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Mês: Outubro 2022

A VIAGEM PRECURSORA COM O PRESIDENTE

A VIAGEM PRECURSORA COM O PRESIDENTE


Juscelino encantou-se com a personalidade de Berta, mas o passe não estava à venda

Em 1956, antes da posse de Juscelino Kubitschek antecipando-se a qualquer concorrente, num lance de mestre, Berta convenceu o “staff” do presidente a realizar ao exterior, uma viagem precursora garantindo repercussão mundial,. A Varig  oferecia um dos seus  Super Constellation, “novinho em folha” (e outro em prontidão)  para cumprir um roteiro que se estenderia  num total de 8 países percorridos em 13 dias. O programa incluía  tratamento VIP, com renomado serviço de bordo e poltronas leito. Tudo cortesia Varig – um convite irrecusável.

Berta foi o grande anfitrião da viagem histórica que levou JK ao exterior

Na verdade, este custo, (em dinheiro vivo) como investimento de marketing representava, a grosso modo, um valor considerável, que a Varig  não tinha, Berta no entanto estava disposto a bancar. Considerava  oportunidade única  em privar do convívio do presidente, podendo expressar de viva voz, desejos e angustias que a aviação comercial brasileira estava passando, na esperança de dias melhores. Projetar seu moderno equipamento para o mundo era fantástico, coisa que sua verba de propaganda jamais poderia alcançar.-

A exposição da marca Varig servia como pano de amostra e um desafio para o próprio fabricante – Lockheed Constellation , que acompanhava com vivo interesse a atitude da Varig, Ao mesmo tempo considerando que sua prestigiosa marca estaria passando por um sério teste de popularidade, sendo seu desempenho  analisado com lente de aumento, capaz de interferir  de uma maneiro boa ou não, em futuras negociações. Também, como o programa envolvia uma caravana presidencial, inúmeros fornecedores da Varig  atenderam a solicitação de Berta, Assim, vários itens  foram diluídos, cabendo a Varig o uso da máquina  e sua equipe de bordo, a responsabilidade de  descobri caminhos nunca antes percorridos.

Em Washington as boas vindas do secretário Foster Dulles

A viagem serviu como demonstração de eficiência .Em apena 13 dias o avião da Varig cumpriu sua missão levando o presidente eleito do Brasil sendo aclamado e recebido com honras de estadista, na República  Dominicana (Ciudad Trujilio); Estados Unidos ( Key West/ Washington/New York); Holanda (Amsterdam);  Inglaterra (Londres); Bélgica (Bruxelas/Luxemburgo); França (Paris); Alemanha (DusseldorfI); Itália (Roma). Aproveitando a oportunidade, no mesmo avião que levava a  comitiva, Berta transportou uma missão de técnicos  da empresa para observação e estudos especializados em países europeus. Na Inglaterra,, os técnicos da Varig visitaram a fábrica  De Havilland, construtora dos famosos aviões  Comet. A viagem transcorreu com toda a regularidade possibilitando o perfeito cumprimento dos compromissos do presidente Juscelino. Berta ficou chegado ao presidente sendo seu anfitrião, propiciando um tratamento de bordo impecável, bem como eficiência técnica demonstrada pelos tripulantes.

Em cada país visitado, o presidente era recepcionado no aeroporto com honras militares (Londres e Roma)

Durante esse tempo todo, Berta e Juscelino tiveram oportunidade de abordar vários assuntos de interesse nacional, envolvendo  a inflação, a situação econômica e social do pais, incluindo as dificuldades por que passava  a  aviação  comercial  brasileira. Berta comentou temas amplos Falou sobre riqueza e pobreza, o valor da terra, do  progresso industrial, do combate a  inflação e a busca do mercado estável. Criticou o excesso de impostos pagos, defendeu a abertura de estradas, a criação de veículos de transporte, amplas usinas de energia elétrica, indústrias básicas de aço e  outras –  que o país precisava colocar em sua  base uma agricultura desenvolvida, buscando pagar salários mais altos possíveis, criando mercado e diversificando a produção – O resultado seria introduzir o Brasil num verdadeiro ciclo de riqueza- Na oportunidade, Berta prometeu que daria no governo de JK a primazia da era do jato, consagrando seu plano de modernidade.

