RESPINGOS DA LEGALIDADE (4/4)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (4/4)

Relatos de uma história real

O JATO DA LEGALIDADE VIROU CINZA EM BRASÍLIA  – e Brizola estava dentro.

Brizola não viajou para Brasília. A explicação oficial  era que precisava ficar na retaguarda, pronto para debelar qualquer crise que pudesse surgir até a hora da posse. A Jango, Brizola fora sincero,  não poderia homologar sistema de governo de um ato de violação à  Constituição, O jato da Varig tinha decolado para Brasília no chamado vôo da Legalidade, sem o cunhado, numa clara posição de desacordo com  decisão de Goulart, criando um ambiente de animosidade entre ambos que só veio  acalmar-se 20 dias depois da posse, quando o governador aceitou participar de uma caravana representativa do Rio Grande numa visita oficial ao presidente, no Palácio da Alvorada, em Brasília. Por fatalidade, na primeira viagem que fez ao cunhado ele participou de um fato dramático, quase tragédia .O mesmo  PP-VJD, exaltado como Caravelle da Legalidade, teve um pouso dramático no aeroporto da capital federal, ao tocar o solo, com 62 pessoas a bordo, sendo logo envolvido pelas chamas. Por um verdadeiro milagre todos os passageiros conseguiram salvarem-se, abandonando ilesos a moderna aeronave, que em pouco tempo foi totalmente consumida pelas chamas.

Ainda, durante a noite do acidente, apesar da tensão vivida, Brizola não decepcionou àqueles que o esperavam em Brasília. Esteve aproximadamente por uma hora no Palácio da Alvorada, conversando com João Goulart e depois, na Praça dos Três Poderes, do alto de um caminhão improvisado como palanque, fez um discurso emocionado. Segundo informações preliminares constantes no relatório da tripulação, ao qual tive acesso, o tempo estava ruim, tendo a aeronave derrapado na pista. O trem de pouso se desprendeu e aconteceu um rolamento de barriga. Com o impacto, em consequência do atrito, o querosene da asa se espalhou e pegou fogo, entrando pela parte traseira do avião, onde ficam as turbinas .Mais tarde, através de relatório oficial realizado pela Guarnição Aérea de Brasília negou a existência de problema técnico e atribuiu o acidente a falha do piloto por ter feito uma tomada de pista muito curta permitindo o toque no solo antes do início da área asfaltada. A quebra do trem de pouso e o fogo causado por vazamento de querosene viriam em consequência do erro humano. Tal ato veio corroborar a teoria de Berta que a maioria dos acidentes aéreos era causado pelo fator humano, coisa que a APVAR discordava.

A defesa da Legalidade trouxe uma série de preocupações para todos nós da Varig. Pelo fato da requisição do movimento legalista para colocar seus aviões à disposição da causa, nosso parque de manutenção (onde iniciei na Varig) passou a ser alvo de incursões  aéreas. Havia comentários, confirmados, sob um possível ataque ao Palácio Piratini, para calar Brizola e a Rede da Legalidade. Colocando sua frota à disposição da Legalidade, Berta deu demonstração de coragem e patriotismo, oferecendo sua própria cabeça em jogo  (e a de todos nós juntos) A diretoria da Varig, comandada por Berta, sempre achou que a Varig tinha  dívida de  gratidão para com o povo do Rio Grande do Sul.  Finalmente, missão cumprida, conseguimos voltar a rotina do nosso trabalho, que por sí só, já era bastante agitado.

Deste episódio guardo uma lembrança fantástica. Era a imagem impressa em cores de N. S.ª Aparecida. encontrada no meio dos destroços totalmente queimada pelos lados – apenas a imagem da santa conservava-se intacta, chamuscada, sem nenhum arranhão. Esta relíquia me foi trazida pelo colega e amigo Giuseppe Marinsek, inspetor de pista, passando mais tarde a fazer parte do acervo histórico do Museu da Varig

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