ADROALDO MESQUITA DA COSTA – UMA FIGURA LENDÁRIA (Parte 3/3)
A queda de Getúlio Vargas, em 46, representou o fim do regime totalitário do Estado Novo e a busca da democracia de eleições livres. Antes de recolher-se ao exilio voluntário na sua fazenda de Itu, no Rio Grande do Sul,, Getúlio havia criado o PTB, visando, estrategicamente, sua volta ao poder na primeira oportunidade – o que viria a acontecer logo em seguida (1952) Impedido de participar do evento, indicou o Marechal Eurico Gaspar Dutra para concorrer pelo partido, Existia grande afinidade entre ambos. Dutra havia – sido Ministro da Guerra, por nove anos, durante o Estado Novo. Junto, por indicação de Vargas, foi “encaixado” o advogado Adroaldo Mesquita da Costa para ocupar o cargo de Ministro, da Justiça cuja credibilidade e capacidade profissional ultrapassavam fronteiras
Vencedor do pleito travado contra o Brigadeiro Eduardo Gomes,, o Marechal Eurico Gaspar Dutra era considerado, na política, cria de Vargas, de quem fora seu Ministro da Guerra por nove anos, durante o Estado Novo. Junto despontava a figura de Adroaldo Mesquita da Costa, como Ministro da Justiça (1946/1950),figura historicamente ligada a Varig. Foi um período de crescimento do país, apoiado por norte-americanos, que encontraram a companhia gaúcha numa faze de afirmação, com a expansão das linhas e modernização da frota respaldada pela aquisição dos Douglas – DC-3 e Convair C-46 A Varig viveu a implantação da Fundação dos Funcionários, dando a Ruben Berta o comando da empresa como presidente, marcando o início de uma liderança inconteste, numa nova era voltada para a prosperidade.
O ingresso de Erik de Carvalho na Varig aconteceu um ano depois da minha admissão. Enquanto ele fazia dissidência na Panair, Mesquita da Costa ajudava Berta a percorrer os caminhos nebulosos na conquista da congênere – Berta enxergou à luz no fim do túnel e a Varig se deu muito bem com tudo isso Por sua vez, pouca gente sabia de que Adroaldo Mesquita da Costa, vinha a ser tio (por parte de mãe) do futuro presIdente, Costa e Silva, gozando por isso da intimidade das restritas decisões. Era personagem respeitada e historicamente envolvida com a existência da Varig e seus interesses através dos tempos. Dentro do governo militar tinha trânsito livre, deixando as portas abertas para Berta – (sem trocadilhos) Convidado por Castelo Branco assumiu o cargo de Consultor Geral da República, função que exerceu de 1964 ate 1967., acompanhando a polêmica entre Varig x Panair. Berta não tomava qualquer decisão política mais arrojada sem o aval do Consultor da República.
.Mesquita da Costa manteve aproximação com os militares. No governo de Eurico Gaspar Dutra fora chamado para colaborar assumindo o Ministério da Justiça sendo considerado unanimidade por sua sabedoria jurídica .Ele era de família religiosa, praticante respeitado no âmbito da Igreja Católica desde se 1933 , quando defendendo a LEC -Liga Eleitoral Católica .Esse lado do seu perfil foi importante no movimento de 1964 (embrião da revolução), sendo ligação entre o Governo Militar e os membros da Igreja Católica participando da “Marcha pela família com Deus pela liberdade” em manifestação popular que reuniu nas ruas do Rio de Janeiro um milhão de pessoas, contra o governo esquerdista de Jango. Junto ao Governo Federal patrocinava encontros e eventos envolvendo o líder da Varig com a presidência da República; Com Castelo Branco não foi diferente. A aproximação com o presidente era fundamental para os destinos da “Pioneira.”