O presidente encantou-se com a personalidade de Berta e sua visão de mundo.. Tentou comprar seu passe –  mas ele não estava à venda.

O TRIANGULO MÁGICO E A VARIG

O TRIANGULO MÁGICO E A VARIG

Berta cria o Triangulo Magico e a Varig mostra a cara  para o mundo.

O Voo Triangular ganhou personalidade com a expressão Triangulo Mágico, introduzida por Berta. Representava o significado matemático, onde o desafio é o objetivo a ser cumprido através de um plano de ação. Quanto mais difícil o desafio, maior o esforço para alcança-lo.
Com a criação do Triangulo Mágico bolado por Berta,  nos  anos 60,  o passageiro através do inusitado plano do Voo Triangular, tinha a grande oportunidade de, ao viajar à Europa, ir ou voltar via Estados Unidos pela Varig,  com apenas um módico  acréscimo na tarifa de ida e volta.  Ao  invés de visitar apenas um único continente visitava dois  O passageiro planejava inteiramente na Varig, fazendo o roteiro e as paradas que desejava, escolhendo uma das companhias  com as quais a Varig mantinha trafego mútuo.  A marca Varig passou a se mostrar nos anúncios  conjuntos, veiculados em cada pais – membro, com visibilidade fantástica, (custo zero) numa  jogada típica do gênio criativo de Berta.
Ao invés de visitar um único continente, você visita dois e paga módico acréscimo na tarifa de ida e volta
Nos anos 60, Berta tinha passe livre junto aos presidentes das grandes empresas aéreas filiadas a IATA. Ele tornou-se parte integrante da cúpula da organização. Buscava afanosamente o crescimento. Com o Super Constellation (1955) e em seguida com a chegada do Caravelle, em 1959, a Varig tornou-se pioneira na era do jato na  América Latina, façanha que poucos, até então, tinham alcançado –  tudo chancelado  com a presença do Boeing-707 no ano seguinte, que lhe dava oportunidade para pensar alto. Sua presença nas reuniões da IATA, muitas vezes chamado para compor a mesa diretora, representa credencias de liderança, sempre disposto a distribuir seu saber com colegas de todo mundo da aviação. Sua credibilidade  era cartão de visitas que ultrapassava fronteiras.
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Na ânsia de fazer a Varig tornar-se adulta, ele tinha pressa. Numa das reuniões, da IATA lançou  ideia revolucionária que vinha martelando em sua cabeça.  Reunir as grandes companhias num pool de intenções formando um grupo voltado ao interesse comum na área de ocupação de assentos e transporte de carga, cobrindo um vazio que empacava o ganho. Lançada em plenário, logo teve a adesão de marcas significativas, nascendo um comitê liderado pela Varig, para encontrar um “modus vivendi” , analisando viabilidade e possíveis perdas e ganhos. Os contatos sucederam-se com resultados promissores. A receptividade foi  instantânea por parte das congêneres da América do Norte, Europa e do Oriente Médio, todas também interessadas em penetrar no mercado promissor da América do Sul. Foram fechados acordos bilaterais reforçando a introdução do  “Triangulo Mágico” com voos combinados entre as operadoras estrangeiras e a Varig. A Europa e os Estados Unidos logo aderiram ao programa, sendo acertadas participações de  empresas renomadas, em número de uma dezena. – parceria fundamental para o incremento dos negócios da Varig, com ganhos para o comercio internacional do nosso Pais.
