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Mês: Abril 2023

RESPINGOS DA LEGALIDADE (4/4)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (4/4)

Relatos de uma história real

O JATO DA LEGALIDADE VIROU CINZA EM BRASÍLIA  – e Brizola estava dentro.

Brizola não viajou para Brasília. A explicação oficial  era que precisava ficar na retaguarda, pronto para debelar qualquer crise que pudesse surgir até a hora da posse. A Jango, Brizola fora sincero,  não poderia homologar sistema de governo de um ato de violação à  Constituição, O jato da Varig tinha decolado para Brasília no chamado vôo da Legalidade, sem o cunhado, numa clara posição de desacordo com  decisão de Goulart, criando um ambiente de animosidade entre ambos que só veio  acalmar-se 20 dias depois da posse, quando o governador aceitou participar de uma caravana representativa do Rio Grande numa visita oficial ao presidente, no Palácio da Alvorada, em Brasília. Por fatalidade, na primeira viagem que fez ao cunhado ele participou de um fato dramático, quase tragédia .O mesmo  PP-VJD, exaltado como Caravelle da Legalidade, teve um pouso dramático no aeroporto da capital federal, ao tocar o solo, com 62 pessoas a bordo, sendo logo envolvido pelas chamas. Por um verdadeiro milagre todos os passageiros conseguiram salvarem-se, abandonando ilesos a moderna aeronave, que em pouco tempo foi totalmente consumida pelas chamas.

Ainda, durante a noite do acidente, apesar da tensão vivida, Brizola não decepcionou àqueles que o esperavam em Brasília. Esteve aproximadamente por uma hora no Palácio da Alvorada, conversando com João Goulart e depois, na Praça dos Três Poderes, do alto de um caminhão improvisado como palanque, fez um discurso emocionado. Segundo informações preliminares constantes no relatório da tripulação, ao qual tive acesso, o tempo estava ruim, tendo a aeronave derrapado na pista. O trem de pouso se desprendeu e aconteceu um rolamento de barriga. Com o impacto, em consequência do atrito, o querosene da asa se espalhou e pegou fogo, entrando pela parte traseira do avião, onde ficam as turbinas .Mais tarde, através de relatório oficial realizado pela Guarnição Aérea de Brasília negou a existência de problema técnico e atribuiu o acidente a falha do piloto por ter feito uma tomada de pista muito curta permitindo o toque no solo antes do início da área asfaltada. A quebra do trem de pouso e o fogo causado por vazamento de querosene viriam em consequência do erro humano. Tal ato veio corroborar a teoria de Berta que a maioria dos acidentes aéreos era causado pelo fator humano, coisa que a APVAR discordava.

A defesa da Legalidade trouxe uma série de preocupações para todos nós da Varig. Pelo fato da requisição do movimento legalista para colocar seus aviões à disposição da causa, nosso parque de manutenção (onde iniciei na Varig) passou a ser alvo de incursões  aéreas. Havia comentários, confirmados, sob um possível ataque ao Palácio Piratini, para calar Brizola e a Rede da Legalidade. Colocando sua frota à disposição da Legalidade, Berta deu demonstração de coragem e patriotismo, oferecendo sua própria cabeça em jogo  (e a de todos nós juntos) A diretoria da Varig, comandada por Berta, sempre achou que a Varig tinha  dívida de  gratidão para com o povo do Rio Grande do Sul.  Finalmente, missão cumprida, conseguimos voltar a rotina do nosso trabalho, que por sí só, já era bastante agitado.

Deste episódio guardo uma lembrança fantástica. Era a imagem impressa em cores de N. S.ª Aparecida. encontrada no meio dos destroços totalmente queimada pelos lados – apenas a imagem da santa conservava-se intacta, chamuscada, sem nenhum arranhão. Esta relíquia me foi trazida pelo colega e amigo Giuseppe Marinsek, inspetor de pista, passando mais tarde a fazer parte do acervo histórico do Museu da Varig

RESPINGOS DA LEGALIDADE (3/4)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (3/4)

Relatos de uma história real 

 SOLUÇÃO FOI O PARLAMENTARISMO

 

Durante a madrugada sugiram informações  de que a FAB havia  detonado a Operação Mosquito. O objetivo era abater qualquer avião que entrasse sem autorização no espaço aéreo brasileiro. Era uma notícia preocupante. Vidas preciosas estariam correndo sérios riscos, acrescentando – se aí a possibilidade das instalações da Varig serem alvo de alguma agressão  Berta chegou de cara amarrada pedindo para analisar a disponibilidade de algum avião  realizar o voo da legalidade, como Brizola definia a volta de Jango ao poder, Os principais aviões estavam retidos fora de Porto Alegre, com voos interrompidos, e outros  retirados estrategicamente pela nossa equipe, com aval de Berta, pela ameaça de atentado contra o Parque de Manutenção da Varig.

