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Mês: Março 2023

VARIG, FUSCA E O PARA-LAMAS

VARIG, FUSCA E O PARA-LAMAS

AS PORTAS ERAM PEQUENAS OU O FUSCA CRESCEU?

Os Fuscas que viajavam nos cargueiros da Varig eram tratados como passageiros VIP. O encarregado de colocá-los a bordo precisava ter uma dezena de atributos – ser astuto, inteligente e versátil, requisitos básicos para convívio saudável, apesar dos contratempos criados pela agilidade que faltava. No Brasil o Fusca se deu bem com a Varig. Os Cargueiros ficaram mais barrigudos, crescendo a pança com a entrada do lendário Curtiss C-46 (boca de trombone) facilitando o acesso de entrada de qualquer peça mais espessa, com raras exceções. Transportando 48 passageiros de dia, e durante a noite, num passe de mágica, transformando-se num operoso cargueiro, sem perder a compostura, gerava lucros bem-vindos. Os Fuscas que a Varig transportava, eram brilhantes, bonitos e carrancudos. Fortes como touros, foram criados num regime de austeridade. Seus para-lamas eram a defesa de ambiente originário de uma terra virgem pronta para ser explorada, como a nossa.

Com o inicio da produção da fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, (1959), o Fusca começou a ganhar escala para dominar o mercado, fazendo da Varig a transportadora oficial.

 

Na Varig, em 1959, com a chegada do Fusca muita gente inteligente e alegre gostava de atropelar, sem causar arranhão, onde o bom senso passava sem cinto de segurança, oferecendo histórias que ficavam arraigadas, fixas pela raiz, no folclore – envolvendo gente nossa, como o colaborador LUIZ FERNANDO SMIDT vai contar, num depoimento temperado com a verve característica da sua marca registrada.

O FUSCA NAS ASAS DA VARIG SÓ ANDAVA DE AVIÃO – PRÁ QUE PARA – LAMAS ?

A matéria excelente sobre competição de carga, recém publicada neste Blog, continha uma foto dos Fuscas embarcando num Curtis C-46 da Varig, que de dia levava 48 passageiros e à noite transformava – se num lucrativo cargueiro, me fez lembrar de uma história hilariante:

“Na primeira viagem dos Fuscas de São Paulo para Porto Alegre, eram seis, se não me engano, que estavam no Curtiss. O assistente do seu “MUller, de Cargas”
como era conhecido, mandou avisar que não estava conseguindo desembarcar os carros de jeito nenhum, por mais que forçasse. Usando o rádio de comunicação com o assistente, cuja sala ficava a uns 3 metros da dele, que estava quebrado cerca de 5 anos, mas pelo timbre e altura da voz do seu Muller não fazia diferença, pois o Sinfrônio escutava alto e claro, como se o chefe estivesse ao seu lado – disse naquele sua conhecida gentiliza – “DEIXA COMIGO QUE EU VOU LÁ E TIRO ! E rumou para a pista.

Depois de uns 15 minutos de muito suor e pescoço tauriano escorrendo feito balde d’agua, voltou para a sala dele e baseado na sua enorme experiência vislumbrou a única solução possível – Falar com São Paulo – “Tá bom Arnaldo, qual é a sacanagem! O seu Arnaldo, bem ao seu feitio, se dera ao trabalho de tirar todos os para-lamas dos Fuscas, carregar a bordo e depois recolocar, um por um, sem abrir o jogo, só para fazer o Muller, metido a sabichão, quebrar um pouco a cuca, pedir socorro e depois espalhar a façanha prá todo o pessoal da manutenção, contando vantagem, sendo aclamado como herói pela vitória. Esse era o espírito de companheirismo que instigava o pessoal a enfrentar os desafios do dia-a-dia, ajudando a fazer da Varig uma grande família unida na alegria e na tristeza.

* Colaboração selecionada, que merece registro no glossário das historietas envolvendo o cotidiano da Grande Família Varig. A escolha, acontece dia 7 de maio, por ocasião do encontro festivo dos 96 anos da Pioneira.