Com o Caravelle e Boeing – 707, nos anos 60, anúncio da Varig mostrava a modernidade da frota alcançando as Três Américas e antecipando estudos do símbolo do que seria Triangulo Mágico, num projeto mundial, colocando a companhia brasileira no rol das grandes congêneres inter
Entre as negociações consideradas mais estratégicas estava o Oriente Médio. Era prioridade  para a VARIG, o que lhe valeu concretizar valioso acordo com a JAPAN  AIR LINES. Juntamente com Maurício Soares  –  representante da Varig nos Estados Unidos e gerente  da filial de Nova York, Berta tratou  numa reunião em Tóquio, do incentivo  de tráfego mútuo entre as duas empresas combinando, igualmente, a propaganda reciproca entre os dois países. O tráfego entre os Estas Unidos e o Japão, também servido por quatro grandes companhias americanas evidenciava a nipônica JAL  como a mais jovem entre todas elas. Um fator importante é que detinha 30% do tráfego aéreo com sete voos semanais entre São Francisco, Honolulu e Tóquio, dando cobertura total aos voos domésticos no Japão.
Mantendo a tradição histórica de parceria com a Varig, a Lufthansa (foto) foi a primeira companhia filiada a IATA que aderiu ao plano do Triângulo Mágico (passagens, carga e correspondência
Já de inicio, várias empresas ligadas a IATA deram adesão ao programa, interessadas no mercado promissor da América do Sul. Assim como a AIR FRANCE (vendendo Rio- Nova York, vice -versa).TWA (com conexão entre Europa e Estados Unidos) KLM (de Nova York até Londres e outras capitais da Europa) ALITÁLIA (com serviços cobrindo Europa, Ásia, África e Estados Unidos, saindo de Roma) IBÉRIA ( chegando a Madrid e as capitais da Europa) entre outras, que tornaram o Triangulo Mágico. uma inovação que consagrou a VARIG
O objetivo do acordo visava, ainda, incentivar o ingresso de imigrantes para o Brasil, que já contavam com mais de 300 mil patrícios radicados em São Paulo. País diminuto contabilizando no fim dos anos 50, cerca de 80 milhões de habitantes, os japoneses sentiam imperiosa necessidade de procurar outras terras e o nosso pais era visto como um verdadeiro paraíso. A campanha promocional elaborada pela VARIG — JAL, marcou época. Foi massiva e criativa abrangendo vários tipos de mídia, consagrando-se pelo comercial da TV, ” – Urashima Taro. A Varig manteve escritório em Tóquio, com excelente desempenho. Tempos depois, com a  conquista de novos espaços a ambição da Varig  chegou a cobiçar a volta ao mundo. Os acordos de trafego mútuo continuaram sob modernas configurações e o Triangulo Mágico passou a ser uma página virada no livro das recordações bem sucedidas, numa somatória de episódios capaz de transformar a modesta Varig em gigante do transporte aéreo, sem nunca perder a essência da personalidade  -Viação Aérea  Rio-Grandense
Entre o Brasil e o Japão a viagem mais cômoda e rápida é via Nova York ( tráfego mútuo)
ERNI SILVEIRA PEIXOTO