Depois de consultar a manutenção e escala de voo (cmt. Lauro Rabello) com aval do Eng.Viana e ok de Berta, liberei o Caravelle PP-VJD, ( já  abastecido para voo internacional) estacionado no Rio de Janeiro, para executar a perna Rio- Montevidéu e de lá trazer o presidente até Porto Alegre, onde estabeleceria estratégias com sua base de apoio. Ao amanhecer de sexta-feira ele embarcou para o Rio Grande do Sul. Com as luzes apagadas e as cortinas cerradas, o Caravelle decolou do aeroporto de Carrasco com passageiros e tripulação sob tensão. O jato  pousou no aeroporto Salgado Filho as 20h35 min do dia 1º de setembro trazendo o  vice-presidente.

Toda estratégia havia sido montada por Leonel Brizola desde o dia anterior, evitando que fosse conhecida em detalhes a chegada ao Rio Grande (Operação Mosquito da FAB)   Passou  a informar aos jornalistas brasileiros e estrangeiros, através da Rede da Legalidade, de que Jango partiria de Montevidéu por terra, acompanhado por uma caravana  de carros. O assunto repercutiu  na Varig onde passamos a confirmar a versão do governador.

Tancredo Neves, foi figura central na decisão de Jango em aceitar o sistema do Parlamentarismo, evitando enfrentamento traumático entre brasileiros.

Já na chegada do jato brasileiro no  aeroporto, Salgado Filho, correu a informação de que por solicitação do presidente  –  interino, Ranieri  Mazzilli, haviam  desembarcado em Montevidéu, os ministros Tancredo Neves e Hugo Faria, com a missão de convencer Goulart a aderir ao sistema do parlamentarismo, o ideal para resolver a difícil celeuma, evitando derrarmamento de sangue entre os brasileiros,  –  decisão que vinha ao encontro  de Jango, o que acabou acontecendo. O futuro  presidente  da República estava consciente que iria governar com poderes limitados. Às 20h20min no dia 5, Jango chegou à Capital Federal. Um tapete vermelho foi estendido para receber o futuro presidente. Dezenas de deputados  e Senadores aguardavam a  comitiva presidencial. O rigoroso esquema de segurança estava sob o comando do general Ernesto Geisel, que havia assumido a chefia da  Casa Militar. Em 7 de setembro, às 15h30min, em sessão conjunta da Câmara e do Senado, João Goulart assumiu a Presidência da República. A meia – noite desfazia-se a Rede da Legalidade

RESPINGOS DA LEGALIDADE (2/4)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (2/4)

Relatos de uma história real.

 

O VOO SECRETO COM KRUEL E BERTA

 

Vultos emergiram das sombras – “fingi assombração”.

Os aviões da VARIG procedentes do exterior passaram a ser revistados, inspecionados pelos militares. à procura  da possível vinda clandestina de João Goulart. Ciente da situação, Berta apressou-se em comunicar o fato  ao governador gaúcho. Atendendo a solicitação de Brizola ( como sempre) Berta se deslocou para o Rio de Janeiro num DC-3, trazendo a bordo o General Amaury Kruel, que era padrinho de João Viicente, filho de Jango

Amaury Kruel , militar histórico, tinha estudado no Colégio Militar, em Porto Alegre. Em 1930  tomou parte, no Rio de Janeiro, da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder. Garantiu o golpe de 64, através de São Paulo. Fora ministro da guerra do ex-presidente João Goulart.. Com a chegada dele, mesmo sendo já na reserva das forças armadas (exonerado  como marechal)  Brizola esperava ter ao seu lado um oficial capaz de assumir o comando da operação, Também pediu a presença do  banqueiro  e ex-embaixador Walter Moreira Salles.

A pedido de Brizola, numa operação secreta voando de DC-3 camuflado, Berta foi buscar no Rio de Janeiro o general Amaury Kruel para assumir o comando militar da Legalidade.

 Pelas circunstâncias o voo foi secreto, tendo o  presidente da Varig comandado toda operação junto com a tripulação e os passageiros. Eu, apenas inventei um susto quando de madrugada, emergindo das sombras, deparei-me com aqueles vultos  –  fingi assombração.. Eles desembarcaram na cabeceira da pista do Salgado Filho na noite de 2 de setembro e rumaram para o setor da manutenção onde eu trabalhava. O general estava à paisana e, provavelmente, trazia sua farda .em uma mala que carregava. Depois, seguiram para o Palácio do Governo. Berta começava seu envolvimento com o  movimento legalista, onde teve uma destacada atuação. Ele colocou todo o parque  de manutenção à disposição da causa, num gesto de agradecimento ao apoio dado por Jango e Brizola na conquista das linhas internacionais da empresa, tanto para Buenos Aires  como para  Nova York.

