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Mês: Agosto 2021

BERTA, GETÚLIO E CHATEAUBRIAND (Parte 1)

BERTA, GETÚLIO E CHATEAUBRIAND (Parte 1)

UM TRIO DE OURO QUE JOGAVA COM AS MESMAS CARTAS

Um trio de ouro que se entendia muito bem, nem sempre. Em 1932 Getúlio Vargas tirou a Varig do sufoco ordenando que Flores da Cunha cumprisse a promessa feita de ajudar a empresa gaúcha em retribuição ao apoio de Meyer e Berta na Revolução Liberal. No mesmo ano garantiu a Chatô a compra da revista Cruzeiro (bem assim sem a letra O, que somente mais tarde foi incluída) Getúlio conseguiu empréstimo de 500 contos (no grito) ao Banco da Província do Rio grande do Sul.

O presidente quando precisava comprar aliança não media esforços e fazia tudo acontecer com dinheiro alheio sem se comprometer. Foi uma dívida que Getúlio soube cobrar e Chateaubriand levando anos pagando, mesmo tendo se rebelado no meio do caminho. Como político calejado Getúlio sempre soube lidar muito bem com a imprensa e tirar dela os melhores resultados, até o momento que teve de enfrentar a fúria de Carlos Lacerda

Foi assim seu comportamento com os Diários Associados e com a Ultima Hora de Samuel Wainer. Era ardiloso, estrategista, capaz de manipular pessoas, entidades partidos e correligionários, sem causar conflitos aparentes, buscando alianças quando não podia vencer o inimigo.

Espertamente, Berta sempre ficou na sombra de Vargas, acompanhando taticamente, todos os seus movimentos. Da mesma forma sempre deu grande atenção aos Diários Associados, repassando mídias vultosas em troca de apoio explícito. A Varig, sob o comando de Berta, nunca foi hostilizada pelas Associadas. Muito pelo contrário ganhava generosas matérias e farto noticiário favorável. Por sua vez, Chatô aprendeu cedo a se aproximar dos governantes. Ajudava a eleger presidentes, indicava embaixadores, inclusive a si próprio (para a Inglaterra), fazendo cumprir uma promessa de Juscelino, caso fosse eleito. Da mesma forma Berta foi sempre ligado ao poder, sem dele participar. Conquistando pela sua competência e lisura, a admiração de todos. Nada em benefício pessoal era pleiteado por Berta. Ao contrário recusava ofertas importantes feitas por vários presidentes para dirigir Ministérios públicos, desde a época de Vargas. Todos ficavam encantados com a sua personalidade dominante, o vasto conhecimento dos problemas nacionais e das estratégias para combatê-los.

A amizade com Getúlio nasceu na Revolução de 30 e se estendeu enquanto Getúlio viveu. Foi parceiro na volta de Getúlio em 51. Teve comportamento decisivo no episódio da Legalidade, em 61, colocando toda a infraestrutura da Varig à disposição de Brizola e Jango, herdeiros políticos do “velho”. Fazendo a empresa correr sérios riscos de sobrevivência Berta mostrou aí toda lealdade e determinação de princípios, fatores que moldavam o seu caráter. Muitas vezes posições drásticas eram tomadas ao arrepio do colegiado da Fundação e dos seus colaboradores mais diretos que acreditavam piamente nas suas decisões mesmo que mais polêmicas. Tinha forte personalidade. Comandava como um ditador sem se achar um deles. Travestido de socialista distribuía a riqueza entre seus colaboradores e juntava muitos favores para manter sempre acesa a lealdade de todos. Por influência de Meyer, Berta   aprendeu bem cedo a se aproximar do centro das grandes decisões. Fez isso com qualidade e eficiência, sem nunca perder a decência. Foi a característica da sua formação Luterana. Tudo o que pensava e fazia era em nome dos seus funcionários, aos quais dedicava especial atenção. Esse fato irritava seus adversários que não encontravam um motivo forte para minar a sua conduta – ponto fraco que quase todos carregavam

Com outros critérios e atitudes, Chatô não ficava atrás. Era, no entanto, contundente, imprevisível e escandalosamente perdulário. Segundo a definição dos seus mais sagazes inimigos. Para eles Chatô usava a força dos seus jornais para intimidar e conseguir de qualquer forma atingir seus objetivos sem medir consequências.

Ele tinha o poder de amedrontar, agredir com sua máquina mortífera – seus veículos de comunicação – que usava sem escrúpulos. Engolia o prato cheio, mesmo que a comida estivesse fervendo. Berta, quase sempre, ia devorando pelas bordas e terminava comendo tudo sem queimar a língua. As Associadas nunca fizeram qualquer tipo de ameaça ou agressão contra a Varig e seu líder.