VARIG E BRANIFF

VARIG E BRANIFF

NOVA YORK – A CEREJA DO BOLO
BRANIFF  era uma velha conhecida do Brasil desde março de 1949 usando os DC-6 e DC-7 com duas frequência semanais. Logo em seguida, nos anos 50, já estava em todo o país. Em 1960, junto com a Varig , inaugurou a era do jato com o Boeing – 707, tornando-se gigante dez anos depois. No cenário político a BRANIFF conseguiu um golpe de mestre. O presidente Truman escolheu a companhia para as novas rotas Oeste da América Latina, dando a empresa texana  a autorização para ligar Houston à `Buenos Aires  com escala entre outras no Rio de Janeiro e São Paulo. Em 57 já  tinha lançado com o DC-6 a  versão  El Conquistador.com a rota panorâmica sobre os Andes garantindo – “Hoje no Brasil, amanhã cedinho nos EE. UU. – Uma só passagem  – um só avião até ´Nova York ,( escancarando o enfrentamento com a Varig)  No ano seguinte (58) lançava El Dorado, a fabulosa versão BRANIFF  do DC-7C para Nova York e Washington, com leitos de verdade nos voos  e serviço de luxo De lambuja, lembrava – “e…somente pela BRANIFF  – Lima -Panamá –  Miami com conexões em Miami  para qualquer parte dos Estados Unidos Na era do jato, assim como a Varig no Brasil, tornou-se uma das mais bem sucedidas empresas aéreas americanas. encomendando mais de 40 jatos de uma só vez ( Boeing-707 e DC-8).
Em 1955,na disputa de Nova York, a Varig tinha ideia fixa no confronto direto com a PAN AM, como se fosse obstáculo único a ser vencido, que com todo seu poderio se espalhava pelo mundo. Enquanto que para a empresa gaúcha a disputa representava sua sobrevivência, para a congênere americana era migalha. Qualquer reação contrária poderia ser esmagada com o estalar dos dedos. O tiro saiu pela culatra e os gaúchos com seu CTG munido de serrote que assobiava, dando a cadência do espetáculo, saíram incólumes, vencedores improváveis na  histórica guerra David x Golias. Por traz deste pano de amostra a Varig esqueceu que não estava tão sozinha nesta empreitada . Muito pelo contrário, tinham outras concorrentes que por linhas transversas ameaçavam qualquer hegemonia em  Importantes fatias de  mercado, começando por Nova York,  a cereja do bolo que Berta estimava comer  desacompanhado. Caras novas ( não tão novas)  surgiam no cenário mostrando as “garras” disfarçadamente. Uma delas, tinha nome e sobrenome insinuando-se como postulante de um espaço onde muitas outras tentavam botar o  bico. Na verdade  VARIG e BRANIFF pareciam irmãs gêmeas. E isso começou a assustar. por uma série incrível de coincidências que se multiplicavam como papel carbono. Meyer e Berta criaram a Varig em 1927.. Em seguida, um ano depois (1928) os irmãos Thomas e Paul Braniff  lançaram-se na aventura do espaço aéreo,  assumindo posição relevante na história da aviação comercial.
As estratégias de desenvolvimento de ambas as companhias seguiram num ritmo alucinante em busca do protagonismo, com coragem digna dos inovadores. A BRANIFF  foi a estrangeira que mais investiu no Brasil, inclusive no marketing, apostando num filão que logo mostrou-se promissor, numa serie infindável de coincidências, escrevendo  relatório de  ações que escancarava um duelo em terra, nunca  visto nos ares. Nascendo, praticamente juntas, na mesma época, as características  ganhavam semelhança  e o que uma fazia era logo rebatida pela outra, tentando melhorar a ideia  criativa. Tudo ainda marcado pelas  vias do destino implacável.
Nos anos 50 a BRANIFF perdeu seus dois poderoso fundadores. Paul  e Thomas Braniff. Um em acidente de helicóptero, outro vitima de séria doença. Na VARIG  o mesmo fato ganhou ares dantescos. Logo em seguida a empresa viveu momentos dramáticos nos anos 60,  com a morte também  dos seus fundadores –  Otto Meyer e Ruben  Berta, este aos 59 anos de idade, fulminado por um enfarte em plena mesa de trabalho no seu escritório no Rio de Janeiro. – deixando lacuna difícil de ser suprida.. Seus sucessores no entanto, nos dois lados souberam  transformar a década seguinte num campo promissor de grandes triunfos . As escolhas, de ambas as partes, se revezavam de forma plural  – Um exemplo espetacular representou o lançamento da era do jato no Brasil e na América, simultaneamente se apresentaram  no  mesmo ano,  mesmo dia, com a fábrica  do mesmo avião, um moderno   Boeing -707. Provavelmente, depois de apurados estudos, ( ou nem tanto) ambas chegaram a igual conclusão (Berta garante que foi da Varig) Na verdade, uma usava a outra como plataforma de lançamento, desde que tudo desse certo, abdicando da áurea de chegar primeiro, em detrimento de colher menos riscos..
Paul e Thomas Braniff
Na área de marketing a BRANIFF mostrava-se  eloquente, as vezes até sobrepondo  a VARIG. Quando  secavam  os dólares o espaço era preenchido por cartazes exibidos nas vitrines das lojas de passagens ou nos grandes magazines e imprensa especializada, como verdadeiras joias da criatividade, que encantavam os clientes pela finesa dos detalhes, num duelo exibido e comentado na mídia impressa e eletrônica no mundo da aviação… Nos ano 80, novo debate de encantamento tomou conta dos ares – Depois de 10 anos manchete na revista ICARO anunciava –  “Mais charme e elegância no ar, via Varig, obrigando a BRANIFF a rebater lançando padrões revolucionários que se sobrepunham à coincidência e se transformavam em disputa de beleza pura. – Ambas tiveram um zelo incrível  com suas raízes ao manterem Museu Histórico, sendo o da Varig visitado por multidões (30 mil pessoas num fim de semana) nas comemorações da  “Semana da Asa” evento patrocinado pelo Ministério da Aeronáutica.

