ADROALDO MESQUITA DA COSTA

ADROALDO MESQUITA DA COSTA

UMA FIGURA LENDÁRIA

Do pioneirismo aos anos dourados da Varig (Parte 1/3)

Em função da minha atuação como jornalista na Varig tive a honra de  usufruir do convívio com o dr. Adroaldo Mesquita da Costa, figura influente  e decisiva na história da Varig. Quando iniciei a editar o Boletim do Museu Varig, logo em seu segundo número, em 1979, fiz uma entrevista que ficou gravada nos anais do pioneirismo da aviação brasileira. Nasceu daí um relacionamento que me deu subsídios para entender e conhecer em detalhes o que foi  a empresa que ele ajudou a  fundar, juntamente com Otto Ernest Meyer, criando, como advogado, os Estatutos da Varig, que nortearam a constituição definitiva da companhia, em 1927. Depois, “com o andar da carruagem” como ele afirmava, considerado os desdobramentos que deram o comando a Ruben  Berta e Erik de Carvalho, manteve – se sempre ligado à Varig, até sua morte, na véspera de completar um século de vida (1885/1985)

No pioneirismo, ajudando Meyer a construir o sonho de criar a Varig

Eu já o conhecia antes, mas não tão de perto, e já admirava sua postura e facilidade de comunicação. O dr. Adroaldo, (como todos nós, respeitosamente, o chamávamos), era uma pessoa fascinante. Dominava a oratória de uma forma mágica. Iniciava seu discurso falando calma e pausadamente. A medida que avançava no desdobramento do assunto suas frases tornavam-se repletas de posturas retóricas e o tom aumentava progressivamente, contagiando a todos. O silêncio era absoluto e no final os aplausos brotavam tomando conta da plateia.

Sempre que havia na Varig um evento com a presença de autoridades convidadas, o dr. Adroaldo era escalado para falar, dividindo o palanque com Berta. Na verdade, além do presidente, a Varig, não tinha nem um dos seus diretores com aptidão para discursar em público, situação provavelmente, originária da castração do próprio comando da empresa. Era certamente uma figura carimbada do meu álbum de atrações, já contemplado para entrevista no segundo número do Boletim do Museu. Nesse primeiro encontro ele atendeu o convite e solicitou que o fosse visita-lo  em sua residência. Então, me contou coisas espetaculares, que para meu gáudio  logo repassei ao meu público alvo.

Nos Anos Dourados, com Berta, – baluarte das grandes conquistas

” Em 1927 eu morava na rua da Ponte, número 1228, numa casa alugada em que pagava trezentos réis.-  num belo dia me aparece o sr. Otto Meyer. do qual eu havia sido advogado um pouco antes para fazer um contrato entre ele e seu primo. O negócio referia-se  ao escritório de representações que ambos abriram nos altos do Mercado Público. Nesta ocasião ele me falou objetivamente: “Olha. dr. Adroaldo, eu pretendo fundar uma empresa de aviação aérea aqui no Brasil. Fui piloto aviador na Alemanha e lutei na guerra até fins de 1918”. O Meyer contou sua história de como veio para o Brasil e como amava esta terra. Falou-me, detalhadamente, como queria formar a empresa aérea. Consultou-me , então, sobre a legislação vigente na época. A lei brasileira sobre o assunto havia sido feita há três anos antes, e eu, naturalmente, estava em jejum na legislação, porque a Varig foi a primeira empresa aérea criada no Brasil. A conversa prosseguia. Ele então me disse que pretendia colocar, primeiramente, uma linha de Porto Alegre a Pelotas e Rio Grande. O capital seria de 1000 contos de reis, divididos em ações de 200 réis cada uma.

No Museu Varig, o templo da história, a amizade entre nós ganhou força

Na oportunidade, Meyer me contou que havia recebido um grande incentivo do major Alberto Bins, prestigiado político na época. e Arthur Bromberg  entusiastas da aviação,  reuniram o capital de 1000 contos de réis. entre a colônia alemã e italiana do Estado. Com esse capital comprou-se dois hidroaviões  – O  Atlântico e o Gaúcho. Prosseguindo a nossa historia – “neste tempo, em 1927, o Carlos Maria Bins havia se formado e veio trabalhar comigo. Eu e ele concluímos os primeiros estatutos da Companhia  em pouco tempo. Várias reuniões preliminares eram realizadas nos escritórios da Casa Bromberg e feita a Assembleia Geral á 7 de maio de 1927, fundou-se oficialmente a Viação Aérea Rio Grandense. “Eu não era nada da empresa, apenas um advogado iniciante”

A constituição definitiva da Varig, expressa nos seus Estatutos, passou pelo talento do jovem advogado

Comments are closed.