Os irmãos Bromberg e a criação da Varig (2)
GRÊMIO ERA PAIXÃO – VARIG A MODERNIDADE QUE CHEGAVA
Varig era o símbolo do progresso batendo à porta
O Rio Grande deve muito ao seu crescimento, graças a energia e espírito empreendedor dos irmãos Arthur e Waldemar Bromberg (Otto Meyer). Na criação do Grêmio e da Varig, duas potências da nossa história, eles foram protagonistas, assumindo posição de liderança com participação decisiva, capaz de transformar audaciosos projetos, alcançando o apogeu dos triunfadores. Assim, foi com o Grêmio, campeão do mundo. Assim, foi com a Varig, conquistando o mundo. Certamente, sem o poio recebido na era do pioneirismo, a Varig seria apenas uma ideia afogada nas águas do Guaíba.
Mas, afinal, quem foram estas figura notáveis que dirigiram uma das mais poderosas firmas do pais, que ao completar 50 anos pudesse festejar o galardão de a melhor do Brasil ? O destino de vencedores perseguia os irmãos Arthur e Waldemar Bromberg. Quando Meyer lançou no Rio Grande a ideia de fundar uma empresa aérea, a recepção não foi das melhores. Muita gente duvidava que a iniciativa fosse adiante. Tudo não passava de um embuste, tramado por um alemãozinho sem eira nem beira, recém chegado de Berlim, que se preparava para dar o golpe do baú, namorando (e depois casando), com a bonita e charmosa viúva Olga Mostardeiro Gertum, de 35 anos, da alta sociedade local, contando com oposição paterna. Contrariando as previsões, depois de uma série de reportagens feitas por Archimedes Fortini, do Correio do Povo, o assunto Varig começou a ser discutido e ganhou relevância entre os que não acreditavam e os que viam na novidade uma oportunidade de crescimento do estado como um todo.
APÓS 800 VISITAS E 40 CONFERÊNCIAS NASCEU A AVIAÇÃO COMERCIAL
Entre os otimistas, encontravam-se dois irmãos sempre atentos as oportunidades de modernização dos negócios. A convicção de Meyer na nova empreitada, seus argumentos convincentes mostrando o sucesso dos voos na Europa, desmistificava posições contrárias. Com elevado conceito na sociedade local como empreendedores, os irmãos Bromberg tinham fama de vencedores e elevada credibilidade como investidores, o que lhes davam forte poder de convencimento. Juntando-se a figura impoluta do Major Alberto Bins, Arthur e Waldemar foram companheiros incansáveis na missão de convencer compradores para adquirirem ações postas à disposição, que não prometiam nada, apenas um ato de patriotismo contando com um futuro incerto.
Segundo Meyer declarou no Boletim do Museu, os irmãos, juntamente com Alberto Bins, foram os verdadeiros responsáveis pelo sucesso da empreitada. Faziam o primeiro contato, usando o vasto conhecimento que tinham em toda região, abrindo as portas para que Meyer pudesse qualificar o histórico empreendimento. Ao todo, segundo Meyer, foram cerca de 800 contatos e 40 conferências realizadas por ele, estas últimas contando com a presença do influente Major Alberto Bins e dos irmãos líderes da conceituada Casa Bromber & Cia.
Em novembro de 1926, acompanhado pelo Major Alberto Bins e animado pelo prestígio deste, Meyer subiu ao Palácio da Praça da Matriz, para explanar ao dr. Borges de Medeiros, presidente do Estado, ideia de uma companhia comercial aérea genuinamente gaúcha. Consegue aprovação unânime do Projeto Lei, isentando a futura empresa de impostos estaduais por 15 anos, benefício estendido a outras companhias deste porte que venham a se estabelecer no Rio Grande. Em seguida foi a Alemanha. Levava uma relação de 10 nomes, entre eles Alberto Bins , Arthur e Wldemar Bromberg . Em Berlim acertou com a Luft Hansa, através da subsidiária Kondor Syndicat, um fretamento regular sobre a Lagoa do Patos, por três meses, tendo como objetivo provar ao público, investidores e governo brasileiro a viabilidade do projeto. Ficou o compromisso de Meyer comprar um Dornier Wall usado, batizado de Atlântico. Em 2 de fevereiro de 1927, o hidroavião Atlântico realiza o primeiro voo experimental. Neste mesmo dia do primeiro voo, Otto Meyer emprega seu primeiro auxiliar, o jovem Ruben Martin Berta.
