BERTA X LINEU – DUELO DE GIGANTES (2/3)
Berta bebeu a agua da fonte deixando Lineu de garganta seca
Novamente, na ânsia de derrubar Berta, Lineu Gomes assumia a dianteira na grande corrida na primazia da era do jato no Brasil e botava o ovo antes da galinha. Mesmo sabendo não ter as mínimas condições de cumprir os contratos acertou a aquisição de quatro Convair – 880, convertidos para três CV – 990, buscando dar uma falsa satisfação as autoridades e a sociedade brasileira, calcada nos seus 12 milhões de passageiros transportados. Validava, ainda, a compra de três Lockeed Electra II oriundos da American Airlines, (que depois Bordini foi buscar para a Varig, apesar dos esforços de Berta para cancelar o negócio). No início, mesmo rejeitados por Berta que lutava por um padronização na frota, ambas aeronaves tiveram papel relevante como peças notórias no crescimento da Pioneira.
Seguindo o mesmo objetivo, enquanto Lineu tagarelava sem consistência, Berta foi direto a fonte, pois sabia que nada aconteceria sem o aval do futuro governo brasileiro. Convidou e levou JK numa viagem precursora com o Super Constellation recém chegado, em 1955, contatando com os grandes líderes da América do Norte e Europa. Das viagens feitas em companhia de Berta, nasceu um sonho ainda maior – implantar durante o seu mandato a era do jato no Brasil, colocando o país numa posição estratégica. Berta lançou a proposta e garantiu sua possibilidade – tudo era uma simples questão de tempo, que significava o ganho de mais uma valiosa marca para o governo e a garantia do pioneirismo, bandeira que a Varig fazia tremular deste a sua criação.
O crescimento meteórico da Real Aerovias foi destruído graças a uma infraestrutura corrompida. Lineu Gomes criara uma empresa do nada em 1945. Comprou os DC-3 a troco de banana, com pouca infraestrutura e menos gastos do que a concorrência. Detonou a guerra das Tarif as e mais tarde a dos Horários, e a Guerra das Letras, num confronto direto com Berta. Segundo registro da imprensa da época, a Real era a mais indisciplinada empresa aérea, explorando seus pilotos, exigindo uma estressante atuação. As máquinas tinham pouca manutenção. Os acidentes foram inúmeros, sendo seu presidente responsável por muitos deles, sem nunca sofrer punição. Em 1960, véspera do seu fim melancólico, mesmo sentido o azedume da falência, Lineu acreditava reverter a situação. Premido pelas circunstâncias, na espera dos jatos encomendados que não chegavam, dando incríveis mostras insensatez, inaugurou a rota do Pacífico, chegando a Tóquio (com meia dúzia de passageiros), passando por Los Angeles na grande travessia Oceânica, sem ter aeronave capaz de fazer o longo trajeto com a eficiência da concorrência, redundando num gigantesco fracasso.
De uma companhia modelo a Real passou a ser um arremedo, mostrando toda a sua fragilidade. Em um pequeno espaço de tempo, um ano antes do fim, o saldo macabro era de 180 mortos em inúmeros acidentes. Enquanto canibalizava aviões nos hangares por falta de peças de reposição e inexistência de credito, a Real fazia anúncios enganosos, disponibilizando na chamada – 300 motores de reserva, argumentando justamente o contrário da realidade. Era uma tática suicida, quando o quadro de acidentes se tornava avassalador e destruía junto a imagem da empresa considerada por muitos, até então, como modelar. Para enfrentar a Varig, como se estivesse em grande forma, anunciava em plenos pulmões um Plano Especial de Crédito, com desconto de 25% por passagem para Chicago (para seus negócios) e Miami (para suas férias). Em 1960, quando completava seu 14º aniversário, todas as comemorações foram canceladas. Não havia mais nada para festejar – apenas lágrimas de dor e um futuro que se apresentava nebuloso. Pouco tempo depois a Real fechava as portas tendo suas ações transferidas para a Varig. Um anúncio conjunto dava o ponto final ao grande duelo. Pouco tempo depois a companhia fechava as portas, tendo suas ações transferidas para a Varig.
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