1957 – ANO EMBLEMÁTICO PARA VARIG (2/2)
O homem de visão de 1957 – Ruben Berta
Nas comemorações dos 30 anos da Varig vivíamos todos, momentos de euforia e credibilidade no futuro da organização. Para aumentar o clima de satisfação recebemos com orgulho a notícia da indicação de Ruben Berta como “Homem de Visão” – promoção da revista VISÃO, honraria que teve repercussão nacional e no exterior, elevando ainda mais o ânimo do grupo. O almoço para entrega do “Bandeirante’ do HOMEM DE VISÃO a Ruben Berta, teve repercussão que superou toda a expectativa, sendo matéria divulgada na mídia impressa. estações de rádio, televisões e pelo cinema noticioso, no Brasil e exterior
Berta não aceitava ser o único responsável pelo sucesso da Varig. Sempre soube distribuir com seus colaboradores cada triunfo conquistado. E firmava: ” O homem que trabalha têm direitos impostergáveis de participar de riqueza que cria e ninguém pode entregar-lhe a parte que lhe toca como se fosse migalha ou favor.”. E não eram palavras ocas.. Todos sentíamos a expressão da verdade através do retorno recebido, seja pela Varig, seja pela Fundação dos Funcionários, sempre generoso e oportuno. O discurso de Berta contemplou temas polêmicos, envolvendo a situação política do país e os ligados diretamente à aviação, foram tratados com competência. Em seu pronunciamento Berta citou ainda as dificuldades que a sociedade enfrentava, denunciando a inflação que assolava o país e como combatê-la, fazendo uso da autoridade revestida da moralidade necessária para exercer o poder, sem percalços, da crença do trabalho como obrigação social
Pregou a revolução das camadas dirigentes – “antes que as circunstâncias nos façam perder o comando e a desilusão das massas faça transbordar o caldeirão de baixo para cima, Berta garantiu que o aumento dos salários sem o aumento correspondente da produção. Resulta em aumento de preços e não na melhora do bem-estar dos trabalhadores, e afirmou: ” A única maneira de garantir empregos consiste em garantir clientes, pois se não existirem fregueses não poderá existir uma folha de pagamento nem emprego. O Brasil precisa integrar-se nas realidades do mundo e abrir suas portas a imigração em larga escala. Parece-nos melhor admitirmos o estrangeiro como sócio do que tê-lo como credor. Precisamos industrializar – nos, precisamos de crédito, de produzir e exportar. ´ É necessário aumentar nossas escolas profissionalizantes: “A mão de obra especializada fica cada vez mais escassa’.
Falando sobre a aviação comercial no Brasil, Berta disse : “Na trilha da utilidade do avião em nosso pais, extensão a percorrer – o transporte aéreo precisa ser posto ao alcance das classes menos favorecidas, O avião DC-3 ainda não se pode aposentar totalmente apesar de somente dar prejuízo sua operação. Teria de deixar sem trabalho numerosas comunidades, por deficiência de serviço.. Nossas linhas internacionais precisam receber aviões a jato, por penoso que seja o ônus que esta operação obriga aos nossos recursos de divisas. As linhas internacionais não são apenas grandes agentes de propaganda do Brasil no exterior, mas também janelas pelas quais tomamos contato com as realidades e soluções do mundo e dele façamos a fazer parte. Se nossas concessionárias não receberem aviões a jato em 1960. melhor seria fechar-lhes desde já as portas. No âmbito da organização das empresas devemos, penso, marchar para os consórcios. Não convém .termos um grande número de companhias. A viação moderna custa demais e muitas empresa não podem pulverizar custos de manutenção e facilidades operativas resultando num transporte caro e inseguro. Nunca deveremos ter menos do que três empresas ou consórcios, capazes de operar livremente em território nacional
ASSEMBLÉIA DOS 30 ANOS – Em 1957. quando a Varig completava 30 anos, foi realizada a 13º Assembleia do Colégio Deliberante, em Porto Alegre, com a presença maciça dos seus membros, totalizando cerca de 1.700 votos (cada ano de serviço representava um voto). Eu tinha apenas três anos de Varig e assisti ao evento me valendo das credenciais de escriba do Boletim da Fundação. Entrei de boca aberta, olhos esbugalhados com o esplendor que tomava conta dos meus sentidos. Naquele dia. nasceu a oportunidade de viver momentos históricos e conhecer de perto todo o cerimonial que aquele conjunto de pessoas extraordinárias representava.