A presença do hidroavião com sua qualificada tripulação, deu a Meyer um novo alento. Trata de reunir seguidores e protetores para fundar a Varig. Lança-se à luta, agora bem mais fácil para legalizar seu sonho, torna-lo realidade. No dia 1º de abril realiza-se na casa Bromberg, no centro de Porto Alegre, onde a Associação Comercial de Porto Alegre era sediada, a primeira reunião para tratar da fundação da Empresa de Viação Aérea Rio Grandense, sendo composta uma chapa para eleição do futuro Conselho Fiscal. Major Alberto Bins e Arthur Bromberg, como era de se esperar, compõem a lista, além de outros nomes tradicionais da capital e interior do estado, numa nomeada de 10 incorporadores da nova companhia aérea e oito suplentes.
LUFTHANSA ESCOLHE BROMBERG COMO REPRESENTANTE OFICIAL
Durante a troca de correspondência sobre o assunto, Meyer recebeu oficio da Luft Hansa, versando sobre o projeto de tráfego aéreo para o Brasil, esclarecendo detalhes da parceria. A ideia da nova empresa atingia um mercado promissor e ainda virgem, capaz de concretizar o incremento na região dos seus produtos e serviços. A empresa alemã não se fez de rogada e deu palpites na elaboração do conteúdo que considerava prioritário, como o do nome (que deveria seguir a linha da SCADTA): na construção da logomarca – corruptela do símbolo alemão, (daí surgindo o Biguá), nunca usado nos “hidros” apenas na papelaria administrativa e elaboração dos documentos da aquisição das cinco mil “Acções” de 200 mil reis cada uma, impressas na Livraria do Globo.
No decorrer da missiva, a Luft Hansa faz declaração vinculada ao desenvolvimento da negociação: “Consideramos importante a presença de no mínimo um representante alemão capaz de contribuir ativamente na construção da empresa, já que estimamos uma boa receptividade e completa confiança na aplicação do capital pelas partes interessadas. Assim, como explicamos pessoalmente, consideramos, também, que os senhores Bromberg & Cia de Porto Alegre, possam ser os representantes do grupo fundador alemão, presumindo que estes senhores estejam aptos a assumirem o mandato de constituição (anexando procuração provisória) Era um voto de confiança aos indicados, pelo apoio irrestrito dado ao projeto de Otto Meyer
Em 11 de janeiro de 1927, Meyer voltou de Hamburgo trazendo documentos que confirmavam a imediata disponibilidade do comandante Rudolf Krammer Von Clausbruch, (Luft Hansa): do mecânico de bordo e segundo piloto, Franz Nuelle (Scadta) e do engenheiro Aviador Max Sauer (Condor Syndicat) para o quanto antes iniciarem o serviço regular entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Loqo que cheguei em Porto Alegre, contou ele, recebi com satisfação a gentileza da Casa Bromberg & Cia que colocou a minha disposição o escritório do seu chefe e grande filantropo, Arthur Bromberg, então com 93 anos, dando com toda a sua organização incondicional apoio. A casa Bromberg vendia passagens aéreas para o Kondor Syndikat, fora do estado, como antecessora da Varig.
Muitos dos encontros de negócios e até políticos eram realizados na chácara de veraneio da família, na zona sul da cidade, local que Meyer e Bins frequentavam com assiduidade para confraternizar e colocar em dia as vitórias na adesão ao sonho que os unia – dar ao Rio Grande e ao Brasil a primazia do transporte aéreo.
A Bromberg & Cia, por sua vez, confirmando a sua pujança, ao completar 50 anos de existência (1863/ 1913) já fazia jus ao galardão de maior importadora e exportadora do Brasil.
One thought on “Os irmãos Bromberg e a criação da Varig (2)”
Muito bom o artigo , e completamente original . A conjunção de esforços da sociedade da época , aliada com a enorme coordenação necessária entre ações dos dois lados do Atlântico , é um “case” de sucesso!