ERNI SILVEIRA PEIXOTO

Gênio das telecomunicações da Varig

Apesar de autodidata, Erni Silveira Peixoto era considerado um gênio  pela sua destacada atuação na aviação comercial. tendo recebido  o diploma de técnico em telecomunicações nos Estados Unidos. No Brasil, dedicou sua vida à Varig assumindo postos relevantes. Foi  agraciado com  a medalha Santos Dumont, pelo  reconhecimento de suas atividades e valor em  relação à Aeronáutica do nosso país, fato que lhe causou incontida emoção.. A Câmara Municipal de Porto Alegre, sua cidade natal, o referenciou outorgando-lhe o título de Cidadão  Porto Alegrense, bem  como  a cidade de Gramado -RS, onde tinha seu retiro de férias com a família, sendo um dos propulsores do progresso turístico da região, através da Varig, tornando a cidade serrana no Rio Grande do Sul, referência nacional e exterior nesse importante quesito.

No peito, a medalha Santos Dumont – reconhecimento de uma vida dedicada à aviação brasileira.

Com a presença da esposa dna. Anita e colegas da Varig, (Eng.Arantes, Eng, Engels , Lidio e Mario) – ´Abraço fraterno – testemunhas de um momento histórico que emocionou todos nós.

Ele  tornou-se  engenheiro eletrônico, capaz de projetar e construir, por conta própria, o primeiro aparelho de eletroencefalograma do Rio Grande do Sul, contribuindo ainda com seu talento, para trabalhos pioneiros na aviação comercial brasileira. Tanto Meyer como Berta  o tinham em alta conta pela excelência do seu desempenho Erni Silveira Peixoto ingressou na Varig em 1939 com a incumbência de instalar  as estações de radiotelefonia e radiotelegrafia, além de fotografias e gravações em fita magnética. Antes,  havia sido fornecedor de equipamentos para  a empresa. Trabalhou lado a lado com Ruben Berta, de quem recebeu a elogiosa  referência de “jovem e genial técnico gaúcho”.  Peixoto tinha inúmeras lembranças dos momentos mais significativos da história da Varig, entre os quais marcou sua vivência junto a Ruben Berta, de quem guardava as mais fortes recordações.

Bilhete de Berta, onde o presidente autoriza mais uma “engenhoca” de telecomunicações, demonstrando seus sentimentos quanto a personalidade de Erni Peixoto. Rio, 7/5/ 65 Peixoto – Minha confiança na sua pessoa e capacidade profissional é ilimitada. Entendi bem a parte técnica. Quanto ao remédio de por mais gente, tenho minhas duvidas. Si você me garante que depois sempre saberemos onde anda nossos aviões internacionais, não se interrompendo as comunicações com eles – aprovo” Berta

Segundo Peixoto,  em entrevista que me foi concedida para a revista interna Rosa dos Ventos, Berta se assemelhava a uma “incrível maquina humana” atuando sempre em alta rotação. Chegava até a operar as estações de rádio para saber das reservas de passagens. Aos domingos, ia para o aeroporto.- Morreu trabalhando. Berta respeitava muito os acionistas -.Por isso, exigia de mim que fizesse uma estação de rádio em quatro dias. Foi o brasileiro mais impressionante e patriótico que eu conheci, garantia ele. – Quando dava uma ordem de serviço era para fazer tudo, o mais rápido possível. Essa situação traz a lembrança como se fosse um filme de Carlitos, com imagens em velocidade –  “exigia eficiência e não tolerava atrasos.”  Nos momentos críticos era capaz de tomar decisões imediatas. Certa vez, no aeroporto de Ciudad Trujillo, quando o Caravelle estava aberto à  visitação pública, foram roubados praticamente todos os objetos que os passageiros haviam deixado sobre as poltronas, causando uma situação desagradável, que ele, como sempre, soube contornar. Ressarciu os prejuízos,  agradando a todos, sem que o fato vazasse para a imprensa, relatou Peixoto.

O presidente Erik de Carvalho e Erni Peixoto, diretor regional, foram figuras exponenciais na construção do Museu Varig, em Porto Alegre, nos anos 70

Erni Silveira Peixoto dedicou sua vida à Varig, da qual foi diretor regional e de telecomunicações, trabalhando de1929 até 1980, quando aposentou-se, passando a tomar parte do Conselho de Administração.com destacada atuação nas grandes decisões da empresa, como na escolha do jato DC-10. Esteve sempre ao lado de Berta, por quem nutria sólida amizade. Quando da implantação do Museu Varig, sua participação foi decisiva junto a presidência, viabilizando o projeto histórico com apoio irrestrito de Erik de Carvalho dando-me carta branca no planejamento e execução do layout, configuração do conteúdo e formato de exposição. Partiu de Peixoto, em 1966, a proposta na célebre reunião do Colégio Deliberante da Fundação dos Funcionários, de dar ao presidente recém  falecido,  o nome da entidade, que passou a chamar-se Fundação Ruben Berta, homenagem que levou consigo, enquanto esteve em nosso convívio.

