NELSON JUNGBLUT
A “FERA” DOMADA
Os calendários da Varig dos anos 60/70, em especial, levando a assinatura de Nelson Jungblut diretor de artes da companhia, eram aguardados com grande expectativa, pois passaram a ser peças únicas, colecionadas avidamente pelos clientes ansiosos em exibir sua parceria com a Pioneira. Cada ano recebia um tratamento especial, consideradas verdadeiras obras de arte, impressas em silk – scrin, uma técnica inovadora na época, realizada nos estúdios da Propaganda, em Porto Alegre, capaz de usar um número incrível de cores e contrastes. Aparecia num momento em que a Varig tinha sua estratégia de comunicação voltada para a mídia eletrônica, onde o radio e a televisão eram mídias distinguidas com polpudas verbas publicitárias.. O trabalho de Nelson representava um importante reforço institucional de marca, que pela beleza e originalidade era recebida como destaque na imprensa especializada. Conseguir um exemplar do Calendário era proeza que o distinguido exibia como troféu.
Conviver com Nelson seriai meu teste definitivo no novo cargo. Domar a “Fera” como era conhecido, com seus rompantes, aparentava missão difícil de ser cumprida sem evitar atropelos, segundo bilhetinhos de colegas do Rio e São Paulo’ que apareciam na minha mesa. em envelope fechado – desafio que me aguardava com visão nebulosa. Aquela manhã aprazível era prenuncio de mais um dia calmo e produtivo, até que, inesperadamente, transformou-se num ambiente de beligerância. Ele invadiu a sala sem ser anunciado. Aparecia como se tivesse com quatro pedras nas mãos. Entrou de supetão direto sem qualquer saudação.- “O que estas fazendo aí na mesa do Acauan ? Respondi com sarcasmo -“Contando ovelhinhas” Em seguida entrou a Neusa, minha secretária já treinada, com o cafezinho da paz, pondo agua fria na fervura. Então expliquei com calma cada detalhe – O Acauan tinha se aposentado – Eu era jornalista formado pela PUCRS, com bolsa de estudos dada por Berta. Fora transferido para a Propaganda para dar continuidade a edição da Revista Rosa dos Ventos, agora de responsabilidade da Superintendência. Estava no cargo vago, de forma provisória e tinha pouco relacionamento com o Adoniram.Araujo, novo titular do Setor no Rio de Janeiro (egresso da Panair) por indicação do presidente Erik de Carvalho
Acalmada a fera, senti que precisava ainda ser domada. E logo surgiu a oportunidade. Na época Nelson se desdobrava com a sua criatividade. Os calendários da Varig passaram a ser um diferencial de marca. Sempre na busca da perfeição, sugeriu que a impressão fosse feita em serigrafia, técnica pouco conhecida no mercado, com resultados surpreendentes. De pronto aderi à iniciativa, conseguindo espaço e aquisição do material necessário. Por sua vez, por solicitação, admiti seu irmão Nilo Jungblut, para completar a equipe, dado o conhecimento adquirido sobre o assunto (silk – screen). Adoniram ficou de nariz torcido, pois tudo foi feito por minha conta, mas terminou aceitando, dado o sucesso do empreendimento. (acrescente-se ao fato de ficar livre por um tempo da sombra que incomodava)
Os primeiros calendários, ideia de Cristovam Rios então diretor de Propaganda, utilizavam somente fotografias. Eram impressos no Uruguai onde estavam as melhores gráficas. Quando Nelson assumiu o Departamento, ampliou as dimensões dos calendários tornando-os mais vistosos, introduzindo ilustrações seguindo tendência existente nas grandes companhias internacionais de aviação, como Swissair, KLM e Air France. O calendário ganhou 12 estampas e o tamanho de 30 centímetros de altura ampliou para 80, dando ao colorido das pinturas um significado dominante…
Por sua vez os cartazes também seguiram novos conceitos – as fotos, que antes se repetiam como lugar comum, passaram a exibir apurada técnica valorizando figuras típicas de cada região tornando-se únicas, dando lugar a forte presença da marca, isoladamente, tendo o logo da Rosa dos Ventos (criação de Jungbluth) quase invisível no pé da arte, eliminando a presença do Icaro, abdicando, corajosamente, da presença do avião. O conjunto dos detalhes além da beleza, contribuía para realçar uma estratégia de comunicação inovadora, com premiação no Brasil e no Exterior exibida nas vitrines das Lojas de Passagens da Varig no mundo, incluindo Agências de Viagens e Turismo, diversos locais públicos e empresarias, todos ansiosos em mostrar sua parceria com a Varig
No final, formamos em Porto Alegre uma equipe coesa. Pessoalmente, eu dava presença diária na oficina incentivando o trabalho do Nilo, muitas vezes junto com o próprio Nelson, apoio que terminou transformando o limão azedo numa saborosa limonada (caipirinha) sorvida no churrasco em grupo, que marcava a comemoração de cada vitória. Tempos depois, já aposentados, compareci na concorrida seção de autógrafos do belo exemplar que mostrava a exuberância da sua obra e o quanto Nelson era reconhecido pelo seu trabalho Recebi com emoção o autografo – ” Para o Mario, com todo o amor e amizade, de um colega da Varig” – Nelson Jungbluth. Um afetuoso abraço selou a parceria, marcando parte inesquecível da nossa história de vida na Varig.