RESPINGOS DA LEGALIDADE (01/04)

RESPINGOS DA LEGALIDADE (01/04)

Relatos de uma história real

 

Ligado a Engenharia, trabalhava no CSM (Controle de Serviço da Manutenção) cuja função era escalar os aviões para os voos de linha. Havia ligação direta com o Eng. Claudio Barreto Viana, responsável por comunicar à presidência da Varig, qualquer anormalidade que viesse configurar um atraso, algo que Berta abominava.

Nossa função principal era movimentar um grande painel que cobria praticamente toda a parede lateral de uma ampla sala, onde ficavam afixados os prefixos de toda a frota. O trabalho consistia em fazer a indicação de dezenas de voos diários, determinando horário com escalas e destino final, bem como retorno de cada um à base ou pernoite fora.

Foi justamente nessa função que acompanhei e participei, bem de perto, do movimento histórico da política brasileira dentro do episódio da Legalidade, liderado pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola. Ele usava a imprensa, especialmente os jornalistas, também, como escudo de proteção física e espaço para difundir as suas ideias. Considerava-se imune a possíveis atentados.

O pessoal da imprensa do Brasil e Exterior inundava nosso setor buscando informações. O governador gaúcho pleiteava junto a Berta, a escala de pelo menos dois aviões para cumprir a promessa de levar o pessoal ao encontro de Jango e trazê-lo de Montevideo.

Mais uma vez Brizola convocou Berta para auxilia-lo na empreitada e pediu uma solução imediata. O problema foi transferido para o nosso setor, onde eu me achava em prontidão. Era um jogo de xadrez que pedia xeque-mate num único lance.

Os aviões estavam escalados para os voos de linha –  uns decolando outros chegando. Restavam dois, preparados como reserva técnica. Era preciso, também, avisar a Escala de Voo para providenciar na tripulação –  tudo feito com a agilidade que a situação exigia.

Depois de alguns ajustes a manutenção aprontou dois C-46. Um deles era cargueiro, ainda com bancos de lona colocados numa fixação lateral. As emissoras noticiavam com alarde o deslocamento dos aviões levando junto a perspectiva de entrevista histórica.

Um C-46 improvisado, ainda sem poltronas, foi a solução encontrada para levar os jornalistas na entrevista com Jango, em Montevideo – Berta (de pé) foi junto para conferir.

Berta colocou os passageiros como dava, usando os bancos de lona –  depois de ver todos acomodados (do jeito que dava) foi juntar-se a tripulação na cabine de comando, sempre dando ordens, como costumava fazer

O trabalho, naquele dia especial, foi incessante. Mas não havia tempo para descansar – coisa que nunca passou pela cabeça de nenhum de nós, totalmente envolvidos pela expectativa da batalha que se aproximava – com o perigo eminente do nosso Parque de Manutenção voar, literalmente, pelos ares.

 

PÁSCOA 2023

PÁSCOA 2023

” No hangar da manutenção  a Páscoa era comemorada no domingo,  com missa campal rezada por padre católico e culto por pastor protestante, onde a amizade fraterna fazia de todos uma só alma em um só corpo, com a benção de Deus.

GRÊMIO E CAXIAS NO ACIDENTE DA TAM

GRÊMIO E CAXIAS NO ACIDENTE DA TAM

O MILAGRE DE ESTAREM VIVOS

 

Quando Grêmio e Caxias assumem  o protagonismo do futebol gaúcho vale lembrar um episódio histórico envolvendo as duas equipes que emocionou o Brasil e o Mundo.

 

Os jogadores não acreditavam no milagre de estarem vivos, lamentando a sorte daqueles que ocuparam seus lugares. A troca da rota  para Brasília salvou o Grêmio  de um final macabro.

Grêmio  e Caxias reviveram do susto que levaram escapando por contingência do destino de uma morte cruel, consumada pelo fogo do maior desastre  que ceifou vidas queridas da sociedade rio-grandense, entre outros, deixando uma lacuna difícil de ser suprida.. A noticia que as delegações do Grêmio e do Caxias eram passageiros do voo da TAM destruído no aeroporto de Congonhas causou consternação total ,especialmente no Rio Grande do Sul, (172 gaúchos a bordo), deixando apreensivos uma legião de torcedores  e a população em geral, naquele que foi um dos maiores acidentes de aviação comercial no pais.. O jato da TAM,  no voo  3054, em 2007, levando  a equipe do Grêmio de Porto Alegre até São Paulo,  (era a versão) saíra da pista  e explodira  no aeroporto de Guarulhos matando todos os seus ocupantes (187)  A noticia corria de  boca em boca e a televisão confirmava, mostrando cenas como se inferno de Dante estivesse presente.