Berta transformava cada reunião do Colégio Deliberante em evento para história da empresa. .Realizadas no salão nobre da Fundação eram precedidas de planejamento estratégico envolvendo diretores da Varig e os vários departamentos responsáveis pela apresentação Esta, em especial, por ser festiva, tinha o acompanhamento do presidente nos mínimos detalhes, não admitindo falhas. Ele fazia o possível para ver todos felizes e orgulhosos por pertencer ao seleto grupo. Uma das ações mais importantes que dava significado a reunião do final do ano, marcava a escolha da lista de postulantes à vaga no Colégio. O sistema passava por um enorme crivo, que ia desde o chefe de seção, diretor, até chegar ao presidente e daí ao sufrágio dos membros em reunião.
O pessoal da Propaganda tinha a missão de preparar todo o planejamento de marketing, incluindo decoração do salão, com projeção de slides, filmes, anúncios. lançamento de campanhas e a preparação de painéis que Berta usava para sua prestação de contas e os gráficos que valorizavam sua palestra, sempre aguardada com muita expectativa Mostrava os negócios sobre o exercício do ano findo, a relação das comissões como caixa de empréstimo,, suprimentos, aposentadoria e pensões, auxílios médicos, comissão social e o Retiro de Ponta Grossa. No final analisava um apanhado sobre os assuntos relevantes que envolviam as atividades da Varig Mesmo apresentando um quadro nebuloso sobre a aviação comercial no Brasil, ele oferecia um retrato da Varig. onde o trabalho e a determinação eram peças fundamentais para o sucesso da organização.
Em 1972, com Erik de Carvalho, no advento do Museu Varig, fui eleito como ,membro do Colégio Deliberante, por onde permaneci por 20 anos, até minha aposentadora. Acolhido por expressiva votação (unanimidade) ocupei diversos cargos de confiança distribuídos aos membros do Colégio. Eram comissões responsáveis por ações específicas exercidas pela Fundação em beneficio dos associados. Mesmo sendo uma atividade extra, não remunerada, pela deferência da escolha entre pares tão ilustres, deixava a todos gratificados e honrados, fazendo com que houvesse grande empenho na realização das tarefas,
O TRIUNFADOR – Berta gostava de reconhecer o trabalho dos seus colaboradores, mas n]ao se sentia a vontade quando era ele o homenageado Ao completar 30 anos de serviço prestados a Varig não escapou da badalação
Quando Berta completou 30 anos de serviços prestados à Varig, em 1957, circulou entre os funcionários, a ideia de realizar uma grande festa em sua homenagem. A notícia vazou e chegou ao seu conhecimento; Sem vacilar ele abortou qualquer iniciativa deste gênero A solução encontrada foi fazer uma visita de surpresa a sua residência. onde ele e dona Wilma receberam um grupo de diretores. Representando todos os colegas da Varig Rudi Schaly usou da palavra, fazendo entrega de uma placa com gravação em ouro, com os seguintes dizeres –
A RUBEN BERTA, NO ENSEJO DOS SEUS 30 ANOS DE INCANSÁVEL DEDICAÇÃO À EMPRESA. – HOMENAGEM DOS FUNCIONÁRIOS DA VARIG
* Outra demonstração de carinho foi prestada pelo Conselho Fiscal representado por Otto Ernest Meyer, Fernando Osório e Carlos Maria Bins
O ABRAÇO DE JK – Em 1957, a visita do presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, ao nosso Parque de Manutenção, em Porto Alegre, fechou com chave de ouro as muitas comemorações da empresa nos seus 30 anos de vida, A importância da Varig e o carisma de Berta ao comandar tão importante evento causou em todos nós uma incontida sensação de orgulho em fazer parte desta grande família. Trazia a certeza que estava acontecendo algo muito especial. Essa visita serviu também para sacramentar um grande acordo de participação entre o governo e a Varig. Juscelino estava autorizando a compra do Caravelle e do Boeing 707 concedendo à empresa gaúcha o pioneirismo do jato da aviação comercial brasileira.