Na Assembleia do Colégio Deliberante, em 66, num pronunciamento histórico, Erni Peixoto teve reconhecida por unanimidade sua menção – surgia a grande homenagem – Fundação Ruben Berta – O nome certo no lugar certo
GUARDA MONTADA NOS ANOS PIONEIROS

GUARDA MONTADA NOS ANOS PIONEIROS

Figura que marcou época na história da Varig

Nos anos 60 enquanto a Varig avançava na modernidade dos jatos, convivia ao mesmo tempo com um contraste que remontava aos tempos do pioneirismo – a manutenção da Guarda Montada, que zelava pela segurança das pistas dos aeroportos garantindo o acesso das aeronaves. As atividades exercidas por esse grupo altamente adestrado na montaria existiram desde o tempo em que a Varig começou a operar com aviões terrestres. Somente em meados de 1958 eles passaram a ter sua função oficializada como tal, nos quadros de funcionários da empresa, justamente na véspera da chegada do Caravelle. Homem de poucas palavras e elevado número de conhecidos, audaz na hora necessária, mas gentil e terno para com. senhoras e crianças, era, juntamente com o representante da Varig, as personalidades mais conhecidas entre àqueles que viajavam para o interior, ainda agreste do estado sul- rio-grandense.

 

A Guarda Montada, como era conhecida, foi de grande valia para o estado do Rio Grande do Sul. Era realizada por homens que montavam seus próprios cavalos, Gaúcho campeiro, habituado com o rigorismo do vento Minuano e experiente nas lidas com os animais aliado ao conhecimento da região, assim era a figura dos primeiros guardas montados. Com a incorporação dos aviões Junker, a Varig iniciou na década de 30 a sua expansão para as principais cidades do estado. Os aeroportos dessas localidades estavam na sua maioria situados próximos às grandes fazendas de criação de gado. Embora houvesse cerca de arame delimitando as pistas a invasão dos animais era rotineira.

Para evitar que esse fato viesse a causar algum acidente sério foram introduzidos vigilantes, cuja função fundamental era cuidar para que nenhum animal invadisse a área da pista e da estação de passageiros. Sempre que necessário usavam da sua habilidade para consertar cercas, servir como ajudante transportando volumes em seu cavalo. – Do avião para o aeroporto Salgado Filho e vice-versa. No balcão era treinado para receber e emitir passagens, encomendas e correspondência Era também um excelente mensageiro, pois conhecia muito bem a região e, com seu cavalo, sempre se antecipava a chegada do automóvel, ou mesmo o substituía nos locais onde os “caminhos de terra batida” tornavam impossível o acesso de um veículo automotor.

 

Os estaleiros da empresa, em Porto Alegre, estavam localizados junto a diversos sítios cuja atividade principal era a produção de leite. Em razão disso, seguidamente, a pista onde os aviões taxiavam ficava invadida por animais de elevado porte (geralmente cavalos e vacas) criando, na maioria das vezes, situação de perigo para a tripulação e passageiros das aeronaves que operavam naquele local. A atitude mais adequada para a empresa foi optar pelo retorno da Guarda Montada. Esta foi constituída sob orientação de Omar Dick e Alberto Graeter Filho. O primeiro era chefe da Portaria e o segundo responsável pelo setor de organização terrestre. A função principal era vigiar as divisas do Estaleiro e das pistas do aeroporto que se localizavam em campo aberto, enquanto a segurança interna era realizada pelos funcionários encarregados das portarias.

