VARIG, FUSCA E O PARA-LAMAS

VARIG, FUSCA E O PARA-LAMAS

AS PORTAS ERAM PEQUENAS OU O FUSCA CRESCEU?

Os Fuscas que viajavam nos cargueiros da Varig eram tratados como passageiros VIP. O encarregado de colocá-los a bordo precisava ter uma dezena de atributos – ser astuto, inteligente e versátil, requisitos básicos para convívio saudável, apesar dos contratempos criados pela agilidade que faltava. No Brasil o Fusca se deu bem com a Varig. Os Cargueiros ficaram mais barrigudos, crescendo a pança com a entrada do lendário Curtiss C-46 (boca de trombone) facilitando o acesso de entrada de qualquer peça mais espessa, com raras exceções. Transportando 48 passageiros de dia, e durante a noite, num passe de mágica, transformando-se num operoso cargueiro, sem perder a compostura, gerava lucros bem-vindos. Os Fuscas que a Varig transportava, eram brilhantes, bonitos e carrancudos. Fortes como touros, foram criados num regime de austeridade. Seus para-lamas eram a defesa de ambiente originário de uma terra virgem pronta para ser explorada, como a nossa.

Com o inicio da produção da fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, (1959), o Fusca começou a ganhar escala para dominar o mercado, fazendo da Varig a transportadora oficial.

 

Na Varig, em 1959, com a chegada do Fusca muita gente inteligente e alegre gostava de atropelar, sem causar arranhão, onde o bom senso passava sem cinto de segurança, oferecendo histórias que ficavam arraigadas, fixas pela raiz, no folclore – envolvendo gente nossa, como o colaborador LUIZ FERNANDO SMIDT vai contar, num depoimento temperado com a verve característica da sua marca registrada.

O FUSCA NAS ASAS DA VARIG SÓ ANDAVA DE AVIÃO – PRÁ QUE PARA – LAMAS ?

A matéria excelente sobre competição de carga, recém publicada neste Blog, continha uma foto dos Fuscas embarcando num Curtis C-46 da Varig, que de dia levava 48 passageiros e à noite transformava – se num lucrativo cargueiro, me fez lembrar de uma história hilariante:

“Na primeira viagem dos Fuscas de São Paulo para Porto Alegre, eram seis, se não me engano, que estavam no Curtiss. O assistente do seu “MUller, de Cargas”
como era conhecido, mandou avisar que não estava conseguindo desembarcar os carros de jeito nenhum, por mais que forçasse. Usando o rádio de comunicação com o assistente, cuja sala ficava a uns 3 metros da dele, que estava quebrado cerca de 5 anos, mas pelo timbre e altura da voz do seu Muller não fazia diferença, pois o Sinfrônio escutava alto e claro, como se o chefe estivesse ao seu lado – disse naquele sua conhecida gentiliza – “DEIXA COMIGO QUE EU VOU LÁ E TIRO ! E rumou para a pista.

Depois de uns 15 minutos de muito suor e pescoço tauriano escorrendo feito balde d’agua, voltou para a sala dele e baseado na sua enorme experiência vislumbrou a única solução possível – Falar com São Paulo – “Tá bom Arnaldo, qual é a sacanagem! O seu Arnaldo, bem ao seu feitio, se dera ao trabalho de tirar todos os para-lamas dos Fuscas, carregar a bordo e depois recolocar, um por um, sem abrir o jogo, só para fazer o Muller, metido a sabichão, quebrar um pouco a cuca, pedir socorro e depois espalhar a façanha prá todo o pessoal da manutenção, contando vantagem, sendo aclamado como herói pela vitória. Esse era o espírito de companheirismo que instigava o pessoal a enfrentar os desafios do dia-a-dia, ajudando a fazer da Varig uma grande família unida na alegria e na tristeza.

* Colaboração selecionada, que merece registro no glossário das historietas envolvendo o cotidiano da Grande Família Varig. A escolha, acontece dia 7 de maio, por ocasião do encontro festivo dos 96 anos da Pioneira.

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