SIGILO CONSTRANGEDOR
O PRIMEIRO PRESIDENTE DA VARIG NÃO FOI MEYER NEM FOI BERTA
TODOS OS RELEASES DIVULGADOS OMITIRAM ESSE FATO HISTÓRICO
O escolhido veio a morrer quinze dias após a eleição em desastre aéreo, deixando o cargo vago até 1945, quando foi criada a Fundação dos Funcionários da Varig.
No início dos anos 40, em plena grande guerra, a Varig viveu momentos de grande tensão, culminando com a morte trágica de seu primeiro presidente, apenas 15 dias depois da posse. Era um cargo que não existia na companhia, sendo necessário uma alteração nos estatutos.
COMO TUDO ACONTECEU
Em 1941, com o processo da guerra em andamento, resultando no enfrentamento direto com os alemães, inicia-se no país um movimento articulado por grupos interessados em se apossar da Varig, à semelhança do que acontecera com o Condor Syndicato. Antevendo o perigo Cordeiro de Farias engendrou um golpe político. Buscando a alteração dos estatutos, criou o cargo de diretor- presidente. Através de uma Assembleia Geral, onde tinha 41% dos votos, indicou e elegeu seu chefe de gabinete, Erico de Assis Brasil, como primeiro presidente da Varig, extinguindo o cargo de diretor-delegado, fiscal do governo (que Érico ocupava). Era o começo da manobra para estatizar a companhia. Por isso Berta sempre temeu a criação da AEROBRAS, um movimento dos aeroviários buscando transferir a aviação no Brasil, para a esfera governamental acabando com as empresas aéreas privadas no país, o que nunca se concretizou.
Na verdade, Érico vinha realizando na VAE (Varig Aéreo Esporte) um trabalho de preparação, participando ativamente do desenvolvimento da Escola e mostrando muito empenho no seu êxito, acumulando o trabalho de fiscalização, o que já lhe conferia certa autoridade. Quando o seu nome foi apresentado para o novo cargo teve aceitação unanime. Por sua vez, Berta cumprindo com eficiência sua missão executiva era outro nome respeitado. A Assembleia que procurava mudar os destinos da Varig foi um evento que durou apenas uma hora e vinte minutos, coisa inusitada para regular uma alteração tão significativa, não deixando clima para alterações nem discursos. A posse foi imediata e ninguém fez uso da palavra. A impressão que ficara foi de que quanto mais rápido o processo melhor seria. A nova diretoria foi eleita por um período de três anos, estando o mandato para em encerrar em 28 de outubro de 1945, coisa que veio a acontecer somente em parte devido o falecimento de Erico, 15 dias após a posse.
O TRÁGICO ACIDENTE
A saída de Meyer deixou um vácuo político difícil de ser preenchido. Tudo o que Berta concretizou em tão pouco tempo não era suficiente para cobrir a lacuna deixada pela ausência do grande fundador da companhia. O Governo passou a exigir um nome com peso político e credibilidade capaz de fortalecer o andamento dos negócios. A criação do cargo de presidente foi a solução encontrada capaz de encaixar no perfil do chefe de gabinete do interventor. Na verdade Erico vinha participando ativamente do desenvolvimento da Escola, mostrando muito empenho no seu êxito, acumulando o trabalho de fiscalização do governo, (que detinha significativo número de ações da empresa) o que lhe conferia certa autoridade. Quando o seu nome foi apresentado para o novo cargo teve aceitação geral. Por sua vez, Berta cumprindo com eficiência sua missão executiva, era outro nome respeitado. A Assembleia que procurava mudar os destinos da Varig foi um evento que durou apenas uma hora e vinte minutos, coisa inusitada para regular uma alteração tão significativa, não deixando clima para discussões nem discursos. A posse foi imediata e ninguém fez uso da palavra. A impressão que ficou foi de que quanto mais rápido o processo melhor seria.
Quis o destino que alguns dias depois da posse o presidente eleito viesse a falecer (02/11/42) vítima de um lamentável acidente aéreo com avião de treinamento da VAE. Naquele dia um outro planador de treinamento da VAE, sob o comando de Lili de Souza Pinto pousou num descampado (hoje cidade de Gravataí) em situação de emergência. Erico, que estava no acampamento, requisitou um avião da VAE disponível (Klemm KL25 TDN) e sob seu comando decolou para socorrer o acidentado, levando junto o aluno Rony Moraes Azevedo. Ao fazer o voo de reconhecimento, em baixa altitude, o avião veio a chocar-se com fio de alta tensão. O contato provocou uma descarga que vitimou Assis Brasil. Ele foi socorrido por Souza Pinto, mas não resistiu. Rony Azevedo, que mais tarde viria a casar-se com Ivone, uma das filhas de Berta, sobreviveu sem maiores ferimentos graças a um pneu de borracha que levava junto ao seu corpo para manutenção.
A morte do malogrado presidente passou quase despercebida pela mídia, porque a maioria desconhecia o fato de tratar-se do então presidente da Varig, coisa que a empresa se achou no direito de não divulgar, por uma questão estratégica, quase que ignorando os tramites da eleição.
No convite de enterro a Varig e a VAE se solidarizam com a perda do “dedicado companheiro” e convidam seus amigos e colegas para assistirem os atos de encomendação e sepultamento, sem jamais citar o fato que estavam enterrando o primeiro presidente da Varig.
Conforme Dinis Campos em entrevista que me concedeu para o Boletim do Museu Varig,( quando tomei conhecimento do assunto) Erico foi uma figura singular, contribuindo muito para o êxito da nossa aviação desportiva. O pessoal da Varig perdeu um amigo sincero e dedicado cujo entusiasmo não media esforços para fazer progredir os serviços da companhia. Aluno brevetado da 2ª turma de 1939, foi instrutor da VAE e finalmente, Presidente da Varig por pouco tempo.
Através dos novos estatutos, o diretor-presidente seria substituído em seus impedimentos pelo diretor- gerente. E foi isso que aconteceu durante os três anos de mandato previstos, sem que nenhuma nova eleição fosse realizada, preservando-se assim a memória do presidente eleito. Nesse período. Berta preparou todo o processo para manter-se à frente da Varig. Preocupado com a possibilidade de intervenção criou o plano da Fundação dos Funcionários, repartindo com os colegas o poder da decisão, blindando a empresa de qualquer intervenção política. Berta fixado no mais alto cargo e Meyer (este, eminência parda oficialmente fora da companhia) viveram atormentados nesse período, seja pelo conflito mundial, seja pela possibilidade de perderem para terceiros o controle da companhia. Obcecados pelo sonho de vê-la próspera e reconhecida no âmbito aeronáutico, dedicaram suas vidas para atingir seus objetivos, finalmente alcançados em 1945, com a criação da Fundação dos Funcionários da Varig e o reconhecimento do mundo.
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