Com voo lotado, o treinador Mano Meneses ( agora no Inter) não aceitou dividir o grupo, salvando o Grêmio de uma tragédia.

O fogo devorava tudo e a todos. Era uma catástrofe inimaginável e o pessoal da TAM, tomado pelo pânico, não conseguia liberar a lista  dos passageiros, O mau tempo dominava o ambiente com chuva torrencial inundando a pista, causando atraso nos voos e cancelamentos, notícias que já começavam a inibir o grupo, causando stress emocional desnecessário e prejudicial ao comportamento psicológico da equipe, fato  que gerou uma série de especulações O treinador Mano Meneses era o mais inconformado com a situação, que se apresentava em São Paulo. Na véspera surgiu a notícia inesperada (salvadora) avisando da impossibilidade de acomodar todo o grupo  oferecendo o remanejamento para a capital federal no voo JJ 3764,às 16 horas com conexão imediata para a capital Goiás. Era o destino desejado pelo Grêmio onde enfrentaria na quinta-feira a partida Goiás(0) x Grêmio (0) no estádio Serra Dourada, pelo campeonato nacional.

O time do Grêmio Vice-campeão da Libertadores em 2007 – equipe vencedora, escapou por detalhes de um doloroso fim

Em Congonhas era comentário geral que a delegação do Grêmio  havia embarcado no voo em Porto Alegre, posição complicada pela negativa da TAM em fornecer qualquer listagem oficial dos passageiros, (o que viria ocorrer somente na madrugada do dia seguinte).. Entre as vitimas encontravam -se dezenas de figuras notáveis da sociedade gaúcha –   deputado federal Júlio  Redecker, o ex-presidente do Internacional, Paulo Roberto Amorety Souza, João Roberto Brito, diretor geral do SBT,  em Porto Alegre, e o  gerente regional da TAM, no Estado,  Marco Antônio da Silva, meu fraternal amigo desde os tempos da VARIG, quando mesmo sendo concorrentes mantínhamos relações cordiais, em defesa do sistema que éramos responsáveis. Ele acabara de ser nomeado superintendente  da TAM, transferido para São Paulo, depois de 11 anos servindo os gaúchos. Eu fui ao seu encontro para desejar felicidade num forte abraço que o destino reservava para ser o derradeiro.

Diego Souza, hoje ainda fazendo parte do plantel tricolor, já era destaque em 2007

Outro amigo meu e companheiro jubilado da Varig, comandante João Stepanski,  veterano com milhares de horas voadas, passava momentos de grande angustia, com a possível perda de seu neto, tripulante da TAM, cujo corpo não era identificado, bem como não constava na lista da empresa – Somente alguns dias depois foi revelado sua identidade – em vídeo do aeroporto onde Marcos Stepanski Jr. aparecia na escada de embarque do avião. Ele havia viajado na condição “não operante” na cabine da tripulação. Em São Paulo tinha hora marcada para realizar o sonho de sua carreira –  exames na  aprovação  para comandar o gigante  Airbus, o  mesmo que lhe tirou a vida..

 

EMOÇÃO TOMOU CONTA  DO TIME DO CAXIAS

Incrédulos eles confessavam – “Nós poderíamos ser vitimas” –  muitos choravam

O Jornal de Brasília deu em manchete, matéria do  seu correspondente no Sul –  – CATÁSTROFE PODERIA TER ALCANÇADO GRÊMIO E CAXIAS . Além da delegação do Grêmio, o elenco do S.E.R Caxias esteve perto de embarcar no voo 3054 da TAM  para São Paulo, de lá para Maringa, no Paraná, onde  enfrentaria o ADAP/Galo na quarta-feira, pela Série C  do campeonato brasileiro, mas embarcou no dia seguinte ao acidente. O voo dos jogadores do Caxias mudou a rota e desembarcaram em Curitiba, onde os passageiros souberam da tragédia. Conforme Gustavo Reck -( assessor de imprensa) o elenco ficou muito emocionado  -” Nós poderíamos ter sido vítimas” – e muitos choraram. Até terça-feira a noite o Caxias ainda não havia decidido se seguiria de Maringa de ônibus ou de avião –  optando Mela primeira hipótese

A equipe estava na lanterna do grupo 16, já que perdera os dois jogos que disputou na Terceirona contra Joenville e Esportivo de Bento Gonçalves.  Hoje, o Caxias disputa o Gauchão podendo sagrar-se campeã do Estado se abater o Grêmio  na final. Perdeu a chance de ingressar na série C do Brasileirão numa derrota incrível para o América-RN, ao tomar 2 golos nos minutos finais perdendo por 2 X.1