A Guarda Montada realizava todos os serviços que um homem do campo ainda hoje faz. Alimentava, curava e limpava seus cavalos, e também, consertava cercas e muros. Para abrigar cavalos e cavalheiros foi construído um galpão, onde depois foi edificado o prédio de telecomunicações. Posteriormente, foi transferido. Para junto a estação de bombeiros, conforme declaração de Waldemar Rubin, responsável pelo grupo da Guarda Montada durante a sua existência. O animal aprendido que não fosse procurado por seus proprietários era encaminhado à Associação Protetora dos Animais, sob a direção de dona Palmira Gobbi. Com o advento do jato foi construído amplo muro de proteção junto a Avenida Sertório. Os animais foram substituídos por uma equipe motorizada. Os cavalarianos, depois de passarem por um período de adaptação, (nem todos) prosseguiram na sua lide diária, agora mais produtiva e menos desgastante. Nesta época o uniforme dos profissionais, ganhou novo estilo com túnica e calça de sargeline azul-marinho, camisa caqui modelo escoteiro, gravata e japona também azul marinho, chapéu cinza e botas pretas. Complementando uma capa da mesma cor da calça. Quando deixei a Varig, esse grupo era apenas uma passagem linda que ficou gravada na história do meu livro, corroída pela ferocidade implacável do tempo.

 

CLAUDIO BARRETO VIANA

CLAUDIO BARRETO VIANA

O “CRAQUE” DA MANUTENÇÃO DA V ARIG

 

Aviação comercial brasileira veste luto

” Vivi na Varig por quase 40 anos, cercado por figuras inesquecíveis, mas poucas tão importantes, para mim, como o estimado  “Craque da Manutenção” – medalha de ouro nas minhas lembranças – a quem rendo aqui as mais sentidas homenagens”

 

Nos anos 60, quando se queria elogiar alguém,  o pessoal dizia- Aquele é “craque”. Eng. Viana, como ficou conhecido, em seguida ganhou a alcunha dos Famosos  –  “Craque da Manutenção.” Na Engenharia deitava cátedra. Representando a Varig nas  reuniões da IATA mostrava seu talento liderando as comissões sendo representante na aquisição e especificação técnica de vários aviões como Super Constellation, Boeing -707 e Convair -990 Coronado. Participou do programa de introdução dos aviões Super Constellation da Varig, tendo estagiado durante meio ano na fábrica da Lockheed em Burbank, California e na Lockheed  Aircraft Service, no aeroporto de Nova York.

Barreto Viana – O sorriso da liderança

Na Varig organizou   o  setor de compras de material, na então principal base da empresa em Porto Alegre. Foi ainda responsável pela manutenção de toda a frota internacional da Varig na capital gaúcha e em todas as bases internacionais da Varig. Como diretor – assistente de manutenção chefiou por diversas vezes a delegação da Varig nas reuniões de serviços e peças dos operadores internacionais de jato, realizadas em Londres, Rio de Janeiro, Roma, Nova York, Bruxelas e Paris, entre outras. Tais grupos decidiam a coparticipação de dezenas de empresas aéreas no uso de peças sobressalentes, valendo centenas de milhões de dólares Logo que assumiu suas funções na Engenharia da Manutenção, Barreto Viana, com nossa ajuda, criou normas específicas para desenvolver sua estratégia. Transferiu para a Engenharia o Controle de Serviços da Manutenção (CSM) que passou a funcionar 24 horas, em turnos de seis horas, feitos de forma revezada. Foi criado um imenso quadro negro, onde foi marcado o prefixo de toda a frota, agora com os três primeiros Super Constellation – PP-VDA, VDB e VDC  ficando exposta toda a vida dos aviões, com plaquetas marcando o voo efetuado, com suas escalas, horário, e aviões com seus serviços técnicos, troca de motores, hélice, revisão geral, voo de experiência e outras informações pertinentes, num amplo panorama . ajudando os Inspetores a tomar decisões, que antes só constavam em livros fechados

 

Sob o comando do engenheiro Viana, o Parque de Manutenção em Porto Alegre estava pronto para receber o Super Constellation

 