 A década de ouro dos anos 70 vinha chegando ao fim e com ela os problemas na aviação  comercial  norte – americana  se multiplicavam.  A BRANIFF tinha crescido mais do que podia. Uma dívida de 350 milhões de dólares pesava no Balanço da empresa.. A recessão de 1979/1980 começava a fazer estragos.. Os grandes jatos  encomendados em quantidade ( o centésimo Boeing  –  747 chegou naquela época) voavam vazios O segundo ” oil shock” e uma frota antiga tardiamente sendo renovada além de excessiva capacidade dentro e fora da empresa faziam os  “Yields”.(rendimento de lucro) caírem  abruptamente, levando a empresa a uma situação insustentável. Fatores combinados com acirrada concorrência levaram a BRANIFF à sua falência em 15/05/82, após 54 anos de prósperas operações.( fato pela primeira vez ocorrido na aviação americana)

VARIG E BRANIFF – Na vida e na morte – nasceram juntas, alcançaram o apogeu na mesma época e morreram vítimas de uma mesma doença –  chamada falência – por motivos semelhantes, sem direito a  intervenção cirúrgica.

PRECISÃO E DISCIPLINA

PRECISÃO E DISCIPLINA

BERTA VIA  AS PERNAS DAS CORISTAS E PENSAVA NOS TRIPULANTES DA VARIG

(Foto nos achados de Meyer)

O espetáculo ficava na Broadway (via larga) em Nova York famosa pelos seus teatros que exibem super produções de música que muitas vezes ficam em cartaz durante 20 anos É ponto de referência para 43 teatros que conformam o circuito  Broadway. Depois de longa espera (meses) Berta foi  assistir o espetáculo –  Music Hill e saiu   maravilhado., considerando o conjunto  da obra e o desempenho das bailarinas de elevado padrão, marcado pela excelência dos movimentos sincronizados. Era um notável desempenho de equipe. Um único passo em falso representava o desastre iminente, capaz de por tudo a perder aniquilando o compasso  da apresentação. No texto,  em cima da foto, Berta escreveu ”  Music Hall  Nova York- Exemplo para os tripulantes da Varig – Precisão e Disciplina.

Mesmo nos momentos de excepcional descontração, Berta tinha em mente  a imagem da Varig capaz de colecionar tudo de  bom que seu celebro privilegiado identificava, para usar em favor do seu sonho. Diz a lenda, ter a  mensagem  voado de boca em boca, sendo conferida por muitos, pessoalmente, assimilada com resultados que garantiram para a Varig excelência no atendimento, em performance de grupo que conquistou o mundo.

