COM O JATO, CONSTELLATION VIRA SUCATA
Declaração bombástica de Berta
COM O JATO, CONSTELLATION VIRA SUCATA
Em entrevista exclusiva para João Martins, da revista O Cruzeiro, realizada a bordo de um protótipo do Boeing – 707, aparelho encomendado pela Varig. Berta fala sobre o futuro da aviação comercial com a chegada dos jatos – anuncia o fim dos aviões a pistão e teme a sombra da Aerobras.
Aviação brasileira se renova ou não poderá manter a posição que hoje desfruta – afirmava Berta. E acrescentava – No Brasil e em todo o mundo as maiores empresas de aviação estão iniciando a corrida para os aviões a jato:. ” Dentro de poucos meses os grandes quadrimotores a hélice passarão a serem usados apenas nas linhas domésticas e não está longe em que tudo será apenas uma lembrança do passado.
Tal declaração de Berta, feita em 21 de junho de 1958, demonstra o desespero na aquisição do Super Constellation, encomendado de fábrica para cobrir a linha de Nova York em 1955. Na verdade, a Varig não possuía avião qualificado para fazer esse voo, cuja concessão já tinha sido perdida pela Cruzeiro pelo mesmo motivo. Berta viajou para a Inglaterra atrás do COMET, ainda em testes, apresentando vários problemas técnicos. Pelas circunstâncias ficou com o Constellation, já sabendo que em breve o moderno quadrimotor a hélice seria apenas uma sucata. Mesmo assim, investiu muito no avião. Gastou uma fortuna modificando cabines e preparando pessoal para voo e manutenção. Considerava um investimento de risco, pois não podia perder a oportunidade de qualificar o nome da empresa com um trabalho diferenciado.
Na ânsia de ser pioneiro do jato e cumprindo promessa feita a Juscelino, realizou em 1959, a aquisição do Caravelle, jato da Sud Aviation, outra compra duvidosa – não dispunha de autonomia para voos mais longos e em seguida foi dispensado. Berta tinha interesse no Boeing-707 jato que achava perfeito para rota internacional entregue pela fábrica somente em 1960. Na matéria da revista Berta garantia – “O progresso da aviação esta se processando numa escala geométrica. Os voos supersônicos para passageiros já estão em estudos. Estes dias que estamos vivendo são início de uma nova era para a aviação comercial.
Ainda, segundo Berta: “metade da frota da aviação comercial brasileira da época era composta de aparelhos DC-3, antiquados e antieconômicos – ou a aviação brasileira se renova ou não poderia manter a posição que ainda hoje desfruta. E afirmava -” Os aviões a jato, no entanto vão representar problemas econômicos novos A solução, na palavra de Berta, seria distribuir entre as várias companhias os serviços comuns a fim de pulverizar custos, concentrando capital para enfrentar o alto custo dos aviões – um Boeing 707,em 1960, tinha o custo de cinco milhões de dólares, além dos equipamentos para mantê-lo em serviço. Como premissa básica seria necessário reduzir a competição entre as empresas. Defendia ele a tese de que a aviação deveria se sedimentar em torno de três ou quatro consórcios de companhias, cada um bastante grande para atingir o objetivo visado dentro de uma competição controlada. Caso as empresas não chegassem a um acordo caberia ao governo intervir nas concessões para provocá-lo, como nos Estados Unidos, quando o governo ordena a fusão da companhia, atendendo interesse público..
Berta, garantia que o governo deveria prever uma revisão tarifária que permitisse às companhias operar livremente as linhas O grande pavor de Berta com tudo isso era a possibilidade de toda esta mudança vir a prosperar, ou seja – uma companhia única, controlada pelo governo. E finalizava – “isso me dá arrepios ao lembrar que as nossas companhias governamentais marítimas e férreas dão um déficit anual de 25 bilhões de cruzeiros e estão no estado que todos nós conhecemos.
Em 1960 quando estiver decolando dos aeroportos com nossa bandeira, o Boeing 707 será o avião mais testado, portanto o mais seguro de todos os jatos comerciais – contanto que não tenhamos , então a Aerobras, finaliza o homem forte da Varig.