Cursando Jornalismo na PUCRS, a troca de horário foi um presente caído do céu. Por concessão dos colegas permaneci com horário fixo ( 06 às 12 horas). o que dava tempo para a Universidade na parte da tarde, e ainda completar estágio obrigatório no jornal até o fim da noite ,com  horas restritas para o sono reparador e estar desperto na madrugada do dia seguinte, rumo ao caminho da Varig ( perto de casa) de bicicleta. Como colaborador fui trabalhar no Diário de Notícias, na São Pedro, quase esquina da Farrapos, pertencente ao grupo dos Diários Associados comandado pelo famoso jornalista Assis Chateaubriand . Era tratado com simpatia e consideração pelo fato de pertencer a Varig, orgulho dos gaúchos por levar em sua sigla o nome do Rio Grande. Eu já fazia uma coluna chamada Torre de Controle, quando fui solicitado pela redação para faze matéria sobre a Semana da Asa. A matéria , versando sobre as instalações técnicas da Varig -“Na aviação comercial gaúchos são reis”,  (primeiro lugar, no Concurso patrocinado pelo V Comar) teve repercussão, inclusive na Varig, com manifestação calorosa de Berta. Em seguida fui chamado pelo engenheiro  Viana, recebendo congratulações pelo conteúdo da matéria,

Apoiado por ele, meu primeiro passo como jornalista na Varig, foi criar o Boletim Informativo de Manutenção. A pauta enfatizava o serviço executado em cada setor técnico, valorizando o desempenho dos seus competentes funcionários. Com a instituição do programa  “Boletim da Premio” foi amenizada situação que se fazia preocupante –  Havia certa resistência do pessoal de pista em consultar o Manual Técnico de fábrica, especialmente do Super Constellation, Em conversa com a diretoria sugeri a possibilidade de organizar um concurso com perguntas e respostas, que obrigava os mecânicos a manusear os catálogos em busca da solução. Entre os acertadores eram distribuídos valiosos brindes da Varig oferecidos pela nossa Propaganda  e sorteadas  duas passagens para Nova York, pelo Super Constellation, com programa turístico e visita às fábricas. retornando 7 dias depois. Foi um sucesso, com os objetivos plenamente alcançados. Graça a visão do Eng. Viana, passamos a editar ainda a  Rosa dos Ventos, uma revista interna que viria a ser a única na Varig, fato que resultou na minha transferência para a Propaganda, como Gerente Regional  de Marketing e Imprensa para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná

Com a morte de Ruben Berta em 1966, Barreto Viana saiu da Varig para fundar a Aeromot Aeronaves e Motores, fabricante do motoplanador Ximango , que tive a oportunidade de criar todo o projeto de marketing nacional e internacional. Foi o primeiro motoplanador fabricado no Brasil, ganhando o nome de “Ximango” resultado de um concurso que teve a participação de mais de duas mil  pessoas, todas,  de alguma forma, engajadas no setor aeronáutico… O ganhador recebeu duas passagens para Paris, entregues no Programa  Atualidades – Domingo, apresentado por Clovis Duarte, na TV Pampa. Equipado com motor dispensando reboque por meios externos, o motoplanador Ximango, da Aeromot é a grande conquista da moderna tecnologia  aeroespacial  brasileira. Usado para reequipar aeroclubes, o Ximango é empregado também em voos de lazer e atividades econômicas. Com a fabricação do Ximango, a Aeromot passou a ser a primeira indústria de motoplanadores do Hemisfério Sul. Em 2007 Viana vendeu a Aeromot para um grupo de Belo Horizonte, que planeja montar uma fábrica no Estado.

Com a Aeromot, Barreto Viana fabricou no Brasil o motoplanador Ximango, de última geração , conquistando o mundo

 

Claudio Barreto Viana nos deixou, definitivamente (8/9/22) aos 90 anos, marcando uma trajetória assinalada pelo desenvolvimento que ajudou  a fazer da Varig uma companhia  singular pelo padrão técnico de manutenção e numa segunda fase dando vazão ao seu lado empreendedor construindo a Aeromot.