O ENCONTRO

Fui admitido na Varig em julho de 1954. Um mês depois aconteceu o suicídio de Getúlio Vargas, deixando todos perplexos, inclusive o pessoal da Varig, que tinha nele um parceiro fiel. Três anos depois recebi bolsa de estudos dada por Berta para cursar a Faculdade de Jornalismo da PUC_RS. Dentro do currículo estava a necessidade de estágio em jornal. Por indicação de um professor consegui vaga no Diário de Notícias, com redação e impressão na av. São Pedro, próximo a Farrapos. Convivi com Chateaubriand e depois com Samuel Wainer, na Última Hora. Figura com relevância na história destes três personagens, assunto para ser abordado na próxima sexta-feira.

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MULHERES A BORDO

MULHERES A BORDO

A coragem das mulheres e os olhos azuis do comandante alemão

Enquanto os homens discutiam sobre a segurança do voo, a mulher gaúcha assumia posição de vanguarda mostrando destemor que constrangia o lado masculino. Meyer soube transformar o detalhe num ganho estratégico quando o ato de voar era considerado uma aventura sendo questionada a segurança dos aviões, a mulher teve papel preponderante apoiando com destemor a iniciativa da Varig, desmontando mitos e receios, batendo de frente com o machismo do gaúcho. A decidida presença do público feminino nos voos pioneiros, desde o hidroavião aos terrestres foi argumento usado por Meyer para enfrentar àqueles que consideravam o ato de voar eminente tragédia.

A adesão das mulheres da alta sociedade transformando cada chegada e cada saída num clima de festa e descontração representava fator decisivo para afastar o medo de voar, deixando os que criticavam o projeto numa situação constrangedora

Já por ocasião da Revolução Liberal, nos anos 30, a elegância  e coragem da mulher gaúcha se fazia presente através de Darcy Sarmanho Vargas, esposa de Getúlio Vargas e da senhora  Iracema Neves da Fontoura, esposa de João Neves da Fontoura, embarcando no Atlântico rumo ao Rio de Janeiro para participarem de evento político naquela capital, Em 1927, antecedendo o primeiro voo com o Atlântico havia uma relutância geral sobre a utilização do hidroavião, não só pelo inusitado, como pelo temor de acidente fatal. Corriam boatos pela cidade, muitos deles espalhados pela concorrência que via no uso do avião um obstáculo difícil de ser superado.

Meyer, usando de estratégia, convidou um grupo formado por senhoras e senhoritas da alta sociedade local, liderado por Maria Echenique, para a realização de um voo panorâmico pelos céus de Porto Alegre, elas lotaram o hidro felizes com a oportunidade de realizarem um voo histórico, deixando o público masculino sem poder de reação. O voo realizado pelo comandante Von Clausbruch foi excepcional, deixando encantadas as passageiras. O piloto alemão era considerado uma figura carismática, pela perícia, educação, porte físico e juventude, causando suspiros apaixonados nas mocinhas casadouras, nascendo daí, provavelmente, a súbita coragem de enfrentar o desconhecido.

Em agradecimento, depois do pouso a tripulação foi homenageada com uma linda corbeille de flores naturais entrelaçadas por fitas com as cores do Brasil e da Alemanha. Junto as moças entregaram para a tripulação um cartão com a assinatura de todas elas, formulando votos para a fundação da VARIG e pronta regulamentação dos seus serviços. A mulher gaúcha se fez presente, através de Maria Echenique também no dia seguinte (3/2;27) por ocasião de passagens pagas no Atlântico rumo a Rio Grande. Na oportunidade foi portadora de mensagem do dr. Octavio Rocha, Intendente municipal, aos intendentes das cidades de Pelotas e Rio Grande, respectivamente, João Moreira e Augusto Simões Lopes.

 

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GUERRA “DAVID X GOLIAS” NA CONQUISTA DE NOVA YORK

GUERRA “DAVID X GOLIAS” NA CONQUISTA DE NOVA YORK

FINAL INCRÍVEL SURPREENDEU O MUNDO DA AVIAÇÃO

Meu primeiro dia no emprego (40 anos de fidelidade) jamais esquecerei. Aconteceu numa manhã fria e chuvosa em pleno inverno ide 1954. Apesar do mau tempo, foi paixão a primeira vista. A VARIG (Viação Aérea Rio Grandense) tivera um inicio conturbado. Em 53 recebera do presidente Getúlio Vargas, concessão para explorar linha internacional de longo porte para Nova York. Era uma oportunidade incrível que não podia ser desperdiçada. Para tanto a Varig preparava-se com afinco. Criara uma Diretoria de Ensino prevendo o crescimento da aviação comercial no pós-guerra. Junto organizou a EVAER (Escola Varig de Aeronáutica)  para formar pilotos brasileiros e a ESVAR (Escola Senai Varig) para credenciar supervisores como engenheiros de bordo.

