários de segundo, terceiro escalões sem experiência de mercado financeiro ou empresarial.