BERTA, GETÚLIO E CHATEAUBRIAND (Parte 1)
UM TRIO DE OURO QUE JOGAVA COM AS MESMAS CARTAS
Um trio de ouro que se entendia muito bem, nem sempre. Em 1932 Getúlio Vargas tirou a Varig do sufoco ordenando que Flores da Cunha cumprisse a promessa feita de ajudar a empresa gaúcha em retribuição ao apoio de Meyer e Berta na Revolução Liberal. No mesmo ano garantiu a Chatô a compra da revista Cruzeiro (bem assim sem a letra O, que somente mais tarde foi incluída) Getúlio conseguiu empréstimo de 500 contos (no grito) ao Banco da Província do Rio grande do Sul.
O presidente quando precisava comprar aliança não media esforços e fazia tudo acontecer com dinheiro alheio sem se comprometer. Foi uma dívida que Getúlio soube cobrar e Chateaubriand levando anos pagando, mesmo tendo se rebelado no meio do caminho. Como político calejado Getúlio sempre soube lidar muito bem com a imprensa e tirar dela os melhores resultados, até o momento que teve de enfrentar a fúria de Carlos Lacerda
Foi assim seu comportamento com os Diários Associados e com a Ultima Hora de Samuel Wainer. Era ardiloso, estrategista, capaz de manipular pessoas, entidades partidos e correligionários, sem causar conflitos aparentes, buscando alianças quando não podia vencer o inimigo.
Espertamente, Berta sempre ficou na sombra de Vargas, acompanhando taticamente, todos os seus movimentos. Da mesma forma sempre deu grande atenção aos Diários Associados, repassando mídias vultosas em troca de apoio explícito. A Varig, sob o comando de Berta, nunca foi hostilizada pelas Associadas. Muito pelo contrário ganhava generosas matérias e farto noticiário favorável. Por sua vez, Chatô aprendeu cedo a se aproximar dos governantes. Ajudava a eleger presidentes, indicava embaixadores, inclusive a si próprio (para a Inglaterra), fazendo cumprir uma promessa de Juscelino, caso fosse eleito. Da mesma forma Berta foi sempre ligado ao poder, sem dele participar. Conquistando pela sua competência e lisura, a admiração de todos. Nada em benefício pessoal era pleiteado por Berta. Ao contrário recusava ofertas importantes feitas por vários presidentes para dirigir Ministérios públicos, desde a época de Vargas. Todos ficavam encantados com a sua personalidade dominante, o vasto conhecimento dos problemas nacionais e das estratégias para combatê-los.
A amizade com Getúlio nasceu na Revolução de 30 e se estendeu enquanto Getúlio viveu. Foi parceiro na volta de Getúlio em 51. Teve comportamento decisivo no episódio da Legalidade, em 61, colocando toda a infraestrutura da Varig à disposição de Brizola e Jango, herdeiros políticos do “velho”. Fazendo a empresa correr sérios riscos de sobrevivência Berta mostrou aí toda lealdade e determinação de princípios, fatores que moldavam o seu caráter. Muitas vezes posições drásticas eram tomadas ao arrepio do colegiado da Fundação e dos seus colaboradores mais diretos que acreditavam piamente nas suas decisões mesmo que mais polêmicas. Tinha forte personalidade. Comandava como um ditador sem se achar um deles. Travestido de socialista distribuía a riqueza entre seus colaboradores e juntava muitos favores para manter sempre acesa a lealdade de todos. Por influência de Meyer, Berta aprendeu bem cedo a se aproximar do centro das grandes decisões. Fez isso com qualidade e eficiência, sem nunca perder a decência. Foi a característica da sua formação Luterana. Tudo o que pensava e fazia era em nome dos seus funcionários, aos quais dedicava especial atenção. Esse fato irritava seus adversários que não encontravam um motivo forte para minar a sua conduta – ponto fraco que quase todos carregavam
Com outros critérios e atitudes, Chatô não ficava atrás. Era, no entanto, contundente, imprevisível e escandalosamente perdulário. Segundo a definição dos seus mais sagazes inimigos. Para eles Chatô usava a força dos seus jornais para intimidar e conseguir de qualquer forma atingir seus objetivos sem medir consequências.
Ele tinha o poder de amedrontar, agredir com sua máquina mortífera – seus veículos de comunicação – que usava sem escrúpulos. Engolia o prato cheio, mesmo que a comida estivesse fervendo. Berta, quase sempre, ia devorando pelas bordas e terminava comendo tudo sem queimar a língua. As Associadas nunca fizeram qualquer tipo de ameaça ou agressão contra a Varig e seu líder.
O ENCONTRO
Fui admitido na Varig em julho de 1954. Um mês depois aconteceu o suicídio de Getúlio Vargas, deixando todos perplexos, inclusive o pessoal da Varig, que tinha nele um parceiro fiel. Três anos depois recebi bolsa de estudos dada por Berta para cursar a Faculdade de Jornalismo da PUC_RS. Dentro do currículo estava a necessidade de estágio em jornal. Por indicação de um professor consegui vaga no Diário de Notícias, com redação e impressão na av. São Pedro, próximo a Farrapos. Convivi com Chateaubriand e depois com Samuel Wainer, na Última Hora. Figura com relevância na história destes três personagens, assunto para ser abordado na próxima sexta-feira.
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