Sempre que havia encontro com figuras marcantes, presidentes, governadores, políticos, Adroaldo levava Berta e com ele o magnifico CTG Pagos da Saudade, formado por funcionários da Varig, que tinha no início o acompanhamento do folclorista Paixão Cortes Foi o caso da recepção prestada pelo presidente Castelo Branco, tendo como de costume a presença de Adroaldo Mesquita da Costa, intermediando o encontro e repassando ao presidente um mimo oferecido por Berta A escolha da Varig em substituição a Panair foi um jogo político realizado em vários capítulos, e por razões diversas onde a figura de Mesquita da Costa quase sempre se fez presente. Ele não escondia sua admiração por Ruben Berta: “Um verdadeiro patriota. Homem sem ambições maiores, a não ser o fortalecimento da organização que liderava”
Sem a presença de Mesquita da Costa dificilmente a companhia gaúcha, mesmo sendo exemplo de eficiência técnica e qualidade administrativa, não teria alçado voos tão altos, Em fins de 64, a Varig buscou financiamento para adquirir mais alguns aviões intercontinentais capaz de reforçar suja frota visando o aproveitamento para futuros voos na Europa, um sonho idealizado por Berta. O pedido foi negado por um banco norte-americano que comunicou ao governo brasileiro de que a Panair fizera solicitação semelhante para a compra dos DC-8 e até o momento não tinha honrado o compromisso. deixando de pagar as parcelas acordadas no contrato.
Esse fato, a partir de janeiro de 1955, quando o Brigadeiro Eduardo Gomes assumiu o Ministério da Aeronáutica, fez com que o governo viesse a controlar de perto a vida da Panair. Teve então inicio um processo investigativo com os resultados repassados ao presidente Castelo Branco, tal era a gravidade dos fatos. Preocupado com a situação da aviação comercial no pais, Eduardo Gomes reuniu um grupo de militares de alto nível para discutir o assunto e achar solução compatível com o grau de dificuldade que o assunto exigia. Um dia depois, segundo relato que me fez Harry Schuetz, foi solicitada a presença de Berta e do presidente Ribeiro |Dantas, da Cruzeiro, para uma reunião cercada do maior sigilo O encontro realizado no Ministério da Aeronáutica foi coordenado por Eduardo Gomes, tendo participado ainda um grupo de militares altamente credenciado. Ficou claro, após uma exposição de motivos, que a situação da Panair era insustentável e seriam tomadas medidas drásticas, coisa recebida sem contestação pelos presentes. O assunto foi imediatamente levado ao conhecimento do presidente Castelo Branco, confirmando a decisão do seu colega de farda, sem restrições. Segundo palavras textuais do brigadeiro, a não aceitação da proposta pela Varig de assumir as linhas da Panair, representava a implantação da Aerobras, coisa que aterrorizava Berta.
Na saída, o presidente da Varig trazia no rosto a surpresa da decisão favorável que lhe concedia a concessão tão sonhada e a reponsabilidade de ser a única empresa de bandeira da aviação comercia brasileira, detalhe que alterava seus planos. A tarefa exigia de Berta algo acima do imponderável – esperava dividir os encargos entre duas empresas de bandeira ( com a própria Panair) Agora, teria que absorver uma congênere esfacelada, com dividas impagáveis e administrar um grupo de milhares de colaboradores, preocupando a sua inclusão nos conceitos da Fundação dos Funcionários, numa integração conturbada de administrar. Era um doce abacaxi a ser saboreado mordendo a casca, sem quebrar os dentes.
A morte prematura de Berta, foi um golpe que a Varig custou a digerir. Mais uma vez a figura do anjo salvador apareceu como balança equilibrando a dor da perda irreparável, No féretro, colocando palavras sabias de acalento, deu mensagem de esperança e resignação :- A beira do tumulo foram prestadas significativas homenagens- Na derradeira saudação, Adroaldo Mesquita da Costa, Consultor Geral da República e um dos fundadores da Varig, finalizou com uma frase lapidar – “Berta foi um homem genial que enobreceu a raça humana.”
Na Assembleia do Colégio Deliberante, logo após o falecimento de Berta, (dezembro de 66) coube ao dr.Adroaldo a leitura da mensagem deixada por Berta, como que antevendo uma despedida, pregando união entre o grupo declarando que seu sucessor, Erik de Carvalho, estava pronto para assumir os destinos da Varig. A passagem do bastão, como não poderia deixar de acontecer, coube mais uma vez a Adroaldo Mesquita da Costa, figura certa que sempre norteou a Varig nos momentos cruciais da empresa, seja de imensa alegria ou profunda tristeza.