Estritamente Confidencial
PUXÃO DE ORELHA NA ORELHA ERRADA
O fato incrível de nunca ter sido mencionada a verdadeira razão das novas admissões ( por ele mesmo autorizadas) feitas dentro de um plano estratégico para atender a demanda dos três modernos “Super Constellation,” preocupou o grupo. Serviu para demonstrar o “stress” vivido pelo presidente, no conturbado episódio quando até a vinda das modernas máquinas chegou a ser questionada.
Um alerta de Berta – “A Varig não é uma artificialidade econômica. Não vai soçobrar neste processo se todos tiverem a cabeça no lugar “.
Na véspera da expansão internacional, Berta dá um alerta sobre os problemas do setor, numa carta estritamente confidencial endereçada aos seus diretores. Ele sempre falava em prejuízo da Varig e das dificuldades vividas pela economia do país, que representavam uma situação nebulosa para a indústria. aeronáutica. No entanto. apesar dos maus presságios, continuava adquirindo novos equipamentos. Modernizar a frota era uma forma de investimento que ele considerava essencial para a sobrevivência e o crescimento da companhia. Mesmo sem ter dinheiro vivo Berta usava o bom comportamento da empresa no pagamento dos compromissos assumidos, tendo como aval os bens próprios. Assim, eram negociados polpudos empréstimos junto a banqueiros de Nova York e Tóquio, com contratos facilitados pelos fabricantes.
Na verdade Berta pouco lidava com capital da empresa. Ele se preocupava em manter as subvenções dentro dos padrões estabelecidos, reduzindo gastos e aplicando os bons resultados na qualidade dos seus técnicos e na excelência da sua infraestrutura operacional.
Com a morte de Vargas, em 54, o Brasil passou a viver momentos de crise, causando a queda repentina de preços, suspensão de pagamentos, falta de trabalho e capital. A Varig que se encontrava às vésperas da tão sonhada expansão internacional necessitava se organizar urgentemente. Era uma exceção no caos que o país vivia. E Berta sabia muito bem de todos os riscos que corria. No dia 02 de dezembro de 54, quando se preparava para fazer o relatório final que seria apresentado na reunião do Colégio Deliberante da Fundação, antecipou-se, enviando uma carta “Estritamente Confidencia” aos seus diretores. Em vez de mandar uma mensagem de otimismo, como era de se esperar, preferiu a verdade contundente, levantando dúvidas e incertezas sobre a conjuntura da economia brasileira, comentando a situação da Varig neste contexto.
O documento sigiloso fazia parte dos arquivos secretos de Meyer, postos a minha disposição quando da elaboração do livro- Berta os anos dourados da Varig. Nele, Berta aponta as razões do aumento de funcionários, quando todos encolhiam. Falava das medidas corretivas em função da pasmaria das negociações, rumo à crise que se avizinhava, garantindo que a expansão interna fora excessiva nos seus últimos doze meses ( justamente à época que fui admitido na Varig – ou seja, ingressei na empresa por um aborto) Pedia a maior eficiência interna dos serviços, que não aumentaram ultimamente, exceto na manipulação de carga. E reclamava – ” Em lugar de introduzirmos novos métodos de trabalho o que fazemos foi simplesmente aumentar o número de funcionários, muitas vezes mais do que a realidade normal.
O que todos precisam compreender é que governar e dirigir a Varig torna-se cada vez mais um problema de proficiência econômica, o que é um encargo direto da presidência. mas deve ser auxiliado por todos os chefes de serviço, sob pena de graves contratempos. A diretoria é nesse ponto, um conjunto de pessoas atuar no mesmo sentido. Fiel ao pensamento expresso no organograma da companhia de que o melhor governo é sempre àquele em que se centraliza o planejamento das coisas, mas descentraliza a sua atuação. Temos dado a maior autonomia aos nossos departamentos e instituindo na Varig o governo colegiado. Berta aproveitou para tocar num assunto fundamental dentro da sua concepção de liderança e domínio da situação – coisa que ele nunca abriu mão -“A possibilidade de decidir em grupo, com liberdade de expressão obriga todos a pensar no problema conjunto da companhia e não somente no seu departamento.. A alternativa é a ditadura, que todos , em tese , detestamos,” decretava o presidente.
No documento Berta ainda garantia – “Nosso equilíbrio não depende, evidentemente, apenas no corte de despesas, mas também no aumento de receita, que se desenvolvia agora de um modo promissor através dos Correios, que nos cabe por lei. A carga está em grave crise trabalhando à menos da metade. ´E importante a receita das passagens que deve melhorar para o fim do ano. No final, ensinava:-” Governo não dá indícios de modificar sua política econômica e financeira, o que não é um bom indicativo. A Varig não é uma artificialidade econômica, Não vai soçobrar nesse processo se todos tiverem a cabeça no lugar