BRANIFF era uma velha conhecida do Brasil desde março de 1949 usando os DC-6 e DC-7 com duas frequência semanais. Logo em seguida, nos anos 50, já estava em todo o país. Em 1960, junto com a Varig , inaugurou a era do jato com o Boeing – 707, tornando-se gigante dez anos depois. No cenário político a BRANIFF conseguiu um golpe de mestre. O presidente Truman escolheu a companhia para as novas rotas Oeste da América Latina, dando a empresa texana a autorização para ligar Houston à `Buenos Aires com escala entre outras no Rio de Janeiro e São Paulo. Em 57 já tinha lançado com o DC-6 a versão El Conquistador.com a rota panorâmica sobre os Andes garantindo – “Hoje no Brasil, amanhã cedinho nos EE. UU. – Uma só passagem – um só avião até ´Nova York ,( escancarando o enfrentamento com a Varig) No ano seguinte (58) lançava El Dorado, a fabulosa versão BRANIFF do DC-7C para Nova York e Washington, com leitos de verdade nos voos e serviço de luxo De lambuja, lembrava – “e…somente pela BRANIFF – Lima -Panamá – Miami com conexões em Miami para qualquer parte dos Estados Unidos Na era do jato, assim como a Varig no Brasil, tornou-se uma das mais bem sucedidas empresas aéreas americanas. encomendando mais de 40 jatos de uma só vez ( Boeing-707 e DC-8).
Em 1955,na disputa de Nova York, a Varig tinha ideia fixa no confronto direto com a PAN AM, como se fosse obstáculo único a ser vencido, que com todo seu poderio se espalhava pelo mundo. Enquanto que para a empresa gaúcha a disputa representava sua sobrevivência, para a congênere americana era migalha. Qualquer reação contrária poderia ser esmagada com o estalar dos dedos. O tiro saiu pela culatra e os gaúchos com seu CTG munido de serrote que assobiava, dando a cadência do espetáculo, saíram incólumes, vencedores improváveis na histórica guerra David x Golias. Por traz deste pano de amostra a Varig esqueceu que não estava tão sozinha nesta empreitada . Muito pelo contrário, tinham outras concorrentes que por linhas transversas ameaçavam qualquer hegemonia em Importantes fatias de mercado, começando por Nova York, a cereja do bolo que Berta estimava comer desacompanhado. Caras novas ( não tão novas) surgiam no cenário mostrando as “garras” disfarçadamente. Uma delas, tinha nome e sobrenome insinuando-se como postulante de um espaço onde muitas outras tentavam botar o bico. Na verdade VARIG e BRANIFF pareciam irmãs gêmeas. E isso começou a assustar. por uma série incrível de coincidências que se multiplicavam como papel carbono. Meyer e Berta criaram a Varig em 1927.. Em seguida, um ano depois (1928) os irmãos Thomas e Paul Braniff lançaram-se na aventura do espaço aéreo, assumindo posição relevante na história da aviação comercial.
As estratégias de desenvolvimento de ambas as companhias seguiram num ritmo alucinante em busca do protagonismo, com coragem digna dos inovadores. A BRANIFF foi a estrangeira que mais investiu no Brasil, inclusive no marketing, apostando num filão que logo mostrou-se promissor, numa serie infindável de coincidências, escrevendo relatório de ações que escancarava um duelo em terra, nunca visto nos ares. Nascendo, praticamente juntas, na mesma época, as características ganhavam semelhança e o que uma fazia era logo rebatida pela outra, tentando melhorar a ideia criativa. Tudo ainda marcado pelas vias do destino implacável.
Nos anos 50 a BRANIFF perdeu seus dois poderoso fundadores. Paul e Thomas Braniff. Um em acidente de helicóptero, outro vitima de séria doença. Na VARIG o mesmo fato ganhou ares dantescos. Logo em seguida a empresa viveu momentos dramáticos nos anos 60, com a morte também dos seus fundadores – Otto Meyer e Ruben Berta, este aos 59 anos de idade, fulminado por um enfarte em plena mesa de trabalho no seu escritório no Rio de Janeiro. – deixando lacuna difícil de ser suprida.. Seus sucessores no entanto, nos dois lados souberam transformar a década seguinte num campo promissor de grandes triunfos . As escolhas, de ambas as partes, se revezavam de forma plural – Um exemplo espetacular representou o lançamento da era do jato no Brasil e na América, simultaneamente se apresentaram no mesmo ano, mesmo dia, com a fábrica do mesmo avião, um moderno Boeing -707. Provavelmente, depois de apurados estudos, ( ou nem tanto) ambas chegaram a igual conclusão (Berta garante que foi da Varig) Na verdade, uma usava a outra como plataforma de lançamento, desde que tudo desse certo, abdicando da áurea de chegar primeiro, em detrimento de colher menos riscos..
Na área de marketing a BRANIFF mostrava-se eloquente, as vezes até sobrepondo a VARIG. Quando secavam os dólares o espaço era preenchido por cartazes exibidos nas vitrines das lojas de passagens ou nos grandes magazines e imprensa especializada, como verdadeiras joias da criatividade, que encantavam os clientes pela finesa dos detalhes, num duelo exibido e comentado na mídia impressa e eletrônica no mundo da aviação… Nos ano 80, novo debate de encantamento tomou conta dos ares – Depois de 10 anos manchete na revista ICARO anunciava – “Mais charme e elegância no ar, via Varig, obrigando a BRANIFF a rebater lançando padrões revolucionários que se sobrepunham à coincidência e se transformavam em disputa de beleza pura. – Ambas tiveram um zelo incrível com suas raízes ao manterem Museu Histórico, sendo o da Varig visitado por multidões (30 mil pessoas num fim de semana) nas comemorações da “Semana da Asa” evento patrocinado pelo Ministério da Aeronáutica.
A década de ouro dos anos 70 vinha chegando ao fim e com ela os problemas na aviação comercial norte – americana se multiplicavam. A BRANIFF tinha crescido mais do que podia. Uma dívida de 350 milhões de dólares pesava no Balanço da empresa.. A recessão de 1979/1980 começava a fazer estragos.. Os grandes jatos encomendados em quantidade ( o centésimo Boeing – 747 chegou naquela época) voavam vazios O segundo ” oil shock” e uma frota antiga tardiamente sendo renovada além de excessiva capacidade dentro e fora da empresa faziam os “Yields”.(rendimento de lucro) caírem abruptamente, levando a empresa a uma situação insustentável. Fatores combinados com acirrada concorrência levaram a BRANIFF à sua falência em 15/05/82, após 54 anos de prósperas operações.( fato pela primeira vez ocorrido na aviação americana)
VARIG E BRANIFF – Na vida e na morte – nasceram juntas, alcançaram o apogeu na mesma época e morreram vítimas de uma mesma doença – chamada falência – por motivos semelhantes, sem direito a intervenção cirúrgica.