BERTA E O FRETE BAIXO DOS VOOS CARGUEIROS

BERTA E O FRETE BAIXO DOS VOOS CARGUEIROS

Pioneirismo da Varig – Voando dia e noite – transportando riquezas do Rio Grande para todo o Brasil chegou a ser contestada por concorrência ruinosa.

 

om o programa Frete Baixo, criado por Berta, a indústria gaúcha ganhou ares de modernidade conquistando o pais, e a Varig, voando dia e noite, consolidou sua liderança como transportadora aérea no segmento cargas.

 

Beliscado por Ribeiro Dantas, da Cruzeiro, através de entrevista dada ao jornal  O Globo, Berta respondeu com uma campanha na  imprensa que deu a Varig  liderança no transporte aéreo de cargas. Ele não deixava nada sem resposta – não levava desaforo para casa. Gostava de debater temas polêmicos, sempre que necessário  sair em defesa da Varig, ou de uma ideia brilhante.

Quando examinava os arquivos secretos de Meyer ( liberado pela família) encontrei uma correspondência de Berta endereçada ao diretor geral da aeronáutica civil,  Cezar Grillo comentando declarações prestadas pelo presidente da Cruzeiro, Bento Ribeiro Dantas, ao jornal O Globo tecendo críticas sobre a Varig, Na parte superior do documento datado de 10/06/48 Berta escreveu: ” Ao prezado senhor Meyer para divertir-se um pouco com esse bate- boca. – assinado Ruben Berta. Ele tinha prazer especial em polemizar, especialmente quando o assunto dizia respeito à Varig. ou mesmo sobre a aviação comercial, da qual era considerado um mestre, seja qual fosse a abordagem. Assim, tornaram-se famosos seu debates contra dirigentes das empresas concorrentes sem deixar de estender suas considerações aos maiores  mandatários do país e as autoridades responsáveis pelo sistema aéreo.

 

A reportagem afirmava que a  Varig recebia 4.200 contos e tinha vantagem de 10 centavos ao litro de gasolina sobre as congêneres. que cobrava fretes duvidosos ao Rio Grande do  Sul, porque nele trabalhava sem concorrência. De ambas as circunstâncias tirava partido para deflagrada concorrência ruinosa no trajeto de Rio a Porto Alegre contra suas congêneres. A entrevista, por ninguém provocada fez Berta partir no contra-ataque. Provou, com longa argumentação, que a subvenção que recebia era muito inferior ao necessário, mostrando através de farta documentação, que metade do valor recebido era aplicado na construção e reforma das pistas de pouso,. Só no ano de 47, segundo Berta, os fretes baixos correspondiam simplesmente  a  uma operação de aviões cargueiros em conjunto com um movimento apreciável de cargas representando o resultado de uma conquista, em benefício do nosso movimento interno . Era coisa que a Varig não pretendia abandonar enquanto as circunstâncias o permitissem mesmo cessada a luta das tarifas

 

A Varig não tirou com semelhante política, as cargas das empresas que operavam nessa linha. As estatísticas comprovaram que tais empresas mantiveram seu aproximado volume anterior de encomendas. Abriu, sim, horizontes novos na função de estreitar e simplificar as relações comerciais entre nossos estados sulinos. Quanto aos passageiros. é de se supor que a Varig tendo a intenção da concorrência ruinosa tivesse estendido a sua política baixista aos preços das passagens, que constituem o grosso da receita das nossas empresas de navegação aérea. Como o dr. Bento Ribeiro Dantas não abordava semelhante assunto em suas declarações Berta deu por subtendido que não precisava defender a companhia nessa imputação .sendo prova da inexistência de competição ruinosa apontada contra a Varig.

 

Para concluir, Berta afirmava : ” A Varig não tem o propósito de menosprezar os sacrifícios de suas congêneres ou aumentar-lhes os contratempos. Operando com fretes baixos em carga industrial, o faz pela razão muito simples de que algum dia estes fretes teriam que ser introduzidos como consequência lógica do desenvolvimento da aeronáutica e do ´ mercado.- A Varig esta pronta a concorrer – como sempre tem ocorrido – para apaziguar uma situação pela qual não tem culpa, resguardados os interesse públicos  e o desenvolvimento da aviação aérea em nosso pais.. Pelo bom uso das subvenções tenho  honra de reclamar para a Varig certidão da mais absoluta lisura no manejo destas verbas, como bem sabe o governo que nos toma as contas.