Conquistar Nova York seria uma façanha, considerando a inexperiência da pequena companhia aérea gaúcha no enfrentamento ante a gigantesca Pan American Airways (PANAM) uma das maiores do mundo.

Fui trabalhar no Controle de Serviços de Manutenção (CSM) setor ligado a Engenharia de Bordo, junto aos mecânicos da pista. A nossa responsabilidade consistia em escalar a aeronave disponível para voo, sendo considerada uma série de fatores como horas vencidas para substituição  de motores, hélices e demais componentes. O livro de bordo revelava possíveis reclamações da tripulação, repassadas aos mecânicos de pista.

USANDO AS PRÓPRIAS ARMAS DO INIMIGO DAVID VENCEU GOLIAS 

Ruben Berta, então presidente da Varig desde 1945, quando da existência da  Fundação dos Funcionários, era responsável pela missão de modernizar a frota da empresa. A Cruzeiro do Sul fora descredenciada pelo mesmo motivo. Ele  tinha certeza que o futuro da aviação estava no jato. E foi buscar o De Havilland Comet que ainda não estava disponível, passando por uma série de testes antes de ser  liberado para voo. Mas era impossível esperar. Acabou trazendo o Super Constellation da Lockheed

Chegada da primeiro Super G. Constellation PP-VDA
Aterrissagem em Porto Alegre do primeiro voo (operacional) dos Estados Unidos ao Brasil

Ainda na mesma década (1959) Berta realizou seu antigo sonho fazendo a Varig pioneira da era do jato no Brasil, com a aquisição do Caravelle, bi-reator francês da Sud Aviation. Mas o golpe de misericórdia na PANAM foi dado no ano seguinte com um notável jato de selo norte-americano, o Boeing 707, voando non-stop para Nova York, enquanto a concorrente, com o mesmo avião era obrigada a fazer uma desagradável escala em Lima, no Peru. A diferença estava nos motores. Berta preferiu as turbinas Rolls Royce, de fabricação inglesa, enquanto a PANAM ficava com o Pratt & Whitney,- uma questão de patriotismo que lhe valeu a perda do  protagonismo.

A Varig, anos depois, viria a tornar-se a mais importante companhia aérea da América Latina e a principal empresa aérea privada de aviação no mundo conquistando  a liderança pela excelência dos seus serviços.

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PERÓN CAIU COMO UM PATINHO

PERÓN CAIU COMO UM PATINHO

Jogada ardilosa de Berta, transformou um surrado C-46 de dois motores em quatro, com ruído de jato, ludibriando o todo poderoso General  Juan Domingo Perón, liberando Ezeiza para a Varig.

General Juan Domingo Perón

Quando entrei na Varig em 54, todo mundo ria atoa. No ano anterior, Berta havia passado um espetacular “cachorro” no presidente argentino transformando um desacreditado avião bimotor em um moderno jato.

O herói era meu chefe, um francês histórico da aviação, companheiro de  Jean Mermoz e Saint-Exupéry, capaz de descobrir o defeito de um motor apenas pelo barulho

Junto com a equipe de técnicos Beaumel conseguiu resolver o problema  com incrível competência, transformando o pesado  Curtis C-46 de dois motores, num possante quadrimotor, anexando embaixo de cada asa um turbo – reator, que ele descobriu na França, capaz de servir como fonte auxiliar de potência. Na verdade o Turbo-meca-palace trazia vantagem relativa.  Apenas causava boa impressão. Fazia um forte ruído mas a potência era pequena, produzindo apenas efeito moral. Os dois motores apresentavam 2000 HP de potencia cada, enquanto o turbo-meca apenas 100 HP de potência cada.

Antes de voar para a Argentina, Berta fez um série de demonstrações para brasileiros e uruguaios buscando testar o seu blefe, passando com distinção.  Todos ficaram impressionados com a velocidade do avião e pelo ruído estridente, semelhando ao jato, ainda pouco conhecido. Sempre que um C-46 chegava em um aeroporto importante, iniciando a rolagem na pista, eram cortados os dois motores. No embalo ficavam apena as duas turbinas ligadas produzindo ruído ensurdecedor, que encantavam os “ratos” de aeroporto

O Curtis C-46 veio com fama de “tijolo voador”, mas depois de passar por uma completa revisão nas oficinas da empresa , transformou-se num rentável componente fazendo a função dupla de transportar passageiros de dia e carga de madrugada, com excelente desempenho Eles foram substituídos  com a chegada do Super Constellation que assumiu o voo para Nova York partindo de Buenos Aires, dando a impressão para muitos  estrangeiros, que Buenos Aires era a capital do Brasil.

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