RESPINGOS DA LEGALIDADE (01/04)
Relatos de uma história real
Ligado a Engenharia, trabalhava no CSM (Controle de Serviço da Manutenção) cuja função era escalar os aviões para os voos de linha. Havia ligação direta com o Eng. Claudio Barreto Viana, responsável por comunicar à presidência da Varig, qualquer anormalidade que viesse configurar um atraso, algo que Berta abominava.
Nossa função principal era movimentar um grande painel que cobria praticamente toda a parede lateral de uma ampla sala, onde ficavam afixados os prefixos de toda a frota. O trabalho consistia em fazer a indicação de dezenas de voos diários, determinando horário com escalas e destino final, bem como retorno de cada um à base ou pernoite fora.
Foi justamente nessa função que acompanhei e participei, bem de perto, do movimento histórico da política brasileira dentro do episódio da Legalidade, liderado pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola. Ele usava a imprensa, especialmente os jornalistas, também, como escudo de proteção física e espaço para difundir as suas ideias. Considerava-se imune a possíveis atentados.
O pessoal da imprensa do Brasil e Exterior inundava nosso setor buscando informações. O governador gaúcho pleiteava junto a Berta, a escala de pelo menos dois aviões para cumprir a promessa de levar o pessoal ao encontro de Jango e trazê-lo de Montevideo.
Mais uma vez Brizola convocou Berta para auxilia-lo na empreitada e pediu uma solução imediata. O problema foi transferido para o nosso setor, onde eu me achava em prontidão. Era um jogo de xadrez que pedia xeque-mate num único lance.
Os aviões estavam escalados para os voos de linha – uns decolando outros chegando. Restavam dois, preparados como reserva técnica. Era preciso, também, avisar a Escala de Voo para providenciar na tripulação – tudo feito com a agilidade que a situação exigia.
Depois de alguns ajustes a manutenção aprontou dois C-46. Um deles era cargueiro, ainda com bancos de lona colocados numa fixação lateral. As emissoras noticiavam com alarde o deslocamento dos aviões levando junto a perspectiva de entrevista histórica.
Berta colocou os passageiros como dava, usando os bancos de lona – depois de ver todos acomodados (do jeito que dava) foi juntar-se a tripulação na cabine de comando, sempre dando ordens, como costumava fazer
O trabalho, naquele dia especial, foi incessante. Mas não havia tempo para descansar – coisa que nunca passou pela cabeça de nenhum de nós, totalmente envolvidos pela expectativa da batalha que se aproximava – com o perigo eminente do nosso Parque de Manutenção voar, literalmente, pelos ares.